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A corrida desesperada pelos tênis "Kobe" que está tomando conta da NBA
Se tem uma coisa que jogadores de basquete profissionais valorizam, especialmente na NBA, são os seus tênis de jogo - e com bons motivos.
Em um esporte que depende tanto de correr e pular, os pés são parte fundamental da vida útil de qualquer atleta, e os tênis na NBA são muito mais do que apenas enfeites. Eles são desenhados cuidadosamente para encaixar nos pés de algumas das maiores pessoas do planeta Terra, e foram evoluindo ao longo dos anos para oferecer uma série de proteções físicas - amortecimento de impacto, compressão do tornozelo, correção de pisada, e muito mais - que ajudam em muito a aumentar a carreira e diminuir as lesões. Ter o tênis certo é parte fundamental do equipamento de um jogador de basquete.
Mas a cultura dos tênis na NBA vai além. Desde que o mercado explodiu de vez com Michael Jordan e os lendários Air Jordans nos anos 80, os calçados passaram de ser apenas um equipamento e passaram a ser um artigo através do qual se expressar. Cada vez mais estrelas começaram a assinar contratos com fornecedoras de material esportivo como Under Armor, Nike e Adidas, e as principais delas possuem sua própria linha de calçados, desenhados física e esteticamente para refletir a personalidade e marca do jogador em questão - e mesmo jogadores que não possuem essa marca própria tem suas preferências dentro da gigantesca oferta de opções no mercado.
No entanto, recentemente algo curioso começou a acontecer. Uma linha específica de tênis, os tênis da linha Kobe Bryant produzida pela Nike, começou não apenas a explodir em popularidade, mas a se tornar um artigo de extrema raridade no mundo da NBA - ao ponto de criar um mercado paralelo dentro dos jogadores da liga e motivar uma busca frenética por esses objetos.
A popularidade dos "Kobes" é fácil de entender. Kobe Bryant sempre foi um jogador bastante popular na NBA e sua linha de tênis uma das mais usadas da liga, especialmente conforme cada vez mais jogadores jovens de uma nova geração - uma geração que cresceu idolatrando Kobe, assim como a geração de Kobe cresceu idolatrando Jordan e usando seus Air Jordans - foram se tornando maioria dentro da liga. Esse interesse e popularidade explodiram ainda mais após o acidente aéreo que causou a morte de Bryant, em janeiro de 2020; Brian Windhorst, da ESPN americana, relata que depois do acidente cerca de um terço dos jogadores da NBA terminaram a temporada 2019-2020 usando Kobes, um número que cresceu ainda mais em 2021 conforme mais contratos dos atletas com marcas esportivas foram se encerrando por causa da pandemia, e Kobes foram sendo os tênis de escolha desses jogadores.
O problema é que um aumento de demanda tão brusco e agudo como esse precisaria de um aumento correspondente de oferta para ser satisfeito; mas, ao invés disso, aconteceu o contrário. A produção de tênis já havia caído consideravelmente em 2020 por conta da pandemia de COVID, e para piorar o contrato vigente entre Kobe e a Nike estava para se encerrar em abril de 2021. Apesar de conversas sobre renovações terem sido feitas (e ainda não terem terminado por completo mesmo hoje), Nike e Vanessa Bryant - a viúva de Kobe e a responsável pelo seu patrimônio - anunciaram no fim de abril que o contrato não seria renovado de imediato, e que a marca Kobe não seria mais associada da Nike por ora. Em outras palavras, sem os direitos sobre a marca, a Nike simplesmente não podia mais produzir tênis Kobe para atender toda essa demanda. A produção parou por completo.
Para piorar, ao contrário de gente como eu ou você que pode ter um tênis de basquete e usar por anos e anos a fio, jogadores de NBA não tem esse luxo. O desgaste do calçado é grande demais, e exige trocas constantes para manterem seu aspecto funcional de proteção e prevenção a lesões. Alguns jogadores usam um par novo a cada jogo, outros mudam a cada série de partidas, mas a maioria ainda usa em média pelo menos 20 pares ao longo de uma temporada inteira. Então não é que os jogadores querem ter um ou outro tênis Kobe para usar, eles precisam de um fluxo constante de tênis para repor ao longo do ano, e de repente a produção dessa linha acaba de uma vez. E agora?
O resultado é que essa combinação causou um efeito bizarro no mercado e entre jogadores de NBA, como reportou Windhorst em um artigo na ESPN. Com os Kobes se tornando agora artigos extremamente raros e cobiçados, os jogadores começaram a recorrer a extremos cada vez maiores para conseguir esses itens. Alguns atletas, antecipando o fim do contrato entre Bryant e a Nike, já vinham estocando tênis por alguns meses, e outros jogadores que tinham contrato com a empresa tinham acesso direto a um número maior de tênis, mas a grande maioria da NBA não teve tanta sorte e precisaram recorrer a outros meios. Esses meios incluem compras em mercados secundários, procura por artigos de segunda mão, e até mesmo a tentar resgatar seus tênis antigos e já usados para encontrar Kobes capazes de aguentar mais alguns jogos. Os tênis começaram até mesmo a virar uma moeda de troca dentro da liga, um sinal do quão valiosos e cobiçados os tênis que ainda existem se tornaram.
É possível que essa história bizarra tenha um desfecho descomplicado; talvez Vanessa Bryant e a Nike simplesmente cheguem a um novo acordo, e a linha de tênis Kobe volte a ser produzida em grande número para atender esse mercado. Se não for a Nike, pode ser alguma outra fornecedora de material esportivo que tome seu lugar, assine um contrato crie sua própria linha homenageando a lenda da NBA.
Mas enquanto isso não acontece, cada vez mais os jogadores parecem ter ido a extremos para conseguir colocar as mãos nesses artigos tão raros, e essa corrida atrás dos Kobes não parece que vai terminar tão cedo.
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