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OPINIÃO

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O caos e as emoções de um espetacular Jogo 4 entre Celtics e Bucks

Jayson Tatum acerta a cesta acrobática durante vitória do Boston Celtics contra o Milwaukee Bucks - NBA/Twitter
Jayson Tatum acerta a cesta acrobática durante vitória do Boston Celtics contra o Milwaukee Bucks Imagem: NBA/Twitter

11/05/2022 04h00

Quando soou o alarme indicando o fim do Jogo 4 entre Celtics e Bucks - vitória dos Celtics de virada por 116 a 108 para empatar a série em 2-2 - eu não conseguia fazer nada. Fiquei sentado um tempo, imóvel, sentindo apenas a dor nas costas de toda a tensão que os 48 minutos de jogo tinham gerado. Foi daqueles jogos que você se sente esgotado só de assistir. A série inteira já estava assim antes, extremamente física e intensa entre dois dos melhores times da NBA que brigam por cada centímetro como se fosse uma questão de vida ou morte, mas o Jogo 4 levou isso a outro nível. Foi desgastante; parecia que eu tinha aguentado cinco assaltos no ringue contra Muhammad Ali no auge.

Em certo momento do terceiro quarto, parecia que o jogo estava definido; Boston estava perdido, sem energia, vendo os Bucks abrirem vantagem. Por três vezes, os Bucks abriram 12 pontos ou mais de frente; nas três vezes, Boston respondeu e conseguiu empatar a partida. Giannis, o melhor jogador da série, chegou tão exausto no fim da partida que ele sequer conseguiu levantar direito após se enrolar com Marcus Smart (Giannis saiu para descansar logo depois).

Esse pequeno vídeo é um resumo do que foi o jogo, e eu saí dessa experiência tão exausto que não me sinto capaz de escrever um texto coerente a respeito. Ainda assim, eu preciso tirar esse jogo do meu sistema, então deixo aqui uma série de pontos e pensamentos importantes sobre o Jogo 4 que, com sorte, talvez pareçam uma coluna. Começando com o grande nome da noite...

- Al Horford, cara. Al Horford.

Horford tem 35 anos, e não faz nem dois que o Philadelphia 76ers - um candidato ao título da NBA - pagou uma escolha de primeira rodada para se livrar do contrato do pivô. Um ano atrás, Horford foi afundado no banco do Oklahoma City Thunder, que queria perder jogos. Ele voltou para Boston no que muitos viram na época como uma forma dos Celtics de se livrarem do contrato de Kemba Walker. E ontem, no Jogo 4, foi Horford quem anotou 30 pontos e bateu de frente com o melhor jogador do planeta para liderar Boston à vitória que salvou sua temporada. Jogadores de 35 anos não deveriam ser capazes de fazer... isso.

Os 30 pontos de Horford no Jogo 4 foram sua melhor marca em playoffs, e não é exagero dizer que o veterano teve no Jogo 4 a melhor - certamente a mais importante - atuação da sua carreira. Curiosamente, 19 desses pontos (em 7/10 nos arremessos) vieram no segundo tempo, depois que Giannis enterrou em cima de Horford e deu uma encarada no pivô (levando uma ridícula falta técnica no processo). Horford, segundo o próprio, levou para o lado pessoal e virou a chave, entregando uma performance de gala no momento que Boston mais precisava.

- Durante a segunda metade da temporada e os primeiros 6 jogos dos playoffs, Jayson Tatum foi um dos 10 melhores jogadores da NBA e parecia pronto para assumir seu lugar entre as maiores superestrelas da temporada. O auge disso veio na primeira rodada dos playoffs, quando Tatum foi confortavelmente o melhor jogador de uma série de playoffs que envolveu Kyrie Irving e Kevin Durant.

Mas então veio o Jogo 3, um jogo no qual os Celtics perderam por dois míseros pontos, e grande parte disso veio de Tatum ter uma das piores atuações da sua carreira: 10 pontos, 4-19 dos arremessos, 1 rebote, 3 assistências. E, em um Jogo 4 crucial no qual os Bucks assumiram a dianteira desde cedo, Tatum foi para o intervalo com 9 pontos e 0 assistências, visivelmente incomodado com a fisicalidade e o tamanho no garrafão dos Bucks. Com a temporada dos Celtics por um fio, Boston precisava de Tatum para se recuperar.

