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OPINIÃO

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Enterrada, virada épica, e cesta da vitória: a noite mágica de Ja Morant

Ja Morant, do Memphis Grizzlies, não tomou conhecimento de Malik Beasley - Jesse D. Garrabrant/NBAE via Getty Images
Ja Morant, do Memphis Grizzlies, não tomou conhecimento de Malik Beasley Imagem: Jesse D. Garrabrant/NBAE via Getty Images

28/04/2022 04h00

Por três quartos do Jogo 5, Ja Morant e o Memphis Grizzlies não conseguiram absolutamente nada contra a defesa do Minnesota Timberwolves. Morant tinha apenas 10 pontos em 4 de 12 nos arremessos de quadra, e embora estivesse muito bem como criador e passador, o resto do time não aproveitava os passes. Os Wolves tinham 13 pontos de vantagem nos segundos finais do terceiro período, ameaçando abrir vantagem de 3-2 na série que lhes daria a chance de eliminar os Grizzlies em Minnesota no Jogo 6. Parecia que Memphis estava no seu limite.

Mas, faltando sete segundos para o fim do quarto, Ja Morant tinha a bola no topo do arco. Ele rejeitou o corta-luz de Brandon Clarke (em ótima série, aliás), passou por Jaden McDaniels e, quando Malik Beasley tomou uma decisão infeliz e deslizou para debaixo da cesta tentando cavar uma falta de ataque, Ja Morant explodiu para entrar para a história.

Assistir a essa enterrada em vídeo é incrível, mas ver o lance ao vivo foi uma experiência surreal. Quando Morant infiltrou e percebi Malik Beasley (descanse em paz) se posicionando para cavar a falta de ataque, eu lembro distintamente de ter pensado "Ele não vai tentar enterrar... certo?! Não tem como!"... e uma fração de segundos depois Morant estava no ar, puxando a bola para trás, cravando com uma violência singular na cabeça de Beasley como se fosse um filme de basquete com efeitos ruins, onde os jogadores voam pelo ar sem seguir nenhuma lei da física. Eu não conseguia acreditar nos meus olhos, e pela reação do Twitter, não fui o único. Foi um lance que imediatamente entrou no Panteão das grandes enterradas da história do basquete, e todo mundo sabia no instante que a bola passou o aro.

A enterrada épica de Morant valeu apenas dois pontos, mas ela mudou o jogo por completo. A partir daquele ponto, Memphis começaria uma sequência de 39-24 para virar a partida e sair do Jogo 5 com a vitória que coloca o time com um pé na próxima fase, pela primeira vez desde 2015.

E se Morant vinha em um jogo fraco antes desse lance, a enterrada pareceu energizar o armador. Ele sozinho anotaria quase tantos pontos (20) quanto o resto do time dos Wolves JUNTO (24) no resto da partida. Só no quarto período foram 18 pontos, com Morant botando a bola embaixo do braço e destruindo a defesa de Minnesota, batendo 10 lances livres e destruindo qualquer marcador na sua frente. Nos útlimos três minutos do jogo, Morant anotou TREZE pontos consecutivos - os últimos 13 dos Grizzlies na partida - e 15 dos últimos 17 da equipe.

E, é claro, nenhum deles foi mais importante do que os últimos dois pontos. Quando Anthony Edwards acertou uma bola milagrosa com 5 segundos no relógio para empatar o jogo em 109 a 109, todo mundo sabia que o último arremesso do jogo seria de Ja Morant. Os Wolves, absurdamente, tentaram negar o passe para Ja, impedindo que a bola chegasse nas suas mãos através de uma marcação em cima. Foi um erro mortal; Morant se livrou da marcação de Edwards (que foi de herói a vilão ao inexplicavelmente tentar roubar a bola e deixar Ja escapar) e viu caminho livre até o garrafão. Ele explodiu para a cesta, bateu de frente com Jarred Vanderbilt, e pairou no ar para fazer sua patenteada bandeja acrobática e dar aos Grizzlies a vantagem decisiva na partida.

Memphis venceu o jogo, abriu 3-2 na série, e agora joga por uma vitória simples nas últimas duas partidas para avançar até as semifinais do Oeste. Foi a coroação perfeita para uma noite mágica de Ja Morant que entrou para a história do basquete.

A temporada 2021-2022 da NBA foi a temporada que marcou a ascensão de Ja Morant como legítima superestrela da NBA, salto esse que inclusive lhe rendeu o prêmio de Jogador Que Mais Evoluiu do ano, e o Jogo 5 da primeira rodada foi o momento definitivo (por enquanto) dessa explosão: 30 pontos, 13 rebotes, 9 assistências, 18 pontos no último período, a cesta da vitória, e uma enterrada histórica para sacramentar. Foi um jogo histórico para o jovem astro de Memphis, e um momento decisivo em uma série onde Morant não vinha sendo tão bom quanto o esperado (embora longe de estar mal).

Toda grande estrela da história do esporte tem um momento desses, onde vira uma chave na nossa cabeça em que de repente nós passamos a reconhecer o atleta como algo diferente, que oficializa algo que já se desenhava faz algum tempo, mas de repente ganha um símbolo mais forte e decisivo que pode ser fundamental para galvanizar um time jovem como esse. É cedo para dizer o que Ja Morant vai ser, se algum dia vai chegar nesse patamar histórico, ou o quão longe os Grizzlies podem ir, mas o Jogo 5 definitivamente teve essa sensação de um ponto simbólico. E, mesmo que tudo der errado, mesmo que esse seja o auge de Morant e dessa versão da equipe, eles sempre poderão olhar para trás e lembrar de um jogo que entrou para a história do basquete.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL