Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O Golden State Warriors está de volta a onde pertencem: às Finais da NBA
Foi impossível assistir ao terceiro quarto da vitória dos Warriors no Jogo 3 sobre os Dallas Mavericks e não ter uma forte sensação de deja vu. Depois de ir para o vestiário com o jogo apertado, um ponto apenas na frente, os Warriors voltaram do intervalo e decidiram que definir o placar de uma vez por todas. Em um quarto, a vantagem de Golden State cresceu de um ponto para dez conforme Stephen Curry anotava bolas impossíveis de três pontos, uma defesa de extrema intensidade sufocava o ataque do Dallas forçando erros e gerando contra-ataques letais, a bola rodava por todos os jogadores, e os cinco Warriors corriam pela quadra em um caos controlado que eles dominaram tão bem. Golden state anotou 30 pontos no período arremessando 53% e dando 7 assistências em 10 cestas; Dallas anotou 21 pontos em 39 FG%. E, simples assim, o jogo estava decidido.
Durante cinco anos, entre 2015 e 2019, essas arrancadas sufocantes em terceiros períodos foi marca registrada da dinastia do Golden State Warriors, o time que chegou em cinco Finais consecutivas e venceu três delas. Era um dos momentos mais empolgantes e aterrorizantes do esporte: durante dois quartos Golden State parecia um time bom, mas normal, jogando de igual para igual com o adversário, disputando a liderança. E então o terceiro quarto chegava, e de repente os Warriors se transformavam em uma entidade superior jogando um esporte completamente diferente do resto dos meros mortais. Em uma chuva de bolas de três, defesa sufocante e contra-ataques mortais, Golden State forçava adversários a tentarem acompanhar seu ritmo e se afundarem nos próprios erros enquanto abria uma vantagem cada vez maior. Elas eram a marca registrada do melhor time que a NBA conheceu no século 21.
O time de 2022 dos Warriors não é TÃO bom quanto esses times de anos passados, em parte por não ter o talento de Kevin Durant como entre 2017 e 2019, pela menor profundidade e versatilidade em relação a 2015 e 2016, e em parte também porque Curry, Klay e Draymond estão em um ponto diferente, mais velho e menos dominante das suas carreiras. Você pode fazer um argumento bem realista de que os Warriors de 2017 foram o melhor e mais dominante time da história do basquete; ninguém está cobrando que essa nova versão do time esteja nesse nível.
Mas, se esse terceiro período do Jogo 3 deixou claro uma coisa, é de que os Warriors de 2022 são feitos do mesmo tecido do que as contrapartes de alguns anos atrás. Se perderam parte da sua explosão - especialmente nas bolas longas - eles compensaram aprendendo novos truques e adicionando novas armas ao seu arsenal, combinando com um QI de basquete cada vez maior e experiência sem igual. E dentro de quadra, é fácil ver que as bases da dinastia da década passada continuam vivas no time de 2022: um dos 10 maiores jogadores da história e o melhor arremessador de todos os tempos em Stephen Curry comandando o time, alguém capaz de dominar individualmente mas também de criar espaços e desmoronar defesas sem sequer encostar na bola como nenhum outro jogador já foi ou vai ser capaz; Draymond Green, um dos melhores defensores que já vimos, ancorando uma defesa agressiva e extremamente versátil, e servindo como distribuir no ataque; a gravidade de grandes arremessadores como Klay Thompson (e, de preferência, KLAY THOMPSON) no perímetro; um ataque cheio de movimentações, leituras rápidas, corta-luzes e improvisações, o perfeito equilíbrio entre estrutura e caos, que continua tornando defender os Warriors uma tarefa das mais ingratas e exaustivas (pergunte a Dallas); e, acima de tudo, o tipo de tomada de decisão instantânea, sincronizada, dois passos à frente do resto dos times, que só é possível com o QI de basquete de outro planeta, continuidade, entrosamento e encaixe perfeito que esse time ostenta.
Mas, talvez mais importante, o tipo de cultura e identidade que os Warriors construíram fora das quadras continua sendo não apenas presente, mas a base de tudo que está acontecendo. Durante anos, os Warriors foram o grande exemplo da NBA de construir um time que, através de um encaixe, cultura, sistema e continuidade, era maior do que a soma de suas partes. Depois da saída de Kevin Durant em 2019, os Warriors brevemente tentaram ir na direção contrária e apostar no talento bruto, mas logo perceberam que essa abordagem não teria futuro e mudaram de rumo, focando em 2021 novamente em adquirir o máximo possível de jogadores que encaixasse no seu esquema coletivo e de inteligência: Otto Porter, Gary Payton II, Moses Moody, Bjelica, Iguodala, e por ai vai. Foi essa volta às origens que impulsionou os Warriors em 2021, e que preparou o terreno para a volta da equipe às Finais da NBA em 2022. É o seu Big Three - Curry, Klay e Draymond - junto do técnico Steve Kerr que lideram por exemplo e criam o tom para os demais, uma cultura altruísta onde todos os jogadores confiam no sistema e uns nos outros, fazem a coisa certa, elevam uns aos outros, e se preocupam com a vitória sem ligar um mínimo para os próprios números e reconhecimento. Essa foi a mesma cultura que fez dos Spurs (onde Kerr, aliás, foi bicampeão da NBA) o modelo da NBA por vinte anos, e que os Warriors conseguiram assimilar de forma que muitos (eu incluso) teriam achado impossível alguns anos atrás. Os próprios Spurs não conseguiram manter isso vivo sem Tim Duncan, mas os Warriors tem algo igualmente especial em Curry e no mundo que montaram ao seu redor.
E, quando os Warriors venceram o Dallas Mavericks no Jogo 5 para garantir o título da Conferência Oeste e uma vaga nas Finais da NBA depois de dois anos assistindo aos playoffs do sofá de casa, muitas pessoas afirmaram que agora não podia existir dúvida: os Warriors estavam de volta. Mas, honestamente, eu questiono isso, porque eu não tenho certeza se os Warriors chegaram a nos deixar em primeiro lugar. Esse time é, em essência, o mesmo time dos Warriors que chegou três vezes ao topo da NBA. Uma versão diferente dele, sem dúvida, mas o time de 2019 e 2018 também era uma versão diferente do time de 2017, que era diferente dos times de 2015 e 2016; esse é apenas a mais nova encarnação, e 2020 e 2021 foram os anos atípicos devido a lesões. Você pode traçar alguns paralelos históricos com isso - o mais óbvio sendo o Chicago Bulls de Michael Jordan, que venceu três títulos entre 1991 e 1993, falhou em voltar às Finais em 1994 e 1995 sem Michael Jordan, e depois voltou a ganhar mais três anéis em 1996, 1997 e 1998 - mas a verdade é que, como tudo que veio antes, os Warriors são únicos e diferente de tudo que já vimos.
Ao invés de tentar encaixar eles em noções pré-estabelecidas, é melhor aproveitar um dos times mais icônicos da história do esporte prestes a disputar sua sexta final da liga em oito anos. Eu não sei se os Warriors estão "de volta", mas eles são incríveis, divertidos, e os favoritos a vencerem o título da NBA.
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