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Ciclista pega no doping recebia benefício irregular do governo desde 2009

Ciclista Clemilda Fernandes terá que devolver R$ 68,4 mil aos cofres públicos  - FERNANDO DONASCI / Folhapress
Ciclista Clemilda Fernandes terá que devolver R$ 68,4 mil aos cofres públicos Imagem: FERNANDO DONASCI / Folhapress

Do UOL Esporte

Em São Paulo

01/06/2011 10h23

A ciclista Clemilda Fernandes foi pega no exame antidoping na Volta da Itália em 6 de julho de 2009. Suspensa, ela continuou recebendo os valores do Bolsa-Atleta, programa de transferência direta de recursos do Ministério do Esporte (ME). De acordo com matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo, a fraude foi descoberta no mês passado e a atleta terá de devolver R$ 68,4 mil aos cofres públicos.

Para continuar usufruindo do programa, o atleta precisa estar treinando e competindo. Portanto, o doping o suspende automaticamente, já que impossibilita o atleta de disputar competições. Segundo o ME, Clemilda, que representou o Brasil nas Olimpíadas de Pequim, recebeu 28 parcelas ilegais do benefício. Para conseguir tal feito, ela apresentou uma carta da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) que atestava suas condições de receber a verba. O que significa que a CBC omitiu sua suspensão.

O caso veio à tona após matéria da ESPN Brasil do início do mês, que mostrava que a CBC escondia casos de doping para não perder o patrocínio do Banco do Brasil. Marco Aurélio Klein, diretor da Secretaria de Alto Rendimento do ME e responsável pelo controle do benefício, disse que o presidente da CBC, José Luiz Vasconcellos, só se justificou em meados de maio, quando o Bolsa-Atleta de Clemilda já estava suspenso. Porém, nada se sabia sobre os valores que ela vinha recebendo desde 2009.

“Quando nós recebemos a documentação da CBC, fizemos uma avaliação e descobrimos a fraude. O Vasconcellos me disse que [a emissão da carta] foi um erro administrativo”, disse Klein. O presidente da CBC, por sua vez, afirmou que em 15 de março recebeu a lista dos ciclistas selecionados para receber a bolsa e verificou que Clemilda não estava apta.

Porém, três dias após a data informada por Vasconcellos, o ME publicou uma matéria em seu site sobre os beneficiários do Bolsa-Atleta. Clemilda é a principal personagem da matéria e diz que “a ajuda mensal de R$ 3,100 é indispensável” e que pretende disputar os Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Contudo, atletas que recebem punição acima de seis meses não podem participar dos Jogos, caso da ciclista.

Klein preferiu não atacar diretamente a CBC e disse que o ME não tem instrumentos suficientes para acompanhar de perto todos os ganhadores do benefício, que são 3.160 neste ano. Para isso, ele conta com a “comunicação vinda das confederações”. “Não cabe a mim julgar. Para nós, [a carta] era um documento que tinha fé. Esta é uma atitude inaceitável”, afirmou.

O caso foi encaminhado para a Controladoria Geral da União, que notificará a atleta. Assim que receber o aviso, Clemilda terá um prazo de 60 dias para devolver o dinheiro.