Só ataque? Como Curry dominou o Jogo 2 das Finais da NBA com sua defesa

Quando nós falamos de Stephen Curry, nós imediatamente pensamos em ataque: seus dribles desconcertantes, arremessos de três pontos e a capacidade de criar espaço sem paralelos que fizeram dele um dos maiores jogadores da história do basquete. E, de fato, essa dominação ofensiva esteve em primeiro plano na vitória dos Warriors sobre o Boston Celtics no Jogo 2 das Finais da NBA, no qual Curry anotou 29 pontos em apenas três quartos para liderar os Warriors à vitória - incluindo uma explosão de 14 só no terceiro período que efetivamente matou o jogo, que envolveu alguns arremessos verdadeiramente obscenos.

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Mas Curry está acostumado a ser o melhor jogador em uma quadra de basquete ao longo da sua carreira. A surpresa do Jogo 2 foi que dessa vez a frase teve um detalhe a mais: No Jogo 2, Curry foi também o melhor jogador DEFENSIVO em quadra.

Essa frase pode parecer absurda porque nós não associamos Curry a um grande defensor. Em parte isso se dá pelo seu perfil físico, tão diferente do que costumamos associar a astros defensivos, e de fato por vezes a falta de altura e força física de Curry é um limitante; nós já vimos no passado times caçarem ele defensivamente para explorar esse aspecto, forçando Curry a defender jogadores maiores. Altura ainda conta muito no basquete, e um jogador do tamanho de Steph sempre vai ter limitações desse lado da quadra.

Mas a maior parte dessa percepção vem do fato de que é muito difícil analisar defesa, e geralmente acabamos nos limitando a prestar atenção em excesso a jogadas de efeito e situações de um contra um. E isso não só representa uma parte muito pequena do que faz um bom defensor, mas como não valoriza os aspectos de execução coletiva que é onde Curry realmente brilha. Ele é um jogador extremamente inteligente que sabe ler e reagir às jogadas muito rapidamente, executar o esquema com perfeição e tomar as decisões certas para impedir que o adversário tenha espaço para bons arremessos. E isso esteve em primeiro plano no Jogo 2 contra os Celtics.

Nós já vimos Curry tendo ótimas performances defensivas nesses mesmos playoffs, notavelmente contra o Dallas Mavericks nas finais do Oeste. Dallas tem como foco ofensivo buscar o menor jogador adversário, tentar envolver ele em ações para criar uma situação de 1 vs 1 contra Luka Doncic, e atacar a partir disso. Contra os Warriors, Curry foi o jogador que eles tentaram atacar defensivamente, e parte enorme do fracasso de Dallas nessa série vem do fato de que eles fracassaram nessa empreitada, em parte pelo quão bom Curry foi desse lado da quadra. Steph executou com perfeição as rotações que precisava sem abrir espaço para Dallas e evitando criar o duelo com Luka que Dallas queria, e quando foi impossível evitar e Curry virou o defensor primário na jogada, ele fez um trabalho excepcional forçando erros e evitando cestas fáceis. Os Mavericks arremessaram menos de 40% de quadra (19 de 48) com Curry sendo o defensor primário ao longo dos cinco jogos da série, e muitas outras posses foram estragadas com Dallas perdendo tempo caçando Steph sem sucesso e gastando o relógio.

No Jogo 2, no entanto, Steph esteve em outro nível defensivo. Boston arremessou 3-11 contra Curry na partida, e cometeu três turnovers no processo. O mais fácil de perceber são os lances onde Curry lê as jogadas e usa sua atividade defensiva para cortar linhas de passe, roubar a bola e sair em transição - situações decisivas contra a defesa dos Celtics.

Mas roubos de bola são uma coisa; forçar o adversário consistentemente a gastar relógio e rodar a bola, sem ceder espaços ou arremessos fáceis, pode não ter o mesmo charme ou registro estatístico, mas é o que se acumula ao longo de 100 posses de bola para mudar a partida a seu favor. E, com os Warriors encarando o jogo mais baixo do Boston Celtics que tinha dado certo no Jogo 1, Golden State recorreu a diversas trocas de marcação - e Curry, ao invés de ser um alvo defensivo, abraçou o papel e marcou todos os tipos de jogadores com perfeição. Veja, por exemplo, como ele segura Al Horford (23cm e 20 quilos maior que Curry) no garrafão nesse lance, direcionando o pivô de Boston para a direção da ajuda e fazendo a leitura perfeita para cortar o passe e roubar a bola:

Uma jogada depois, aqui está Curry completamente sufocando o drible de Payton Pritchard, engolindo o armador dos Celtics sem ceder um palmo de espaço, eventualmente forçando a violação dos Celtics e mais um turnover:

Essas duas jogadas, inclusive, vieram no meio da arrancada decisiva dos Warriors no terceiro período. Com o próprio Steph comandando o show ofensivo de Golden State e colocando Boston em uma situação de tentar acompanhar, os Celtics tentaram responder da mesma forma que Dallas, buscando Steph defensivamente e testando o armador defensivamente. Seu sucesso desse lado da quadra nesses minutos foi fundamental para estrangular o ataque de Boston, forçar erros e novamente alimentar a máquina de destruição dos Warriors, que usou esse quarto para definir o jogo.

E não é apenas sendo o defensor primário que Curry ajudou a parar o ataque dos Celtics. Olhe nessa posse, como tudo que Curry faz é a jogada certa na hora certa: ele não aceita a troca para marcar Tatum, mas ainda impede o passe fácil e se recupera para se manter próximo de White. Os Celtics então tentam colocar White no pick-and-roll, mas Curry atropela o corta-luz e se mantém preso a White, impedindo a infiltração do armador. Curry desvia as tentativas de Boston de forçar uma troca e criar um missmatch, e tudo isso sem abrir nenhum espaço ou passe fácil. Quando ele finalmente aceita a troca e marca Horford, ele sabe que o relógio está acabando e que os Celtics não vão ter mais tempo de aproveitar a vantagem de altura, forçando um arremesso ruim no estouro do cronômetro:

Você pode fazer o argumento de que esse foi o melhor jogo defensivo da carreira de Steph, alguém que sempre foi um bom defensor mas que ultimamente está chegando em outro nível. Sua atuação desse lado da quadra foi fundamental para os Warriors vencerem os Mavericks, destruindo por completo todo o plano ofensivo de Dallas, e no Jogo 2 ele fez o mesmo com o Boston Celtics. Ele evitou trocas, fez as jogadas certas, dominou na defesa individual, e forçou erros e contra-ataques que viraram pontos fáceis e uma chuva de bolas longas.

Curry pode ser um dos maiores - talvez O maior - jogador ofensivo da história do basquete, mas ele está muito longe de ser apenas um jogador de ataque. E sua defesa agora está ajudando os Warriors a buscarem mais um título de NBA.