Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como o Minnesota Timberwolves passou de piada para time a ser temido na NBA
Tirando talvez os Kings, nenhuma franquia da NBA é mais associada com a ideia de fracasso e mediocridade do que o Minnesota Timberwolves. Desde sua ida às finais do Oeste em 2004, o Timberwolves foi a apenas uma pós-temporada e só venceu um jogo de playoffs.
E, no entanto, com a vitória dos Wolves sobre os Bucks (sem Giannis) no sábado e a derrota do Denver Nuggets no domingo perante Boston, Minnesota oficialmente passou os Nuggets na tabela de classificação, subindo para o sexto lugar da conferência Oeste - algo que, dois anos atrás, não significaria quase nada, mas que agora é a diferença entre uma vaga direta na pós-temporada. Denver recuperou a posição ao longo da semana, mas independentemente dos Wolves terminarem em sexto ou sétimo (e todos os modelos estatísticos de projeção dão a Minnesota hoje mais de 92% de chance de chegar aos playoffs) esse momento marcou simbolicamente uma gigantesca reviravolta que fez Minnesota - o time que teve a primeira escolha do Draft dois anos atrás - passar a ser um dos times mais interessantes e mais quentes da NBA em 2022: desde o começo de fevereiro, apenas o Boston Celtics e o Phoenix Suns têm campanha melhor.
Olhando mais a fundo, a temporada dos Wolves é ainda mais impressionante. Estatisticamente, tudo indica que Minnesota está jogando ainda acima do nível que sua boa campanha reflete; tem o oitavo melhor da NBA em Net Rating, com o sexto melhor ataque e a décima primeira melhor defesa da liga. E, talvez mais importante, é um time extremamente jovem, com nenhum jogador importante (exceto Beverley) acima dos 26 anos - e que, portanto, promete não só continuar bom, mas ainda melhorar no futuro.
E o principal motivo dos Wolves terem errado tanto e mesmo assim estarem com um time bom é porque a NBA é uma liga de estrelas; mesmo que você erre repetidamente, você só precisa acertar em cheio uma ou duas vezes para compensar. E os Wolves, com duas escolhas #1 do Draft, fizeram exatamente isso, adquirindo duas estrelas que criaram a fundação dessa equipe: Karl Anthony-Towns e Anthony Edwards.
Towns, em particular, tem feito uma temporada espetacular que deve ser reconhecida com um time All-NBA, e que vai muito além do seu incrível jogo de 60 pontos. Towns sempre foi um excelente pontuador, um dos mais versáteis e completos da NBA, e nessa temporada isso está em primeiro plano: os 25 pontos por jogo são sua melhor marca da carreira, e os números de eficiência (53 FG%, 41 3PT%, 83 FT%) são de outro planeta. Towns está dominando qualquer tipo de defesa e defensor, e tomando conta do jogo com um nível de maturidade e complexidade que nunca vimos antes dele.
E o mais incrível é, Towns ainda está sendo subutilizado: Towns tenta apenas 16,5 arremessos por jogo, um número que nem é a maior marca do seu próprio time! Para efeito de comparação, nenhum outro jogador com pelo menos 23 pontos por jogo de média tenta menos que 17,4 arremessos por jogo. É uma insanidade que Towns tente menos arremessos que Edwards (17,3) e quase tantos quanto D'Angelo Russell (15,4), um reflexo da falta de um distribuir de jogo mais eficiente em Minnesota e ainda de uma relativa falta de entrosamento e QI de basquete da equipe. De fato, existe um excesso de posses de bola dos Wolves que envolve Russell ou Edwards driblando sem propósito no lugar, e o melhor jogador do time sem tocar na bola - o próximo passo de evolução e maturação que esse time precisa adereçar.
Ainda assim, Towns está tendo chance suficiente de dominar jogos no ataque, enquanto que uma mudança de estilo defensivo - trazendo Towns mais perto do corta-luz em pick-and-rolls ao invés de fazer ele recuar para a cesta - está ajudando do outro lado da quadra e impulsionando Towns à melhor temporada defensiva da sua carreira. Tirando os dois favoritos ao prêmio de MVP, Jokic e Embiid, nenhum pivô na NBA está jogando mais do que Towns em 2022, e esse é o principal fator impulsionando a grande campanha dos Timberwolves.
