Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Prévia da primeira rodada dos playoffs da NBA 2021-2022, Parte I
Com a temporada regular da NBA terminada mas o torneio play-in ainda em andamento, nós ainda não temos a definição de todos os times de playoffs - e, portanto, de todos os confrontos. Ainda assim, nós sabemos alguns deles, e como são oito séries de primeira rodada, vale a pena se antecipar e começar a fazer a prévia daquelas que nós já conhecemos.
Então vamos começar com três delas enquanto esperamos os resultados dos primeiros jogos do play-in, partindo do lado Leste:
#3 Milwaukee Bucks vs #6 Chicago Bulls
A temporada regular deles pode ter sido apenas ok, mas eu não tenho a menor dúvida de que os Bucks que veremos nos playoffs serão completamente diferentes. Eles são os atuais campeões e já se provaram nesse nível, e a temporada regular nesses momentos perde a graça e atração; o time não joga com todas as energias, e a equipe aproveitou para fazer experimentos com diferentes formações e estilos (além das múltiplas lesões). Agora, no entanto, isso acabou. A ideia de "virar a chave" nos playoffs não é nem de longe tão fácil e simples como parece, mas se um time merece o benefício da dúvida, são os atuais campeões.
E, nos Bulls, eles terão um adversário que dificilmente vai oferecer tanta resistência - um bom teste para recuperar o ritmo. Chicago começou bem o ano, mas vem em queda livre desde as lesões de Caruso e Lonzo Ball; estatisticamente, os Bulls são apenas o 20th melhor time da liga, abaixo de times de play-in como Spurs e Hornets. E, para piorar, Chicago sempre foi um time considerado mais de temporada regular que playoffs, com fraquezas defensivas e um jogo mais estrangulado de espaçamento que não costuma traduzir bem em pós-temporada. Os Bulls não tem ninguém capaz de defender Giannis decentemente. É difícil imaginar Chicago oferecendo muita resistência.
E eu não digo isso para diminuir os Bulls, que durante o começo do ano foram legitimamente bons; é um testamento ao quão dominantes os Bucks nos mostraram que podem ser com toda as forças ano passado. E nós vamos ter a chance de ver se esse time vai mesmo voltar - ou não - contra os Bulls nesse primeiro teste, antes das verdadeiras forças do Leste aparecerem na segunda rodada.
Palpite: Bucks em 4
#4 Philadelphia 76ers vs #5 Toronto Raptors
Em todos os times considerados "zebras" dessa primeira rodada, eu não consigo imaginar um mais insuportável de se enfrentar na primeira rodada que o Toronto Raptors. Não necessariamente por ser um bom time - eles são! - mas por ser o time mais estranho e difícil de se preparar possível. Por anos, desde que a NBA começou a ir na direção de um basquete mais versátil e sem posições, analistas e fãs do esporte se perguntaram se a versão final dessa tendência era um time com cinco alas de 2m06 capazes de trocarem a marcação entre si, armarem o jogo e arremessarem de três pontos. E, de propósito ou não, é basicamente isso que os Raptors se tornaram, um exército de jogadores atléticos, versáteis, de braços gigantes e muito físicos - algo que a NBA nunca viu nesse extremo e, portanto, não sabe exatamente como enfrentar.
Não que seja só isso que os Raptors tem à sua disposição - VanVleet e Gary Trent são dois exemplos que fogem do padrão - mas é inegável que um time que consegue usar formações com alguma combinação OG Anunoby, Scottie Barnes, Pascal Siakam, Precious Achiuwa, Thad Young e Chris Boucher vai ter nisso sua identidade. Eles transformaram isso em uma defesa de elite (após um começo confuso) e é nítido como times simplesmente não gostam de enfrentar algo tão fora da curva.
Esse exército de defensores versáteis certamente não é uma boa notícia para James Harden, que teve um fim de temporada absolutamente tenebroso na Philadelphia. Até o momento, a troca bombástica por Harden não tem dado os frutos esperados, e seu histórico não é bom nos playoffs - se a ideia era ter uma série de primeira rodada para o barbudo resgatar seu melhor basquete, essa dificilmente vai ser a resposta.
