Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como o mar ajudou Klay Thompson a voltar às quadras - e ao título - da NBA
O dia 12 de junho de 2019 foi um dos mais longos da história do basquete; ele durou dois anos e meio - ou, mais precisamente, 941 dias. Esse foi o período no qual duas das mais graves lesões que um atleta pode sofrer mantiveram Klay Thompson afastado das quadras da NBA.
No dia em questão, os Warriors entraram em quadra para se manterem vivos nas Finais da NBA. O time da Califórnia perdia por 3 a 2, e sabia que o Toronto Raptors poderia concluir a série naquela noite. O mais pessimista torcedor poderia pensar, na pior das hipóteses, que o título iria para o Canadá - como de fato foi - e que a conquista do sétimo título da franquia seria adiado, mas não que Golden State perderia o segundo melhor jogador da equipe por tanto tempo, ainda diante da iminente saída de Kevin Durant.
A dinastia dos Warriors, que chegou a cinco finais consecutivas entre 2015-2019 e saiu vitoriosa por três vezes, agora parecia acabada, e o que o torcedor viu no ano seguinte foi um elenco completamente desfigurado com a ausência dos splash brothers - já que Stephen Curry também perdeu a temporada quase inteira com uma fratura na mão. A cena da lesão de Klay, uma ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, e de Steph, sentado, já parecendo aceitar que a derrota era irreversível após a lesão, ainda ecoava na mente dos torcedores; e, pior, ecoaria por mais um ano completo.
Prestes a fazer sua reestreia no despontar da temporada 20/21, na noite do Draft, chegou a notícia de que o ala tinha sofrido uma nova lesão, tão grave ou até mais grave que a primeira, dessa vez no tendão de Aquiles. Foi o maior anticlímax que o basquete proporcionou ao detentor do recorde de mais cestas do perímetro convertidas em um só jogo. Naquele ano, dentro das quadras Stephen estreava sua versão "filho único" enquanto esperava seu splash bro voltar à ativa, enquanto fora delas consolava o seu "irmão", visivelmente abalado pelo auge perdido da carreira.
Enquanto era inviável praticar o esporte que é sua maior paixão, Klay se viu preenchido pelo mar. Eram as águas salgadas da baía de São Francisco que acompanhavam o atleta, que já se afirmou um amante da navegação. A vastidão da ansiedade pelo retorno parecia se acalmar ao ir de encontro à equivalente infinidade do oceano, e essa parceria seguiu mesmo após o dia em que ele pôde, enfim, retornar à terra firme delimitada pelas quatro linhas.
Tardou, mas o fatídico dia de junho de 2019 chegou ao fim em 9 de janeiro de 2022, quando o locutor do Chase Center anunciou o nome do camisa 11 como titular diante do Cleveland Cavaliers. A atmosfera era semelhante à de uma comemoração de um título. O Warriors teve, inclusive, muitos "títulos" a comemorar no ano: a partida onde Stephen alcançou o topo do ranking de mais bolas de 3 convertidas em temporadas regulares, o crescimento de Jordan Poole e Andrew Wiggins, e, claro, o retorno de Klay Thompson. Era o prenúncio de um futuro que em breve se faria presente.
Porque, além das vitórias individuais e conquistas não-contabilizadas nas estatísticas oficiais, coletivamente tudo parecia conspirar para que o Golden State Warriors tivesse uma temporada mágica. Pela primeira vez em três anos com o trio Steph-Klay-Draymond disponível, somado ao desenvolvimento citado de atletas como Wiggins e Poole, à tradicional genialidade de Steve Kerr e às atuações precisas de nomes como Kevon Looney, Otto Porter Jr. e Gary Payton II, o Warriors voltou a conquistar o título da NBA, e provou que a dinastia não foi encerrada pela adversidade, por maior que ela tenha sido.
Ao mesmo tempo em que é possível dedicar um livro inteiro a esses últimos meses de Klay Thompson, é difícil achar palavras para descrever - com a verossimilhança exigida e a fascinação necessária - a narrativa do título construída pelo camisa 11. É claro que o ala voltou em um ritmo um pouco inferior, mas ainda assim foi possível ver momentos onde a carreira não parecia ter sido interrompida.
Um exemplo foi o último duelo contra o Dallas Mavericks, nas finais do Oeste. Nessa série, não foi possível ver o folclórico "Klay Jogo 6" porque o camisa 11 resolveu a parada no Jogo 5. Foram 32 pontos e oito cestas do perímetro para, ao final do jogo, falar visivelmente emocionado - e sob o olhar igualmente emocionado de Steph - que o trabalho não havia terminado, e que ainda seriam necessárias quatro vitórias para chegar onde queriam. A partida assegurou o título da conferência Oeste ao Golden State e abriu passagem para as Finais da NBA, onde o time da Califórnia viria a superar o Boston Celtics.
Cada enterrada, cada contato de jogo, cada queda, cada possibilidade mesmo improvável de lesão fazia parar momentaneamente o coração do torcedor, como se aquele camisa 11 não fosse imbatível em tantos momentos; como se o especialista em defesa não fosse capaz de defender a si mesmo; como se não fosse um alquimista capaz de fundir gelo e fogo, esquentando jogos e ginásios com a frieza das bolas decisivas que poucos têm.
Klay é uma peça vital e insubstituível de um trio perfeitamente complementar que, desde o Draft, constitui a alma atual de toda uma franquia e se fortalece como uma das maiores parcerias da história da NBA. Contra os Celtics, Stephen Curry, Draymond Green e Klay Thompson chegaram à marca de 21 vitórias em finais, ultrapassando outro trio lendário em Duncan, Tony Parker e Manu Ginóbili, do San Antonio Spurs, que até então figuravam no topo, com 19. São, também, ao lado de Andre Iguodala e LeBron James, os maiores campeões em atividade da liga, com quatro títulos.
Se o famoso ditado "mar calmo nunca fez bom marinheiro" é verídico, Klay é um bom exemplo de quem, literalmente, aprendeu a navegar por águas turbulentas. Que não falte água ao marinheiro - e nem os famosos splashes ao jogador.
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