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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Os dois coadjuvantes que estão fazendo a diferença para os Bucks nas Finais

Bobby Portis e Pat Connaughton, do Milwaukee Bucks, celebram a vitória no jogo 5 das finais da NBA em 2021 - Garrett Ellwood/NBAE via Getty Images
Bobby Portis e Pat Connaughton, do Milwaukee Bucks, celebram a vitória no jogo 5 das finais da NBA em 2021 Imagem: Garrett Ellwood/NBAE via Getty Images

Colunista do UOL Esporte

19/07/2021 04h00

Eu não preciso te dizer que Giannis Antetokounmpo é bom jogando basquete. Ele já ganhou dois MVPs, um prêmio de defensor do ano, e está dominando as Finais fazendo coisas que não víamos desde o auge de Shaquille O'Neal. E é claro que Khris Middleton e Jrue Holiday são as duas outras estrelas do time, dois motores que ditam o quão longe o time pode ir. Middleton teve um jogo espetacular no Jogo 4, com 40 pontos e as duas cestas decisivas, e adicionou mais 29 no Jogo 5. Holiday, que vinha em uma série muito ruim ofensivamente, finalmente explodiu e foi o melhor jogador em quadra no Jogo 5, com 27 pontos, 13 assistências e a jogada decisiva da partida.

Juntos, os três combinaram para 88 dos 123 pontos dos Bucks na gigantesca vitória no Jogo 5 que deu a Milwaukee o controle da série. Mas isso não é surpresa. Nenhum time chega até o Jogo 6 das Finais da NBA em vantagem sem grandes performances dos seus astros. A NBA é uma liga de estrelas, e é assim que funciona.

Mas o reverso também é verdade: mesmo os maiores craques não ganham títulos sozinhos. É fundamental para qualquer time que queira ser campeão contar com coadjuvantes que possam fazer seu papel, contribuir quando necessários e oferecer o tipo de flexibilidade e base de segurança para que os astros possam brilhar. Encontrar os jogadores certos para esse papel muitas vezes é a diferença entre um título e uma decepção precoce.

Os Bucks não são exceção. Na verdade, encontrar os nomes certos para cercar seu trio de astros tem sido um dos grandes desafios dos Bucks nesses playoffs, especialmente depois da lesão do ótimo Donte DiVicenzo. Contra o Heat, Bryn Forbes foi fundamental com suas bolas de três, mas contra os Suns ficou claro que ele não podia jogar pelo quanto compromete na defesa. Thanasis foi misericordiosamente descartado por completo da rotação. Mesmo Brook Lopez, tão fundamental para a identidade do time (e que teve algumas performances espetaculares nesses playoffs) acabou sendo jogado de lado na rotação em alguns momentos. Encontrar esse equilíbrio entre as formações e que jogadores podem ficar em quadra ou não contra cada adversário é chave nos playoffs.

E, nas Finais, a grande virada que os Bucks estão protagonizando passa diretamente por isso. Em particular, por dois jogadores de banco muito questionados e que tem sido GRANDES diferenciais nessa arrancada, e cujas atuações permitiram aos Bucks uma maior variação tática que se provou fundamental contra o Phoenix Suns: Pat Connaughton e Bobby Portis.

Connaughton sempre foi uma variável chave para as pretensões dos Bucks. Nos últimos anos, a grande dificuldade de Milwaukee vinha sendo encontrar jogadores para cercar Giannis e Middleton nos momentos decisivos, que pudessem ficar em quadra sem comprometerem a boa defesa do time mas que também oferecessem arremesso suficiente no ataque para evitar que o ataque se estrangulasse e fechasse o garrafão para Giannis. Connaughton era um dos candidatos a isso, mas precisava resolver seu arremesso; ele chutou 33% de três nos seus primeiros anos em Milwaukee, o que simplesmente não é bom suficiente para um ataque que funciona ao redor de Giannis. Esse ano, no entanto, PatCon subiu seu aproveitamento para 37% nas bolas longas, garantindo assim o caminho para mais minutos. E, desde então, ele tem sido parte fundamental do time: nos playoffs, Connaughton acertou 41% das suas bolas longas, a melhor marca dos Bucks por muito e um desafogo crucial para um ataque que tem sofrido com as bolas longas na pós-temporada. Nas Finais? Foram 15 acertos em 30 bolas de três pontos.

Connaughton ainda é um jogador frequentemente frustrante e que comete erros demais, mas suas atuações nas Finais tem sido cruciais. E embora as bolas longas sejam talvez o ponto mais importante, ele também tem segurado as pontas defensivamente muito acima do esperado (Booker tem acertado cestas impossíveis na cara dele mesmo assim, mas paciência) quando os Suns o caçam no ataque; e, talvez ainda mais importante, ele tem sido parte de um esforço coletivo dos Bucks que está MASSACRANDO os Suns nos rebotes de ataque. Desde o Jogo 2, Connaughton tem pego 2 rebotes de ataque em média por jogo, inclusive alguns GIGANTESCOS nos momentos decisivos dos Jogos 4 e 5.

