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OPINIÃO

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Vitor: Analisando as disputas ainda abertas na Conferência Leste da NBA

Kevin Durant e Giannis Antetokounmpo, em partida entre Brooklyn Nets e Milwaukee Bucks - Jesse D. Garrabrant/NBAE via Getty Images
Kevin Durant e Giannis Antetokounmpo, em partida entre Brooklyn Nets e Milwaukee Bucks Imagem: Jesse D. Garrabrant/NBAE via Getty Images

04/03/2022 04h00

Conforme a NBA se prepara para entrar na sua reta final, é engraçado olhar para trás e lembrar que essa costumava ser a parte mais morta da temporada da NBA. Começando março, a maioria dos times de playoffs da NBA já estavam definidos, e essas equipes começavam a descansar seus jogadores; do outro lado do espectro, times sem chance de pós-temporada começavam a colocar os reservas para tentar perder e conseguir uma posição melhor no Draft.

Mas isso mudou: com a criação do play-in (que aumentam as vagas em disputa nos playoffs) e as novas regras de loteria (que diminuem o incentivo para o tanking), cada vez mais times tem incentivos para continuar competindo até o último dia da temporada regular. Então, se ontem fizemos esse exercício para a conferência Leste, é hora de dar uma passada pela conferência Oeste e ver quais brigas ainda estão em aberto, e quais times estão em cada uma delas.

Ps. Quando você ler que um time está "meio jogo" abaixo de outro, é porque as equipes possuem diferente número de partidas disputadas e cada partida "pendente" conta como meia vitória, meia derrota.

Seed #1

Se você chegou a bater o olho na tabela de classificação do Leste, você sabe que "caos" não serve para descrever o que está acontecendo. Apenas quatro vitórias separam o líder da conferência, Miami Heat, e o sexto colocado e último classificado direto para os playoffs, o Boston Celtics. Isso significa que não apenas a disputa pela seed #1 do Leste está completamente aberta, mas que a imprevisibilidade na definição dos confrontos de pós-temporada pode ser fundamental em decidir o título de 2022. Claro, até certo ponto essa sorte é algo que acontece todo ano e influencia títulos com regularidade, mas esse ano pode ser algo fora da curva. Como escrevi no texto sobre o Boston Celtics, é bem possível que três ou até quatro dos mais fortes times da conferência acabem do mesmo lado da chave, abrindo assim caminho para situações das mais diversas.

Ainda assim, ter o mando de quadra importa, e por mais que os Celtics sejam o time mais quente da conferência, é difícil imaginar ver a equipe tirando essa desvantagem contra cinco times diferentes. O que nos deixa com uma briga de quatro times pela posição: Heat, Bulls (1,5 jogos atrás), Sixers (2 jogos atrás) e Bucks (3 jogos atrás). E, talvez mais interessante, essa disputa está cheia dos confrontos diretos: Heat ainda enfrenta Bulls e Sixers (2x), Bulls enfrentam Heat, Sixers e Bucks (3x), Sixers enfrentam Heat (2x), Bulls e Bucks, e Bucks enfrentam Bulls (3x) e Heat. Quem levar vantagem nesse carrossel de duelos estará em ótima situação para pegar o topo do Leste.

Mando de quadra

Desnecessário dizer, mas devido à proximidade na classificação, todas essas também estão brigando pelo mando de quadra na primeira rodada: a diferença entre Bucks em quarto e Celtics/Cavaliers é de um jogo e meio apenas. E, falando de mando de quadra, entram na briga também essas duas equipes.

Os Cavs talvez sejam mais difíceis de enxergar conseguindo o feito: depois de chegar a liderar o Leste e de uma primeira metade excelente de temporada, Cleveland compreensivelmente vem desacelerando, tendo perdido 7 dos últimos 13 jogos. Isso, para ficar claro, é bastante normal para um time jovem e muito à frente do seu cronograma, mas torna mais difícil que eles compitam contra adversários melhores.

Boston, por outro lado, parece ter chances melhores; sem repetir o que foi dito em outra coluna dessa semana, Boston talvez seja o time jogando melhor em todo o Leste no momento. Mas Boston, vale citar, também tem o quarto calendário mais difícil da NBA para essas últimas semanas (atrás apenas de Chicago entre seus concorrentes diretos). Os Celtics estão bem vivos nessa disputa, especialmente por ser o time mais saudável do bolo, mas seu fraco começo de ano coloca o time em uma desvantagem que não vai ser fácil reverter.