A boa notícia para os Sixers, no entanto, é que os Raptors não tem ninguém capaz de defender Joel Embiid. Os Raptors vão dificultar a vida do pivô, é claro - trocando a marcação, enviando dobras de diversos ângulos - mas o Embiid desse ano atingiu um nível onde isso não é mais suficiente; entre sua evolução como passador e seu misto de força e finesse para atacar o aro, é muito difícil para ele sem um pivô capaz de pelo menos evitar a necessidade de ajuda. Na verdade, talvez essa até seja a melhor solução para os Sixers: troque a marcação, mas não dobre em Embiid, deixe ele fazer 40 pontos e foque em parar todo o resto. Com o Harden versão 2021, essa solução não funcionaria; com o Harden das últimas semanas, pode funcionar.
No fim, eu acabo voltando para isso: Toronto pode ser uma dureza de enfrentar, um experimento saído dos planos de um gênio louco, mas o time ainda peca em talentos de ponta. Scottie Barnes é só calouro, e Fred VanVleet e Siakam podem ser jogadores de nível All Star, mas de menor escalão. Talvez o coletivo dos Raptors seja tão forte que simplesmente não importe, e eu definitivamente não descarto essa possibilidade, mas a gente sabe que a NBA é uma liga de estrelas - e os Sixers tem uma das maiores do mundo em Embiid.
Palpite: Sixers em 6
#4 Dallas Mavericks vs #5 Utah Jazz
Apesar de ser uma das maiores estrelas da NBA, Luka Doncic ainda não venceu uma série de playoffs apesar de performances e números insanos em pós-temporada. E o maior motivo disso é que, por duas vezes, os Mavericks bateram de frente com um Clippers que possuía alguém desse nível para trocar cestas com Luka (Kawhi), mas um elenco de apoio melhor e mais profundo. Bom, em 2022 esse não vai ser o caso; contra um Jazz em crise, que deriva mais sucesso do seu coletivo que das suas estrelas, Luka Doncic vai ser inquestionavelmente o melhor jogador em quadra.
Esses também são dois times que chegam na série com bastante pressão sobre suas cabeças. As derrotas passadas em playoffs dos Mavericks foram justificáveis contra um time melhor, mas agora entrando como favoritos na série, Dallas tem uma certa urgência para enfim ganhar uma série e mostrar que está montando um time capaz de ser competitivo ao redor de Luka. Da mesma forma, Utah se estabeleceu como um dos times mais consistentes de temporada regular na NBA, mas suas repetidas derrotas em playoffs criaram enormes questões sobre seu modelo de jogo e seu futuro - de fato, a expectativa de muitos é que outra eliminação precoce em 2022 forçaria Utah a um desmanche que pode ser dos grandes. Então ambos os times tem muito a perder nessa campanha.
Estatisticamente, Utah é o melhor time dos dois - de fato, é até o terceiro melhor time da liga em Net Rating - mas ninguém que viu esse time jogar realmente acha que o Jazz é tão bom assim. Parte disso talvez seja um certo viés pelos fiascos dos playoffs passados, mas não é como se o time tenha mudado esses problemas para 2022: times de playoffs espaçam a quadra contra Utah, e forçam Gobert a defender mais longe do garrafão; na defesa, eles trocam a marcação para interromper as trocas de passes e movimentação de bola dos Jazz, confiantes de que Gobert não é capaz de punir defensores menores no garrafão.
A grande dificuldade de Utah é interromper a infiltração vendo do perímetro, e não tem ninguém (tirando talvez Royce O'Neal) capaz de marcar Luka; ele vai fazer a festa atacando individualmente. Utah provavelmente vai preferir deixar Gobert mais próximo da cesta e viver com chutes de fora de caras como Maxi Kleber, mas como eu falei quando escrevi sobre os Mavericks, Luka em playoffs é um jogador à prova de esquema tático. Ele vai dominar a meia distância se Utah der o espaço, e fazer a festa com pontes aéreas se Gobert avançar longe do aro. Lukatem resposta para tudo, e se o ataque de Utah estagnar de novo, eles vão sofrer uma nova eliminação precoce. Eu simplesmente não acredito nesse time de Utah como presentemente construído; vamos ver se eles me provam errado.
Palpite: Mavericks em 5
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