Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que Jayson Tatum homenageou Kobe no Jogo 7, algo impensável no Brasil
Quando o Boston Celtics tomou a quadra da American Airlienes Arena para o Jogo 7 das finais do Leste, o jogo decisivo que decidiria a segunda vaga nas Finais da NBA e poderia validar todo um processo de anos - um detalhe chamou a atenção em meio aos uniformes verdes da equipe celta: uma braçadeira roxa e amarela no braço do craque do time, Jayson Tatum.
A braçadeira, que ostentava o número 24, era uma referência clara a Kobe Bryant, lenda da NBA que faleceu em 2020 em um acidente de helicóptero. Pentacampeão da NBA, Bryant não foi apenas um craque do esporte, mas um dos seus jogadores mais icônicos fora das quadras; quando Kobe aposentou em 2016, a NBA estava começando a ser inundada de jovens jogadores que tinham crescido com Kobe sendo seu ídolo, admirando o camisa 24 dos Lakers e moldando seu jogo e personalidade ao redor do craque, assim como o próprio Kobe tinha feito com Michael Jordan anos antes.
E um desses jovens foi Tatum, que se não teve a chance de jogar contra seu ídolo - Tatum chegou à NBA um ano depois do último jogo de Kobe - Tatum sempre buscou inspiração no seu ídolo dentro e fora das quadras, chegando até mesmo a treinar com Bryant na offseason de 2018 para refinar seu jogo. E foi novamente no seu jogador favorito e ídolo no basquete que Tatum foi buscar inspiração antes do Jogo 7 decisivo contra o Miami Heat. Além da braçadeira homenageando Kobe, Tatum usou um tênis customizado da linha do seu herói, e chegou até mesmo a mandar uma mensagem para o número de Kobe antes da partida começar: "Deixa comigo".
Congrats to @jaytatum0 on being named the Eastern Conference Finals MVP! He wore a #24 yellow/purple armband in a tribute to Kobe Bryant who died in 2020.
-- Amaka Ubaka (@AmakaUbakaTV) May 30, 2022
Tatum calling Bryant his "idol"--he even shared the text he sent to him earlier Sunday on IG saying "I got you today." #7news pic.twitter.com/d3uFWIeVKT
É claro, um jogador recorrer a um ídolo de infância e inspiração em um momento decisivo não é nada incomum. Mas o que chama a atenção são os times envolvidos. o roxo e amarelo da braçadeira de Tatum são as cores do Los Angeles Lakers, o maior rival histórico do Boston Celtics e metade da maior rivalidade da NBA. Kobe, naturalmente, foi um grande ídolo justamente desse mesmos Lakers e inclusive chegou a vencer os Celtics nas Finais da NBA em 2010.
Esse conceito - a ideia de que, em um jogo decisivo, o principal jogador de uma equipe faria uma homenagem direta nas cores do maior rival - é alienígena para o modelo brasileiro de se pensar esportes. Nós somos um país onde um dos times mais populares do país se recusa a incluir a cor do rival em um posicionamento contra a homofobia. No qual rivalidade é justificativa na mente de muitos para racismo, homofobia e discriminação, sem falar em violência. Na nossa relação com o futebol, é quase impensável que a rivalidade possa ser colocada em segundo plano em prol de algo maior.
Não que os Estados Unidos não tenham seus próprios exemplos de relação tóxica com os esportes, é claro, e momentos onde a rivalidade e animosidade que dela decorre, mas o caso do Jayson Tatum com Kobe é um exemplo de como a rivalidade pode ser colocada na devida perspectiva, e não apenas colocada de lado por instantes quando algo mais significativo, mas na verdade servindo como plataforma para mostrar o quão importante essa coisa é. Rivalidades são parte fundamental dos esportes e da forma como nós os consumimos; ter um grande rival, alguém que tira o melhor de você e gera confrontos a serem contadas para nossos filhos como se fossem épicos gregos, não tira a grandeza de uma equipe, mas acrescenta. Os Celtics não seriam tão gigantes na história dos esportes se não fossem os Lakers, e vice versa. A vontade de ganhar do outro sempre vai existir, e tudo bem, desde que a gente entenda que existe coisas maiores e mais importantes no mundo.
E se você acha que o gesto de Tatum é inédito nesse sentido de transcender grandes rivalidades, você se engana. Bill Russell, o maior jogador da história do Boston Celtics e único jogador a ter 11 títulos de NBA, também já usou não apenas as cores, mas uma camisa dos Lakers para um jogo em homenagem ao mesmo Kobe em 2020 após sua morte.
A rivalry of respect: Celtics legend Bill Russell honors Kobe Bryant pic.twitter.com/ReNP1yPIeo
-- Sports Illustrated (@SInow) February 23, 2020
Vinte e oito anos antes, foi o maior jogador dos Lakers que vestiu a camisa verde e branca: Magic Johnson entrou em quadra no Boston Garden para discursar na aposentadoria do seu maior rival e amigo querido, Larry Bird, usando uma camisa dos Celtics por baixo do casaco dos Lakers.
28 years ago today, the Celtics retired Larry Bird's #33 jersey to the rafters of the Boston Garden.
-- BostonCelticsForever (@BostonCelts4eva) February 4, 2021
Magic Johnson - "Larry, you only told me one lie. You said there will be another Larry Bird. Larry, there will never, ever be another Larry Bird." pic.twitter.com/rpM8EulDUX
A rivalidade entre Magic e Bird, uma das maiores da história da NBA, serviu para impulsionar o esporte como talvez nenhuma outra já vista no basquete, mas em nenhum momento os dois craques acharam que isso os impedia de serem grandes amigos.
A lição está ai, repetidas vezes, para quem se dispor a aprender com ela. E eu só torço para que um dia chegue até aqui.
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