Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Isolação, pick-and-roll, e mais; como funciona o básico de um ataque na NBA
Se você tem vontade de começar a acompanhar a NBA mas não sabe como, veio ao lugar certo. O 14 Anéis está no meio de um especial introdutório sobre NBA, destinado a explicar o básico para um público leigo que quer uma porta de entrada para o mundo do basquete.
Na primeira parte, falamos da NBA em si, do seu funcionamento, e do formato da sua temporada; na segunda parte, falamos da dinâmica do jogo em si, da quadra, e da terminologia associada a ela; e, na terceira, explicamos sobre as cinco posições do basquete e suas evoluções ao longo do tempo. E, com o básico coberto, chegou a hora da bola subir e começarmos a falar do jogo de verdade.
O fundamento do basquete é simples: você precisa colocar a bola dentro da cesta adversária. Mas isso é mais fácil falar do que fazer; o outro time está lá para te impedir, e ele possui cinco jogadores grandes focados em defender suas tentativas. Para conseguir chegar até o aro ou criar espaço para o arremesso, o ataque precisa causar algum tipo de quebra na defesa - quebra que vai levar diretamente a um arremesso ou vai forçar algum ajuste instantâneo da defesa que o ataque possa explorar para levar a uma quebra ainda maior.
Para conseguir essas quebras, o ataque se utiliza de uma gigantesca variedade de jogadas e ações, combinando-as de diversas formas para máxima eficiência. É impossível, é claro, tratar de todas elas nesse espaço apertado, até porque esse é um processo contínuo: novas ideias e conceitos estão sempre surgindo e mudando a cada minuto. As possibilidades são infinitas.
Portanto, a ideia aqui não é tratar de TODAS as jogadas ofensivas que você vai ver em um jogo de basquete, e sim dar uma ideia geral das mais básicas - tornando alguns nomes e conceitos mais familiares. A partir desses conceitos iniciais, você já vai ser capaz de entender muito melhor o ataque na NBA.
Parte I - A NBA
Parte II - O jogo e a quadra
Parte III - As posições do basquete
Isolação
A jogada ofensiva mais simples é a chamada isolação, ou ISO. Nela, o ataque coloca a bola na mão de um jogador específico (geralmente no perímetro), e o resto dos companheiros sai de perto dele, puxando os defensores consigo e abrindo espaço para o jogador com a bola atacar no "um contra um". Como o nome sugere, o ataque busca isolar o jogador com a bola e seu defensor do resto dos jogadores. Ele pode tentar arremessar por cima do defensor, ou botar a bola no chão e tentar driblar o adversário.
Essa jogada pode ser particularmente eficiente se você tem seu jogador contra o chamado missmatch, um defensor que tem uma desvantagem clara no confronto; seja por não ser um bom defensor, por ser mais baixo do que o jogador com a bola, ou mais lento (como um pivô marcando um armador). Nesses casos, o ataque espera que o jogador bata seu defensor e faça uma cesta, ou pelo menos force ajuda que gere um passe fácil.
Mas essa não é, em geral, uma jogada muito eficiente. O ataque pode querer atacar individualmente, mas as defesas não precisam se limitar a isso, e elas se tornaram muito mais espertas na última década em como direcionar o ataque na direção da ajuda defensiva - assunto para outro dia.
Post up
O post up é uma jogada que você também vai ouvir falar muito. De certa forma, ela funciona como uma variação da isolação, só que ao invés do perímetro ela acontece perto do garrafão.
No caso, o jogador do ataque se posiciona na lateral do garrafão, perto da cesta (uma área da quadra chama de low post, ou poste baixo), e recebe a bola de costas para o aro, com o seu defensor entre ele e a cesta (por esse motivo, também é comum falar em "jogar de costas para a cesta".)
A ideia do post up também é deixar o jogador ofensivo atacar um defensor no um contra um, mas de uma posição mais voltada para o jogo de garrafão (e, portanto, mais usado por pivôs). A partir dessa posição inicial, o atacante tem uma série de opções: usar a força para empurrar o defensor para trás (para mais perto da cesta), girar para bater defensor na agilidade, virar para um arremesso ou gancho aproveitando que está perto da cesta, e por aí vai.
O jogador ofensivo também pode buscar essa posição inicial já dentro do garrafão, mas como os jogadores não podem ficar parados lá dentro muito tempo, é mais difícil - e melhor receber fora da área pintada para ter mais tempo de explorar opções.
Essa jogada também vem sendo menos usada conforme ficou claro que é uma ação pouco eficiente, mas ela não desapareceu da NBA. Jogadores dominantes como Jokic e Embiid são bons o suficiente para torná-la valiosa, e é uma forma muito útil de se explorar vantagens de altura em uma NBA que cada vez tem jogado mais baixo.
Pick-and-roll
O pick-and-roll é uma das jogadas mais simples e mais eficientes de todo o basquete; não à toa, ela se tornou a base de 95% dos ataques modernos na NBA.
