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Perto de recorde, brasileiro ignora Armstrong e ataca doping no ciclismo

Henrique Avancini (azul) pode ser primeiro latino americano a atingir o top 20 do ranking mundial - Divulgação
Henrique Avancini (azul) pode ser primeiro latino americano a atingir o top 20 do ranking mundial Imagem: Divulgação

Patrick Mesquita

Do UOL, em São Paulo

30/08/2013 06h00

Pela primeira vez na história do ciclismo, o Brasil pode ter um representante entre os 20 melhores do mundo na categoria cross country do mountain bike. No sábado, o carioca Henrique Avancini disputa o mundial da categoria, que acontece em Pietermaritzburg, na África do Sul, e pode alcançar a marca inédita até mesmo para atletas da América Latina.

Atual número 21 no ranking da Union Cycliste Internationale (UCI), o brasileiro de 24 anos tem aparecido com destaque no cenário mundial nos últimos anos. Dez vezes campeão brasileiro, Henrique vê a competição como uma chance única de confrontar os favoritos europeus e comemora o fato de o Brasil não ser uma nação tradicional na modalidade, o que transfere um pouco do peso para os representantes da Europa.

“Vejo como uma grande oportunidade. O resultado mais expressivo de um brasileiro foi a 24ª posição e eu espero superar. É uma vantagem ser de uma nação menos expressiva no esporte, que é dominado pelos europeus. Não chegamos como favoritos e é muito bom correr sem peso internacionalmente e sabendo que os outros atletas tem uma disputa muito grande entre eles”, analisa o atleta em entrevista ao UOL Esporte.

Fato é que Henrique chega ao mundial no que pode ser considerado o melhor momento da carreira. O ciclista virou o ano na 105ª colocação do ranking e, em menos de oito meses, subiu para a 21ª, o que gera uma grande expectativa para seu desempenho na competição. Mesmo assim, ele mostra personalidade ao dizer que está pronto para transformar qualquer pressão em força para conseguir um bom resultado.

“Sempre tive essa pressão de maior fenômeno brasileiro na modalidade. Sempre fui cobrado e a mídia sempre esperou bastante. Estou com 24 anos, sou poucos que chegam com essa idade nessa posição do ranking. A média é 28 anos. Existe a pressão, mas vejo como fé das pessoas em mim e isso leva à motivação para superar minhas marcas. Tem muita gente que espera que eu conquiste mais e leve nosso mountain a outro patamar. É bom saber que a comunidade desse esporte tem fé em mim”, afirma.

Nascido em Petrópolis (RJ) e ciclista por influência do pai, que foi profissional na década de 70, Henrique também demonstra personalidade ao falar sobre os seus ídolos no esporte. Ciente de que o ciclismo carrega uma cultura de doping ao longo de sua história, o brasileiro afirma que não possui nenhuma referência em sua modalidade e ignora até mesmo o cultuado Lance Armstrong, que admitiu o uso de substâncias proibidas durante a carreira.

“A repercussão foi grande e o que me entristece é quando alguém tem suspeita de que eu uso. Eu não procuro inspiração dentro do meu esporte, tivemos problemas no passado. Tenho como princípio lutar contra isso, mostrar que não é necessário usar isso para ser um ciclista de alto rendimento. Estou provando o que muitos diziam que não era possível. Vi acontecer vários casos, polêmicas internacionais. Criou uma cultura de doping e talvez por isso eu não me espelhe em ninguém. Quero levar isso até o fim da carreira”, diz.

Mas o ceticismo do carioca em relação ao ciclismo não significa que ele não admire outros atletas de modalidades diferentes. De acordo com o ciclista, um bom exemplo para todos os esportes é o também brasileiro Diogo Silva, lutador de taekwondo.

“Acho que o Diogo Silva, por ser um atleta que se expõe, é um cara que é um exemplo e deveria ser para outros mais influentes do que ele e são submissos. Atletas que são egoístas, pensam sempre como aquilo que falam pode afetá-los e deixam de lutar pelo coletivo. Aqueles que lutam por mudanças nas modalidades são os verdadeiros heróis”, elogia.