E Tatum entregou com sobras no segundo tempo: 21 pontos, 6 rebotes e 5 assistências no segundo tempo para o ala, incluindo 12 pontos (em 5/6 nos arremessos) no quarto período e com uma série de jogadas decisivas - talvez nenhuma mais impressionante que essa cesta maluca.

Giannis é o melhor jogador da série, mas para Boston vencer, Tatum precisa ser o segundo e por uma margem menor. Boston precisa do Tatum do segundo tempo do Jogo 4.

- Por falar no grego, mais uma performance dominante do ex-MVP - 34 pontos, 18 rebotes, 5 assistências - e é talvez ainda mais incrível seja o quão absurdo ele é na defesa, fechando o caminho dos Celtics perto da cesta como se fosse um paredão de Adamantium. Pelo menos cinco vezes por jogo, você claramente nota um jogador dos Celtics indo para a cesta e parando no meio do caminho com medo de Giannis estar por perto. Ele é o melhor jogador da série, e o principal motivo dos Bucks estarem com boas chances mesmo sem Middleton.

Mas, ao mesmo tempo, Giannis é só humano, e é visível o quão exausto ele tem chegado nos finais das partidas - motivo grande pelo qual os Celtics quase venceram o Jogo 3 e viraram o Jogo 4. No quarto período, quando o ataque dos Bucks estagnou e os Celtics iniciaram sua reação, os Bucks recorreram a Giannis na expectativa que o grego criasse algo do nada e batesse seu marcador o tempo todo, mas ele não teve gás para sustentar isso até o fim - especialmente porque Boston começou a atacar ele mais e mais na defesa para aumentar esse gasto de energia. A cena dele enrolado com Smart no chão, nesse sentido, foi emblemática do enorme fardo que Giannis tem carregado dos dois lados da quadra.

- A lesão de Khris Middleton obviamente é uma grande infelicidade, mas Jrue Holiday simplesmente não pode ter jogos como o Jogo 4. Os números são ruins - 5 de 22 nos arremessos para 16 pontos, -23 em quadra - mas eles não fazem jus ao quanto Holiday prejudicou a equipe na reta final do jogo. Por algum motivo, Holiday se convenceu de que ser marcado por Horford era um mismatch que ele poderia explorar, e repetidamente no quarto período Jrue parou o ataque dos Bucks - a bola não rodava, Giannis não era acionado - para tentar atacar Horford no mano-a-mano. Jrue tentou cinco arremessos no quarto período e errou todos, seu único ponto vindo em um lance livre de falta técnica (ele arremessou 2-7 contra Horford no jogo em geral).

Eu dou um desconto para Holiday porque ele precisou assumir um papel maior e fora da sua zona de conforto com a lesão de Middleton, e ele É um excelente jogador que foi fundamental nesse tipo de jogada de isolação nos Jogos 1 e 3 (as duas vitórias de Milwaukee), mas ontem ele custou caro ao seu time com sua insistência e falta de leitura de jogo.

- Se Horford e Tatum foram os dois melhores jogadores dos Celtics e os principais nomes na GRANDE vitória da equipe, o terceiro melhor foi um que muitas vezes não chama a atenção: Derrick White. Ele não é o jogador que vai te impressionar com números de box score (11 pontos, 4 rebotes, 3 assistências) mas ele simplesmente é um jogador que faz as jogadas certas na hora certa e contribui para o resto do time. Não por acaso Boston foi +18 com ele em quadra - segunda melhor marca do time atrás de Horford.

Mas o que realmente foi de outro planeta no Jogo 4 foi sua defesa. Os Bucks não acertaram um ÚNICO arremesso com White como defensor primário.

0 de 12! Isso inclui 0-6 de Jrue Holiday e 0-2 de GIANNIS ANTETOKOUNMPO, que tem 30 centímetros de altura de vantagem. Em certo ponto no segundo tempo, os Bucks tinham Giannis sendo marcado por White e preferiram fazer um corta-luz para forçar a troca e TIRAR White do grego, caçando Jaylen Brown no lugar (parte por Brown estar com problemas de faltas). Foi uma performance maravilhosa no momento que Boston mais precisou.

- Eu sei que é uma série física e intensa, com erros grotescos de arbitragem para os dois lados que fazem os ânimos se exaltarem, mas será que a gente não pode simplesmente se divertir assistindo basquete? Precisamos ficar discutindo quem é sujo, quem está certo, quem está errado, quem provocou, quem come mais carne vermelha? É um jogo. Vamos nos divertir.

E vamos para o Jogo 5.