Serão 12 dias para completar 4.800 km, atravessando os Estados Unidos de ponta a ponta. Este é o desafio da brasileira Dani Genovesi, a primeira ciclista do país a tentar a sorte na duríssima Race Across America, que terá início esta terça-feira. Partindo da Costa Oeste, em Oceanside, na Califórnia, a competidora tentará chegar à cidade de Annapolis, na Costa Leste.
Mas o que motiva uma mulher de 41 anos, mãe de três jovens a tentar a sorte em uma das provas de resistência mais duras do mundo? Com certeza não são os US$ 2 mil dólares dados à campeã da categoria solo. "É aquela coisa de superar seus limites", explica a carioca. "Eu sei qual é o meu limite atual e minha vontade é chegar a um limite ainda não alcançado."
A história de Dani e o esporte é de longa data. Formada em Educação Física, ela competiu no atletismo quando era garota, a partir dos 16 anos. Depois, teve sucesso no bodyboard antes de partir para uma década dedicada ao jiu-jitsu. Como professora, as aulas de
spinning influenciaram para que ela se dividisse entre o mundo do ciclismo, no qual já completa uma década, e o trabalho como
personal trainer.
Para que pudesse entrar na Race Across America, Dani teve de provar sua resistência no Desafio 24h de Fortaleza. Com a vitória, pôde se inscrever. Mas não sem apoio. Com o patrocínio de uma empresa de cimento, teve condições de montar sua vasta equipe. Serão nove pessoas acompanhando a ciclista, entre motoristas, navegadores, fisiologista e até um professor de yoga.
As funções de motorista e navegador são das mais importantes. Eles recebem o guia para direcionar a ciclista, já que uma decisão errada no trajeto pode comprometer o tempo de prova. Mas, como a equipe é pequena, as funções funcionam com revezamento: um motorista pode ser navegador, um médico pode dirigir e assim por diante.
FAMÍLIA PARTICIPA DA EQUIPE |
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Aos 41 anos e mãe de três filhos, Dani terá o apoio de duas pessoas de sua família durante a prova. Sua filha e o marido estão na equipe que acompanha a ciclista durante toda a prova. A filha, de 16 anos, tem uma das missões mais importantes, cuidando de toda a alimentação da mãe durante os 4.800 km.
"A Julia faz parte da equipe e nas 24h de Fortaleza, ficou o tempo inteiro do lado da pista. A função dela é fundamental, porque tenho toda uma dieta montada pelo médico e ela fica responsável por separar e preparar tudo", explica Dani. Já o marido ajudará na parte de navegação.
Apesar do apoio a família também torce um pouco o nariz. "Meus filhos me apoiam. Na verdade, todos me acham meio louca, mas sempre me dão apoio", garante ela. |
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Entre as nove pessoas, divididas em dois carros, seis trabalham com a ciclista, enquanto três descansam. Um dos carros é na verdade um "motorhome", uma espécie de trailer com cama, banheiro e cozinha. Como não há etapas, é importante dirigir o máximo possível. Então, caso não ache um motel pelo caminho, Dani descansa no próprio carro, nas quatro horas em que não está sobre a bicicleta.
Um dos aspectos mais importantes e que também ficam a cargo da equipe da atleta é a alimentação. Como o gasto de energia é enorme, Dani tem de ingerir até oito mil calorias por dia. "É uma alimentação especial para eu ter o máximo de calorias possível, mas de forma otimizada, sem perder tempo", explica ela. "Como alimentos em forma de gel e de pós, e uma ou duas vezes por dia paro para comer algo como uma macarronada com frango."
Esforço físico e mental Para Dani Genovesi, a prova em 70% é decidida pelo psicológico dos atletas. Tanto que, para garantir este aspecto, ela conseguiu levar seu professor de yoga para acompanhar o desafio. "Ele funciona como o meu terapeuta e cuida da minha musculatura. E, quando posso descansar, ele entra com técnicas que me acelerem o relaxamento, induzindo a um descanso melhor", conta a ciclista.
SOL E CHUVA, CALOR E FRIO |
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![Divulgação Divulgação](https://e.i.uol.com.br/home/090614dani321.jpg) Não é apenas a distância que preocupa para que Dani possa completar os 4.800 km em 12 dias. As condições durante a prova são um obstáculo importante na travessia.
"Enfrentarei de tudo, desde o calor infernal do deserto até temperaturas baixas de Utah e Colorado, quando chego a uma altitude de quase 4 mil metros e frio de 1º C. Quanto ao terreno, haverá muitas subidas, mas também trechos planos intermináveis, que são muito desgastantes", explica ela. |
Mudanças de roupas - três vezes ao dia - e a proteção com filtro solar são outras preocupações. É claro que as bicicletas também estão entre os elementos primordiais para a prova. Dani levará três, feitas de carbono, sendo que a mais leve pesa 7,2 kg.
Na parte física, a comparação é com a Volta da França. Os organizadores dizem que a Race Across America é uma resposta à prova mais famosa do ciclismo já que, enquanto seus competidores fazem 4.800 km em 12 dias, na França a distância é de cerca de 3.500 km em três semanas.
Para agüentar a maratona Dani realizou simulados. Pedalou em Campinas (SP) e fez um tour pelo Rio de Janeiro, passando pela capital, e cidades como Três Rios, Friburgo, Macaé, Cabo Frio e Campos. Nesta etapa, foram mil quilômetros em apenas 48 horas.
Um dos cuidados foi para que a intensidade da preparação não atrapalhasse em sua vontade. "Tive o cuidado para não me desgastar emocionalmente. Tenho de chegar à prova com vontade de pedalar e não saturada e sem vontade de olhar para a bicicleta", explica ela, que também se privou do sono para se acostumar às condições desta maratona em território norte-americano.