Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como a volta de Kyle Lowry acelerou o Miami Heat para mais uma vitória
Quando foi confirmado mais cedo no sábado que o armador Kyle Lowry estaria de volta ao time titular do Miami Heat após perder os dois primeiros jogos da série, muitas pessoas questionavam se isso realmente mudaria algo para o Miami Heat após uma sofrida derrota no Jogo 2. E o questionamento tinha fundamento; em meio a lesões, Kyle Lowry simplesmente não vinha bem nos playoffs até aqui. Depois de três jogos apenas decentes para começar contra o Atlanta Hawks, Lowry ficou de fora das quatro partidas seguinte, e quando finalmente voltou contra o Philadelphia 76ers ele atuou em apenas duas partidas (e muito mal) de retornar à a lista de contundidos. Era compreensível por que muitos duvidavam se essa versão do Lowry realmente poderia fazer a diferença.
Mas basquete não é um esporte individual. Não é apenas o talento do jogador em si que faz a diferença, e sim como os cinco atleta sem quadra se complementam, relacionam e elevam (ou deixam de levar) uns aos outros. E, nesse sentido, a volta de Kyle Lowry faz uma diferença enorme para Miami não pela sua produção individual, mas pelos fatores que ele traz para a equipe.
Depois do Jogo 2, uma das grandes questões da série era como Miami ia fazer para que seu ataque de meia quadra (seu ponto fraco o ano todo) não fosse completamente sufocado pela excelente defesa dos Celtics. A melhor resposta possível? Não enfrentar a excelente defesa dos Celtics - pelo menos não quando ela estiver montada e pronta para reagir.
Esse lance não é um turnover ou rebote defensivo do Miami Heat que vira uma cesta em transição. Miami acabou de bater um fundo bola. E, no entanto, Kyle Lowry imediatamente acelera o jogo após a reposição e acha Butler em velocidade para uma cesta fácil contra uma defesa desmontada, a melhor forma de se pontuar no basquete.
Esse lance pode ser um caso extremo nesse sentido, mas é emblemático de algo fundamental que Lowry trouxe para o Miami Heat nesse jogo em comparação com o anterior: velocidade para iniciar seu ataque. Mesmo envelhecido, Lowry é um dos melhores armadores da NBA inteira nesse quesito, em pegar uma bola que normalmente seria "morta" e gerar um ataque rápido e mortal com velocidade e passes longos (os chamado "hit ahead passes"). Ao acelerar o jogo dessa maneira, Miami consegue iniciar suas ações ofensivas muito mais rápido, com muito mais tempo no relógio; e, talvez mais importante, pegar a defesa de Boston ainda sem estar preparada e posicionada corretamente. Essas jogadas em velocidade são sempre muito úteis na NBA, mas são ainda mais importantes contra uma defesa de extrema elite como a dos Celtics que é capaz de sufocar qualquer um quando está no controle das jogadas. Nós vimos isso no Jogo 2, e vimos também o oposto no Jogo 3: como, ao atacar cedo e com mais velocidade, Miami não deixou a defesa dos Celtics se postar, gerando muito mais quebras, erros de comunicação e criando espaços a serem atacados. Mesmo que Kyle Lowry não tivesse jogado bem individualmente - ele jogou, mas foi um bônus - esse elemento adicional que ele traz para o time do Heat já é suficiente para mudar totalmente o panorama e o ritmo do jogo.
Defensivamente, a presença de Lowry também ajudou bastante Miami a se impor na partida. Sem ele, Miami acabava sempre tendo em quadra dois jogadores entre Gabe Vincent, Tyler Herro, Max Strus ou Duncan Robinson, defensores ruins que ficavam excessivamente expostos. O ataque dos Celtics é especialista em caçar esses elos fracos na defesa adversária, e com dois defensores ruins, Boston tinha muitas alternativas e opções para conseguir tais quebras e colocar a defesa de Miami em situações impossíveis de rotação. Com Lowry, agora Miami tinha a opção de passar longos minutos só com uma dessas fraquezas defensivas em quadra, o que mudava a matemática da questão; agora os Celtics tinham só um jogador para atacar dessa maneira, o que fazia com que a defesa de elite do Heat - particularmente dominante nas ajudas defensivas - pudesse se antecipar e concentrar suas atenções em situações já conhecidas, sufocando o ataque dos Celtics. De novo, nenhum desses elementos dependem diretamente do que Lowry vai fazer individualmente, ou se está jogando bem ou mal, mas sua presença em quadra altera a geometria do confronto dos dois lados da quadra, favorecendo Miami no processo.
É claro, não foi apenas a volta de Lowry que transformou uma derrota humilhante no Jogo 2 em uma vitória convincente no Jogo 3. Bam Adebayo, um não-fator ofensivo nos dois primeiros jogos, teve talvez a melhor partida da sua carreira. A ausência de Rob Williams levou Boston a cometer o erro gravíssimo de colocar Daniel Theis no time titular, matando a defesa de troca dos Celtics (que funcionou tão bem no Jogo 2) e forçando Boston a jogar com os pivôs mais recuados, abrindo avenidas de ataque para Miami. Boston cometeu 23 turnovers que viraram 33 pontos em transição de Miami, depois de ter cometido apenas 4 no Jogo 2. Jayson Tatum, o melhor jogador de Boston, teve uma partida péssima com 10 pontos e 3-17 nos arremessos. Claro, parte disso tudo veio de uma excelente atuação de Miami que forçou Boston a diversos erros e tirou seu jogo da zona de conforto, mas parte também vem de fatores um pouco fora da curva que tendem a se normalizar. A volta de Lowry não transformou tudo sozinha da noite para o dia.
Mas ela faz diferença, por mais sutil que seja. E Miami conseguiu se aproveitar dessas mudanças para se impor, retomar o controle da série, e colocar Boston em uma situação complicada indo para o Jogo 4. A bola agora está na quadra dos Celtics para encontrar uma forma de recuperar seu ritmo e igualar novamente a série, no que pode ser um jogo decisivo diante da sua torcida.
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