Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como Desmond Bane se tornou peça crucial de um dos melhores times da NBA
No ambiente competitivo da NBA, times inteligentes sabem explorar cada margem possível para conseguir uma vantagem extra: uma escolha de Draft a mais, alguns milhões em espaço salarial, qualquer coisa que ajude no médio prazo. E foi exatamente isso que o Memphis Grizzlies fez na noite do Draft de 2020: sabendo que o Boston Celtics, dono da escolha #30 do recrutamento, não teria espaço no seu elenco para mais um calouro, Memphis aproveitou a chance para comprar barato essa escolha - por duas escolhas futuras de segunda rodada de menor significância - e conseguir uma seleção de primeira rodada em ano do qual, de outra maneira, não teriam nenhuma.
Com essa escolha, os Grizzlies selecionaram o ala-armador Desmond Bane, um jogador curioso por causa da enorme disparidade que existia na sua avaliação entre times da NBA e analistas externos: enquanto times da NBA olhavam torto para sua idade (22 anos, já tendo jogado quatro anos no universitário), capacidade atlética mediana e falta de grandes medidas físicas, os analistas e a comunidade no Twitter adoravam Bane por causa do seu QI de basquete, capacidade defensiva, arremesso de elite, nascente capacidade de criação e versatilidade dos dois lados da quadra. Memphis, aparentemente, também viu algo de especial no jogador que selecionou com a escolha vinda de Boston.
Um ano e meio depois, o Memphis Grizzlies está em segundo lugar no Oeste, sonhando com o título da NBA e cotado por muitos modelos diferentes como um dos cinco mais fortes candidatos ao troféu. E, depois do astro Ja Morant, você pode muito bem construir um argumento de que o melhor jogador dos Grizzlies tem sido Bane, apenas em seu segundo ano de NBA: o ex-jogador de TCU tem médias de 18 pontos, 5 rebotes e 3 assistências por jogo enquanto arremessa 42,4% de três pontos - quarta melhor marca da NBA, mesmo tentando 100 arremessos longos a mais que todos os três primeiros colocados - e dobra como um excelente defensor de perímetro.
Mas não são apenas os números individuais. Os Grizzlies se montaram em torno de uma equipe ultra-coletiva, onde qualquer um pode assumir o manto da pontuação a qualquer partida, e isso só funciona se os jogadores ao redor todos continuarem contribuindo em diferentes áreas do jogo nesses momentos, mantendo a engrenagem funcionando. Bane, em todo o time, talvez seja quem melhor personifica isso: ele pode explodir para 30 pontos, como fez contra Indiana semana passada, mas se não está recebendo a bola ou os chutes não estão caindo ele continua fazendo uma série de coisas que ajudam o resto da equipe: se movimentando sem a bola para abrir espaço com sua gravidade, movendo a bola de forma inteligente, fazendo leituras corretas, defendendo com vontade e funcionando como playmaker secundário, além de ser letal em transição para o time que mais depende de contra-ataques na NBA. Mais do que ser um perfeito encaixe em termos de basquete, Bane é a personificação da cultura do Memphis Grizzlies.
E sua evolução em relação a 2021 - que faz dele um dos principais candidatos ao prêmio de jogador que mais evoluiu na temporada - tem sido fundamental para impulsionar os Grizzlies. Bane já tinha ano passado o mesmo jogo diversificado e era um arremessador de elite (43 3PT% como calouro), mas o que destravou completamente seu jogo e da equipe é o quanto Bane evoluiu como criador: ele está conduzindo o dobro de pick and rolls do que no passado, usando isso para chegar muito mais até o aro que antes, e criando arremessos para os companheiros. Seu salto de 1,7 assistências por jogo ano passado para 2,8 esse ano não faz jus ao seu salto nessa área, e sua capacidade de atuar como playmaker secundário e por vezes como primário foi algo fundamental para Memphis sobreviver às lesões de Ja Morant ao longo do ano, e até nos minutos que sua estrela senta - Memphis está superando os adversários por mais de 11 pontos a cada 100 posses de bola quando Bane joga sem Ja Morant, e a média de assistências de Bane quase dobra nesses minutos em relação ao seu normal.
Bane pode não ter o tipo de jogo que chama a atenção em estatísticas ou apela para o grande público, motivos pelos quais ele ainda não é tão celebrado como devia ao redor da liga, mas é incrível o quanto as pessoas que acompanham a liga de perto simplesmente adoram Bane - bem como seus companheiros de time. É o tipo de jogador que simplesmente contribui com vitórias; seja em um papel primário ou a quinta opção ofensiva da equipe, ele sempre está fazendo as jogadas certas, e contribuindo nas pequenas coisas que se compõem em algo maior. Ele é o segundo melhor jogador do segundo time de melhor campanha da NBA, e a magia da coisa é justamente que ele não PRECISA ser o segundo melhor jogador do time para ajudar os Grizzlies a chegarem lá. Em um momento onde a NBA fica cada vez mais complexa de um prisma tático e cada vez mais o foco é no que jogadores e times não são capazes de fazer como uma fraqueza a ser atacada, Bane não só não oferece esse tipo de alvo como seu estilo contribui para fechar todos os outros que apareçam ao seu redor.
O camisa 22 pode não ser o nome mais famoso ou celebrado, mas é um excelente candidato a ter um jogo decisivo de 30 pontos nos playoffs que vai deixar muita gente desavisada em choque - e, se (quando?) acontecer, não deveria surpreender ninguém. Bane chegou para ficar, e aquela escolha que Memphis adquiriu de forma tão oportuna no Draft de 2020 pode acabar tendo sido a peça decisiva para montar um candidato ao título por anos a fio ao lado de Morant e Jaren Jackson Jr.
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