Frequentemente abreviado para PnR ou PNR, ela envolve dois companheiros. Um deles, chamado ballhandler", conduz a bola e dribla na direção de um segundo jogador, que então faz o chamado corta-luz (ou "screen") - deixando o corpo como obstáculo para tentar atrapalhar o defensor.
O objetivo do jogador que faz a screen - chamado de "screener" - é fazer contato com o defensor do ballhandler, atrasando-o na jogada. O screener então corta para a cesta, criando uma situação de dois contra um (no caso, o defensor do screener) para o ataque. Nesse ponto, o jogador com a bola pode finalizar ele próprio a jogada, passar para o screener perto do aro, ou - caso a defesa use um terceiro jogador para defender o PnR - passar para um companheiro livre do perímetro.
O que faz do pick and roll uma jogada tão eficiente é justamente essa variedade de opções vindo de algo tão simples; o jogo a dois entre ballhandler e screener é mortal por si só, e como o resto da equipe consegue se espalhar em quadra, ela pode executar jogadas secundárias ou pelo menos colocar pressão suficiente na defesa para que o ataque possa rodar a bola.
O PnR tradicionalmente é executado com um armador de ballhandler e um pivô ou ala de força como screener, já que o primeiro tem as habilidades de drible e passe, e o segundo o tamanho e força para finalizar perto do aro. No entanto, isso está longe de ser universal, e times cada vez mais tem explorado combinações exóticas de jogadores para confundir as defesas.
E, claro, existe uma série de variações criativas que os times podem adicionar ao PnR básico: Stack, double drag, PnR invertido, etc. Não vamos entrar nesses detalhes aqui, mas é importante saber que eles existem.
Pick-and-pop
O pick-and-pop é uma variação do pick-and-roll. O princípio é o mesmo: o ballhandler traz a bola, e o screener faz o corta-luz para tirar um marcador da jogada. A diferença é que, após o corta-luz, o screener não avança para a cesta; ao invés disso, ele recua para o perímetro, geralmente saindo livre para uma bola de três pontos.
O pick-and-pop é menos comum que o PnR em parte porque, como o screener acaba na linha de três, ele precisa ser um bom arremessador de fora - o que a grande maioria dos pivôs não são. Mas, quando acontece de ser o caso, é uma jogada extremamente difícil de ser marcada: o defensor do screener precisa conter o jogador com a bola para este não ter caminho livre até a cesta, então fica muito difícil dele se recuperar para seu jogador original na linha dos três pontos.
Handoff
O handoff é uma jogada que tem ganho cada vez mais importância na NBA, e funciona semelhante ao pick and roll. Mas existe uma diferença: ao invés de um jogador com a bola driblar na direção do corta-luz de um companheiro, o screener já começa com a bola nas mãos e o companheiro que corre até ele sem a bola para receber a laranja e o corta-luz ao mesmo tempo.
A dinâmica é parecida com a do PnR: um defensor é "tirado" da jogada, e jogador que recebe a bola pode aproveitar que recebeu em velocidade para atacar o aro ou, se o defensor do screener recuar demais, subir para o arremesso. O screener também pode cortar para a cesta ou recuar para o perímetro, se posicionando para receber o passe de volta. A grande diferença é que o handoff adiciona uma possibilidade a mais para o ataque: de que o screener não solte a bola, e ao invés disso espere a defesa se comprometer para colocar a bola no chão.
Nikola Jokic, Al Horford e Bam Adebayo são mestres no handoff.
Screens
Mas o corta-luz não precisa acontecer apenas na bola, como em PnR ou handoffs. Na verdade, a maioria das screens na NBA acontece fora da bola, e tem o mesmo propósito: criar uma separação entre um jogador e seu defensor, gerando uma vantagem para o ataque.
Existe uma variedade imensa de corta-luz fora da bola - pindowns, flare screens, etc - que não vale a pena entrar em detalhes agora, mas todas seguem esse mesmo padrão: um jogador do ataque fazendo um corta-luz para criar espaço um companheiro.
Combinações
E, claro, o ataque não precisa se limitar a executar apenas uma dessas jogadas a cada posse. Na maior parte do tempo, ele busca executar o máximo de ações paralelas ao mesmo tempo - dando a si próprio mais opções, e forçando a defesa a tomar decisões rapidamente na tentativa de forçar um erro ou uma quebra. A quantidade de combinações diferentes é ilimitada.
Veja por exemplo a jogada abaixo, e veja quantas coisas diferentes acontecem antes do arremesso:
Tem muito mais acontecendo a cada posse de bola na NBA do que parece à primeira vista, e técnicos tem inventado formas cada vez mais criativas de conseguir quebras. Nós demos uma visão geral aqui desse funcionamento, mas para quem quer continuar se aprofundando, recomendo muito o curso do ex-executivo da NBA Ben Falk sobre o assunto - um curso que agora está disponível em português, com tradução deste que voz escreve.
PARTE 5 DO ESPECIAL NBA: EM BREVE
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