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OPINIÃO

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Alguns pensamentos sobre os primeiros jogos dos playoffs da NBA

Jayson Tatum comemora a cesta da vitória no Jogo 1 diante do Brooklyn Nets - NBA/Twitter
Jayson Tatum comemora a cesta da vitória no Jogo 1 diante do Brooklyn Nets Imagem: NBA/Twitter

19/04/2022 04h00

Com o primeiro jogo de cada uma das oito séries de primeira rodada de playoffs da NBA no passado, é sempre importante lembrar que é uma tendência comum - mas ao mesmo tempo um grande erro - ler demais em um único jogo. Talvez seja uma tendência humana normal essa de querer tirar conclusões rápidas e ter informações o quanto antes, mas na pressa acabamos esquecendo o enorme nível de flutuação que um jogo isolado de basquete possui; e, por consequência, acabamos por vezes seguindo na direção errada.

Se não acredita, lembre dos Jogos 1 do ano passado. Milwaukee, eventual campeão, perdeu o Jogo 1 da série em três ocasiões, incluindo nas Finais, e em todas sua defesa pareceu não ter resposta para o adversário - deixando a impressão que os fracassos dos anos anteriores iriam se repetir. Dallas derrotou os Clippers no Jogo 1 (e no Jogo 2) em Los Angeles, dando a entender que a era Kawhi/George ia começar com um grande fiasco. Utah começou vencendo o mesmo Clippers na segunda rodada, e parecia que ia espantar seus fantasmas de pós-temporada. Os exemplos continuam por um bom tempo se quiser procurar mais.

Esse ano não é exceção. Muito pouco de informação real saiu desses primeiros jogos, e nada que deva mudar por completo as expectativas da série; claro, você pode e deve pegar alguns detalhes que afetem sua visão do todo - algum ajuste que um time mostrou, como um determinado matchup se comportou, etc - mas qualquer conclusão a essa altura é precoce. Dito isso, deixo aqui algumas curiosidades e observações dessa primeira leva de jogos, coisas que me chamaram a atenção e podem valer a pena manter um olho aberto para os próximos jogos:

1. O duelo Jokic vs Draymond Green

Jokic provavelmente vai ser eleito MVP da NBA pelo segundo ano seguido; Draymond Green, por outro lado, teria sido eleito Defensor do Ano se não fosse a lesão que o manteve fora de quadra tanto tempo. Então você sabia que, quando os dois se enfrentassem, você poderia esperar algo especial.

E o confronto não decepcionou. Draymond não passou o tempo todo marcando Jokic, dividindo a tarefa com Kevon Looney, mas quando Dray foi o responsável pela marcação, nós vimos arte em forma de defesa: nas posses de bola que tivemos o confronto direto, Draymond segurou Jokic a 6 de 15 nos arremessos de quadra para 12 pontos. Mas mais interessante foi o jogo de xadrez que os dois jogaram em relação aos passes: Jokic é um passador genial, e mais importante, um mestre em manipular a defesa e direcionar seus companheiros para abrir as linhas e espaços que ele busca. Dray, por outro lado, é um dos maiores gênios da história em antecipar justamente essa manipulação ofensiva e direcionar seus companheiros na defesa a fechar espaços antes que eles apareçam. E nisso, mais do que na pontuação, foi que Green teve uma vantagem decisiva sobre Jokic; foram ZERO assistências do sérvio quando marcado por Draymond, um dos motivos pelos quais Jokic arremessou tanto (e tão mal) quando marcado por Green.

É difícil ver essa série indo muito longe se Curry ficar cada vez mais saudável, mas esse duelo particular continua sendo um dos mais interessantes dos playoffs.

2. Tatum faz história em Boston

O Jogo 1 entre Celtics e Nets foi um clássico instantâneo; grandes performances individuais, trocas de liderança, viradas incríveis... e, claro, a cesta decisiva de Jayson Tatum no estouro do cronômetro em cima de Kyrie Irving para dar a vitória aos Celtics no estouro do relógio depois de uma sequência maluca de passes, tão inesperados que Kevin Durant até congelou no meio da jogada sem saber o que estava acontecendo.