Mas os Wolves já tiveram ao longo dos anos grandes craques no seu elenco. Uma andorinha só não faz verão, diz o ditado, mas felizmente os Wolves tiraram a sorte grande com Anthony Edwards. Edwards tem muitos poréns - ele não tem o maior QI de basquete, é um criador e passador apenas mediano (no máximo) e sua defesa é muito sofrível - mas o que ele faz bem, ele faz muito bem: pontuar. São 21 pontos por jogo com ótimo aproveitamento, e não só apenas a atenção defensiva que ele comanda tira um pouco a pressão de Towns e força a defesa a se abrir mais do que nunca, mas a energia e eletricidade do seu jogo cria um elemento extremamente contagiante que os Wolves não tinham. Isso é algo que impulsiona toda a equipe e principalmente Towns, frequentemente acusado de um excesso de letargia em quadra - e, em torno, se beneficiando dos garrafões muito mais espaçosos que a gravidade de Towns cria, o caso onde uma parceria se torna maior que a soma das suas partes. Se Towns é um legítimo All-NBA, a ascensão de Edwards no seu segundo ano como um ótimo coadjuvante nível All Star deu a ele o parceiro que tanto precisava para destravar o jogo de ambos.
Igualmente tão importante quanto finalmente acertar com uma dupla de estrelas, os Wolves se esforçaram para montar um time ao redor deles que fosse mais coerente. Tanto Towns como Edwards são defensores fracos, então Minnesota foi atrás de defensores físicos e versáteis como Jaden McDaniels, Josh Okogie, Patrick Beverley e Jarred Vanderbilt, que podem pressionar jogadores com a bola e protegerem as infiltrações, facilitando a vida de Towns e dando ao técnico Chris Finch mais opções desse lado da quadra. D'Angelo Russell, sonho antigo da equipe, pode não ter os melhores números esse ano, mas oferece alguma estabilidade para a armação da equipe e seus números avançados são bem positivos, além de ter feito enormes avanços defensivamente. Talvez não seja o grupo mais talentoso de jogadores - minto, definitivamente não é o grupo mais talentoso de jogadores - mas é um cujas características se complementam dentro e fora de quadra, cujas forças e fraquezas combinam de forma a maximizar cada jogador, formação ou esquema que os Wolves tem usado.
Isso é suficiente para brigar por títulos? Não, não é. A não ser que Towns e/ou Edwards façam mais um grande salto (Edwards, obviamente, ainda vai evoluir, mas digo um salto significativo), os Wolves não tem qualidade bruta para bater de frente com os melhores times da NBA. E eles sabem disso; não é à toa que foi um participante ativo do mercado de trocas, e um dos times interessados em Ben Simmons quando o ex-jogador dos Sixers estava no mercado. Se Towns e Edwards forem intocáveis - e, exceto em casos extremos, deveriam ser - os Wolves não tem muitas moedas de trocas valiosas que atraia interesse de times negociando estrelas, mas Minnesota sabe que tem espaço para caçar nas margens, e que com duas jovens estrelas é possível que mais jogadores queiram atuar nos Wolves. A equipe certamente fará perguntas por free agents como LaVine ou Beal em possíveis sign-and-trades, e talvez até Kyrie Irving (vacina não é obrigatório em Minneapolis), e não ficaria surpreso se colocassem suas escolhas de Draft futuras no bolo. Um time jovem como Minnesota sempre pode contar com evolução natural do seu núcleo, mas os Wolves não vão e nem podem apenas ficar esperando as soluções caírem do céu.
Por 2022, no entanto, o resultado já é animador o suficiente. O time é legitimamente bom e divertido de se acompanhar, e apesar de ser azarão ainda seria um adversário bastante complicado para Grizzlies ou Warriors na primeira rodada dos playoffs, ainda mais em um momento tão bom da sua temporada. O maior adversário para a equipe na busca pela vaga direta à pós-temporada é o calendário: seus próximos 5 jogos e 6 dos 9 restantes são contra times de playoffs, um dos calendários mais difíceis dessa reta final. O mais crítico desses, claro, é o confronto direto contra os Nuggets que vai decidir quem tem a vantagem do desempate.
Mais importante, depois de muita procura, Minnesota parece ter encontrado um núcleo em torno do qual pode ter estabilidade para montar o futuro. O jogo explosivo e personalidade expansiva de Edwards mais o refinamento e a personalidade tranquila de Towns, cercado pelos jogadores certos, criaram um ambiente totalmente diferente do que vinha dominando Minnesota há décadas, e pela primeira vez desde 2004 a equipe parece estar remando na direção certa.
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