Fugindo do play-in

Logo abaixo do Boston Celtics, o Toronto Raptors ocupa o sétimo lugar, um jogo e meio abaixo dos verdes, e ainda sonha em fugir do play-in para classificar direto à pós-temporada. Mas, considerando o ótimo momento dos Celtics e o desnível que as estatísticas dizem existir entre as equipes, não vai ser uma busca fácil para Toronto - embora, vale citar, Toronto tem um dos calendários mais fáceis da NBA. Suas melhores chances, na verdade, provavelmente são em buscar passar os Cavaliers, que como já citados estão em um momento de queda. Raptors e Cavaliers ainda se enfrentam mais duas vezes, uma em cada cidade, e esse confronto direto também pode ser decisivo para ver quem foge do play-in.

E, normalmente, seria realmente apenas os Raptors que eu colocaria fortemente nessa briga, já que a diferença dos Celtics para o oitavo colocado é de cinco jogos, com 18 para disputar. Mas esse oitavo colocado não é um time normal: o Brooklyn Nets, hoje, caminha para jogar o play-in, mas o time se colocou nesse buraco por causa da longa sequência sem Durant, Harden (e depois Simmons) e a parcialidade da disponibilidade de Kyrie. Saudável e completo, os Nets tem totais condições de fazer uma arrancada para fugir do mini-torneio... mas eles estarão assim em algum momento? Durant deve voltar na próxima semana, mas Simmons ainda parece longe de condições de jogo, e Kyrie não teve a liberação esperada para jogar em casa. A volta de Durant - com reforços como Dragic e Seth Curry - já vai ser o suficiente para elevar consideravelmente a equipe e tirar Brooklyn dessa sequência horrenda (3-15 nos últimos 18 jogos) que colocou os Nets no buraco, mas considerando que a equipe deve ainda tomar cuidado com a carga de Durant, resta vai ser vai ser suficiente para fugir do play-in por completo.

Últimas vagas do play-in

Assumindo, como é razoável, que os Nets após a volta de KD devem voltar a performar bem o suficiente para fugir da disputa abaixo, isso deixa basicamente três times brigando pelas duas últimas vagas do play-in: Hornets, Atlanta (meio jogo atrás dos Hornets) e Wizards (um jogo e meio atrás dos Hornets, um atrás de Atlanta). E, novamente, teremos vários confrontos diretos que podem decidir essas vagas, com todos os times jogando entre si pelo menos uma vez, e Wizards e Atlanta se enfrentando duas.

Essa disputa, em especial, está apertada demais para se cravar qualquer coisa. No papel, você imaginaria que Atlanta —finalista do Leste ano passado— seria o time mais preparado para ficar com a vaga, mas a certa altura, você é o que sua campanha indica, e não o que seus feitos passados sugerem. Vale citar, no entanto, que Atlanta é o time que tem os melhores números dos três; na verdade, Atlanta e Hornets ambos têm uma vantagem estatística considerável sobre os Wizards em indicadores de performance, e isso mesmo antes de os Wizards trocarem metade do seu time (e todos os seus armadores). A evolução recente de Kuzma da aos Wizards o que sonhar, e a distância é pequena demais para conforto, mas hoje parece que Hornets e Atlanta são favoritos às vagas.

Escolha #1 do Draft

Os Knicks, coitados, estão presos no limbo entre as duas categorias: cinco jogos atrás dos Hawks para sonharem com o play-in, mas um time que tentou vencer e que se contentar com a loteria do Draft é um fracasso. E, quatro jogos na frente dos Pacers, os Knicks são um time que não tem mais pelo que jogar até o fim do ano. O melhor que pode acontecer para a franquia é ser ultrapassada por Spurs e Kings —que estão ainda tentando brigar pelo play-in do Oeste— e melhorar sua escolha de Draft.

Os Pacers, por sua vez, também estão presos nesse limbo de não brigar pelas primeiras escolhas do Draft e nem pelo play-in, mas a sensação é completamente oposta: se os Knicks tentavam ganhar e perderam, os Pacers acabaram de desmontar seu time para reconstruir e parecem ter achado algo de interessante no processo. Indiana refez seu arsenal de escolhas de Draft, apostou em jovens talentos para o futuro, e ainda vai ter uma boa escolha de loteria —um fim de ano bom para um ano decepcionante de Indiana.

Com isso sobram Magic e Pistons, os dois piores do Leste e empatados com os Rockets para serem os três piores da NBA. Cinco jogos abaixo do Thunder e seis dos Pacers, é extremamente improvável que esses três não dividam as mesmas chances na loteria (lembrando que os três times de pior campanha tem todos 14% de chance de ficar com a escolha #1). E embora perder mais que os outros possa levar a uma diferença de uma ou duas escolhas depois do sorteio do Top4 do Draft, esse não é um Draft bom o bastante para isso ser uma diferença significativa. Ao invés de se preocupar em perder ainda mais jogos, Pistons e Magic devem continuar fazendo o que tem feito até aqui: continuar desenvolvendo seus jovens, tentando achar uma identidade e se acostumando com um estilo de jogo, coisas que podem render dividendos bem maiores no futuro do que a diferença entre a quinta ou sexta escolha do Draft.