Mas mais incrível foi a informação que foi confirmada um pouco depois: essa foi a PRIMEIRA cesta da vitória no estouro do cronômetro em playoffs do Boston Celtics jogando em casa, particularmente incrível considerando o longo histórico de sucesso em pós-temporada da equipe de Boston! Os Celtics, naturalmente, tem em vistas coisas maiores para 2022 - leia-se ganhar o título - mas, de um jeito ou de outro, essa equipe já fez história.

3. Jaden McDaniels, X-factor

Anthony Edwards (dominante nesses últimos jogos!) e Karl-Anthony Towns são inequivocamente as duas estrelas do Minnesota Timberwolves, e foram os jogadores que levaram os Wolves a uma vitória importante contra os Grizzlies. Mas Minny não sairia com a vitória de Memphis se não fosse a contribuição do seu OUTRO prêmio do Draft de 2020. Jaden McDaniels, escolhido 27 posições depois de Edwards, terminou o Jogo 1 com 15 pontos, 7 rebotes, 2 assistências e 3 tocos; com ele em quadra, os Timberwolves foram +19 (melhor marca do time), em comparação com -6 dele no banco.

Todo time que quer ganhar nos playoffs - especialmente sendo zebra, como é o caso dos Wolves - precisa desse tipo de contribuição inesperada de jogadores secundários. Mas McDaniels não é apenas chave para essa série; ele é uma das chaves para o futuro dos Wolves, um jovem jogador que pode ser uma variável decisiva em determinar o quão alto o teto desse time ao redor das suas duas estrelas vai ser. McDaniels já é um excelente defensor, com potencial de ser All-Defense, e se sua irregularidade e inconsistência (inclusive nas lesões) impedem ele de ter um impacto maior, nos momentos onde ele é capaz de contornar isso é quando os Wolves estão no seu mais perigoso.

Minny depende muito de Jarred Vanderbilt na defesa, mas ele é nulo no ataque e oferece um ponto a ser explorado por boas defesas; quando McDaniels está acertando arremessos e atacando ao receber passes no ataque, no entanto, ele é oferece uma dimensão inteiramente diferente a esse ataque dos Wolves sem perder do lado defensivo. Ele é o complemento perfeito a Towns e Edwards nesse sentido indo para o futuro - SE conseguir internalizar isso com consistência. Ele arremessou apenas 31% de três na temporada e 34% na carreira, e por vezes ele é tímido demais em atacar. Mas o talento está lá, e vimos um vislumbre do que pode vir a ser no Jogo 1.

4. Chances desperdiçadas

Como dito antes, jogos únicos na NBA - e em qualquer esporte - possuem muita variância, o que dificulta a análise em amostras pequenas. Mas existe um elemento a mais relacionado a isso: que quando a variância aponta na sua direção, você precisa aproveitar a chance e sair com a vitória, porque as circunstâncias podem não ser tão favoráveis de novo.

Nesse sentido, o time que mais tem motivos para lamentar é o Chicago Bulls. Essa série sempre prometeu ser desequilibrada - eu mesmo apostei em varrida dos Bucks - mas o Jogo 1 era uma chance que os Bulls não poderiam ter desperdiçado se quisessem sonhar: Giannis jogou apenas 34 minutos (os playoffs já começaram, Bud!) e teve problemas de faltas, Middleton foi péssimo, Holiday foi mal por 90% da partida, o banco foi quase inexistente, a defesa dos Bulls foi perfeita... era a chance de ouro de Chicago aproveitar um Bucks que claramente ainda não "virou a chave" para roubar o mando de quadra e, quem sabe, complicar a série. E não aconteceu: DeRozan mais uma vez foi mal em um jogo importante de playoffs, Vucevic arremessou 9-27, os Bulls chutaram 19% de três pontos, e Chicago entregou uma vantagem no fim do jogo para perder. É difícil imaginar uma chance melhor que essa para eles, e não aproveitaram. Agora aguenta.