Connaughton é um excelente reboteiro para seu tamanho, e essa pressão nos rebotes tem ajudado a evitar que os Suns saiam em transição após erros dos Bucks - fundamental para limitar os pontos fáceis de Phoenix.

Bobby Portis, por outro lado, é talvez o grande herói improvável dos Bucks nas Finais. O pivô teve um papel bastante importante ao longo da temporada principalmente por suas bolas longas, convertendo 47% dos chutes de três, mas as coisas ficaram mais difíceis na pós-temporada. Ao longo de boa parte dos playoffs - em especial na série contra os Nets - Portis foi completamente ijogável, com sua defesa sendo destruída e não acertando absolutamente nada (23 3PT%) do outro lado para compensar. Sempre que Brook Lopez ia para o banco e os Bucks não recorriam ao megazórdico quinteto com Giannis de pivô, os Bucks eram massacrados com Portis em quadra - ao ponto de que ele chegou a jogar um total de zero minutos nas três partidas decisivas contra Brooklyn. Portis se recuperou com boas atuações nos jogos decisivos contra os Hawks, mas parte disso foi a lesão de Young que alterou totalmente o panorama defensivo da série; contra o letal ataque de pick-and-roll dos Suns, a expectativa era de que Portis voltaria ao banco para não sair mais.

E acabou sendo exatamente o oposto: antes da explosão de Jrue Holiday no Jogo 5, você poderia argumentar que Portis estava sendo o terceiro jogador mais impactante dos Bucks nas Finais. Parte do que virou a série a favor de Milwaukee foi sua defesa, e os ajustes feitos nos Jogos 2 e 3. Em poucas palavras, os Bucks pararam de trocar Brook Lopez nos armadores dos Suns para oferecer uma avenida fácil de ataque, e começaram a usar uma versão mais agressiva da sua defesa tradicional para tirar as bolas de três e os chutes no aro de Phoenix, convidando uma infinidade de chutes de meia distância que agem matematicamente contra os Suns no médio prazo. Mas, se esse foi o recurso para evitar Lopez de ser explorado, os Bucks combinaram isso com uma defesa de trocas bastante agressivas em quaisquer ações que não envolvam o pivô, ajudando a estagnar as ações preferidas dos Suns que envolvam mais de dois jogadores.

E, surpreendentemente, Portis não está só executando o papel conservador do Brook Lopez nessa defesa; pelo contrário, ele está sendo parte ativa das trocas, e Milwaukee está confortável deixando ele isolado contra Booker ou Paul. Phoenix ainda vai acertar alguns chutes dessa maneira, é claro, mas Portis tem feito um trabalho espetacular mantendo os armadores dos Suns na sua frente e forçando bolas contestadas da meia distância que seguem o plano de jogo da equipe.

Essa capacidade de Portis de não só sobreviver mas impactar positivamente na defesa permite que ele fique em quadra, e ele está castigando os Suns do outro lado. Não apenas nas bolas de três, embora chutar 46% nelas ajude bastante, mas principalmente - adivinhe! - nos rebotes ofensivos. Portis tem nove rebotes ofensivos nas três vitórias dos Bucks na série, e ele está moendo Phoenix dentro da área pintada para complementar as bolas de fora.

De repente, os Bucks contavam com DOIS jogadores inesperados que não só eram capazes de ficar em quadra contra os Suns, mas de contribuir positivamente dos dois lados da quadra - o que por sua vez abriu todo um mundo de opções para os Bucks usarem como formações. Parte do que fez do quinteto dos Bucks com Giannis de pivô sua melhor formação é por ser a que melhor balanceia esse ponto dos dois lados da quadra, mas com Connaughton e Portis jogando tão bem novas possibilidades apareciam. O quinteto com Giannis de C continua bem na série, +4.2 por 100 posses, mas as formações que REALMENTE estão destruindo Phoenix são as que contam com Connaughton e Portis juntos: Milwaukee está +15 por 100 posses com os dois juntos em quadra, e a formação com os dois ao lado do Big Three (Middleton, Holiday e Giannis) está +37.5 (!!!!) por 100 posses em minutos limitados. O Big Three tem sido, obviamente, a força motriz por trás da série espetacular dos Bucks, mas ela não estaria acontecendo sem a contribuição gigante de Connaughton e Portis.

E os playoffs da NBA são assim: você precisa das estrelas, sem dúvida, mas também precisa desses jogadores aleatórios aparecendo em momentos críticos e entregando algo além do esperado para impulsionar sua equipe. E não só as atuações, mas você precisa ser capaz de se aproveitar disso da melhor forma pissível para ganhar a vantagem, e ter feito isso tão bem tem sido um mérito gigantesco do tão criticado (geralmente com razão) Mike Budenholzer. E, como consequência, os Bucks estão a apenas uma vitória da glória eterna.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL