Topo

14 Anéis

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como Desmond Bane se tornou peça crucial de um dos melhores times da NBA

Desmond Bane, do Memphis Grizzlies, sobe para a bandeja em vitória sobre o Indiana Pacers - NBA/Twitter
Desmond Bane, do Memphis Grizzlies, sobe para a bandeja em vitória sobre o Indiana Pacers Imagem: NBA/Twitter

28/03/2022 04h00

No ambiente competitivo da NBA, times inteligentes sabem explorar cada margem possível para conseguir uma vantagem extra: uma escolha de Draft a mais, alguns milhões em espaço salarial, qualquer coisa que ajude no médio prazo. E foi exatamente isso que o Memphis Grizzlies fez na noite do Draft de 2020: sabendo que o Boston Celtics, dono da escolha #30 do recrutamento, não teria espaço no seu elenco para mais um calouro, Memphis aproveitou a chance para comprar barato essa escolha - por duas escolhas futuras de segunda rodada de menor significância - e conseguir uma seleção de primeira rodada em ano do qual, de outra maneira, não teriam nenhuma.

Com essa escolha, os Grizzlies selecionaram o ala-armador Desmond Bane, um jogador curioso por causa da enorme disparidade que existia na sua avaliação entre times da NBA e analistas externos: enquanto times da NBA olhavam torto para sua idade (22 anos, já tendo jogado quatro anos no universitário), capacidade atlética mediana e falta de grandes medidas físicas, os analistas e a comunidade no Twitter adoravam Bane por causa do seu QI de basquete, capacidade defensiva, arremesso de elite, nascente capacidade de criação e versatilidade dos dois lados da quadra. Memphis, aparentemente, também viu algo de especial no jogador que selecionou com a escolha vinda de Boston.

Um ano e meio depois, o Memphis Grizzlies está em segundo lugar no Oeste, sonhando com o título da NBA e cotado por muitos modelos diferentes como um dos cinco mais fortes candidatos ao troféu. E, depois do astro Ja Morant, você pode muito bem construir um argumento de que o melhor jogador dos Grizzlies tem sido Bane, apenas em seu segundo ano de NBA: o ex-jogador de TCU tem médias de 18 pontos, 5 rebotes e 3 assistências por jogo enquanto arremessa 42,4% de três pontos - quarta melhor marca da NBA, mesmo tentando 100 arremessos longos a mais que todos os três primeiros colocados - e dobra como um excelente defensor de perímetro.

Mas não são apenas os números individuais. Os Grizzlies se montaram em torno de uma equipe ultra-coletiva, onde qualquer um pode assumir o manto da pontuação a qualquer partida, e isso só funciona se os jogadores ao redor todos continuarem contribuindo em diferentes áreas do jogo nesses momentos, mantendo a engrenagem funcionando. Bane, em todo o time, talvez seja quem melhor personifica isso: ele pode explodir para 30 pontos, como fez contra Indiana semana passada, mas se não está recebendo a bola ou os chutes não estão caindo ele continua fazendo uma série de coisas que ajudam o resto da equipe: se movimentando sem a bola para abrir espaço com sua gravidade, movendo a bola de forma inteligente, fazendo leituras corretas, defendendo com vontade e funcionando como playmaker secundário, além de ser letal em transição para o time que mais depende de contra-ataques na NBA. Mais do que ser um perfeito encaixe em termos de basquete, Bane é a personificação da cultura do Memphis Grizzlies.

E sua evolução em relação a 2021 - que faz dele um dos principais candidatos ao prêmio de jogador que mais evoluiu na temporada - tem sido fundamental para impulsionar os Grizzlies. Bane já tinha ano passado o mesmo jogo diversificado e era um arremessador de elite (43 3PT% como calouro), mas o que destravou completamente seu jogo e da equipe é o quanto Bane evoluiu como criador: ele está conduzindo o dobro de pick and rolls do que no passado, usando isso para chegar muito mais até o aro que antes, e criando arremessos para os companheiros. Seu salto de 1,7 assistências por jogo ano passado para 2,8 esse ano não faz jus ao seu salto nessa área, e sua capacidade de atuar como playmaker secundário e por vezes como primário foi algo fundamental para Memphis sobreviver às lesões de Ja Morant ao longo do ano, e até nos minutos que sua estrela senta - Memphis está superando os adversários por mais de 11 pontos a cada 100 posses de bola quando Bane joga sem Ja Morant, e a média de assistências de Bane quase dobra nesses minutos em relação ao seu normal.

Bane pode não ter o tipo de jogo que chama a atenção em estatísticas ou apela para o grande público, motivos pelos quais ele ainda não é tão celebrado como devia ao redor da liga, mas é incrível o quanto as pessoas que acompanham a liga de perto simplesmente adoram Bane - bem como seus companheiros de time. É o tipo de jogador que simplesmente contribui com vitórias; seja em um papel primário ou a quinta opção ofensiva da equipe, ele sempre está fazendo as jogadas certas, e contribuindo nas pequenas coisas que se compõem em algo maior. Ele é o segundo melhor jogador do segundo time de melhor campanha da NBA, e a magia da coisa é justamente que ele não PRECISA ser o segundo melhor jogador do time para ajudar os Grizzlies a chegarem lá. Em um momento onde a NBA fica cada vez mais complexa de um prisma tático e cada vez mais o foco é no que jogadores e times não são capazes de fazer como uma fraqueza a ser atacada, Bane não só não oferece esse tipo de alvo como seu estilo contribui para fechar todos os outros que apareçam ao seu redor.

O camisa 22 pode não ser o nome mais famoso ou celebrado, mas é um excelente candidato a ter um jogo decisivo de 30 pontos nos playoffs que vai deixar muita gente desavisada em choque - e, se (quando?) acontecer, não deveria surpreender ninguém. Bane chegou para ficar, e aquela escolha que Memphis adquiriu de forma tão oportuna no Draft de 2020 pode acabar tendo sido a peça decisiva para montar um candidato ao título por anos a fio ao lado de Morant e Jaren Jackson Jr.