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Como Gui Santos conquistou o campeão da NBA para ser escolhido no Draft
Depois de muita espera e especulação, agora é oficial: Gui Santos se tornou o 16º brasileiro a ser escolhido no Draft da NBA. O ala do Minas Tênis, de 20 anos, foi pinçado pelo atual campeão da NBA, o Golden State Warriors, na escolha de número 55 do recrutamento de novatos. Foi praticamente no limite: depois dele, apenas mais três nomes foram anunciados. De modo que, segundo o próprio jogador, ele já estava indo dormir por achar que não tinha mais chances de realizar esse sonho.
Houve suspense, mas, durante um longo processo que é o flerte da liga americana com promessas mundo afora, algumas pistas já haviam sido dadas sobre um possível interesse dos Warriors pelo jogador. Por exemplo: em maio deste ano, enquanto o time disputava série complicada contra o Memphis Grizzlies nos playoffs, um olheiro do clube veio ao Brasil para assistir a no mínimo duas partidas do Minas, segundo apurou o UOL Esporte.
Essa foi a primeira avaliação oficial in loco por por parte de um funcionário da franquia californiana. Não são muitos os "scouts" da liga americana que vêm ao Brasil para fazer esse tipo de estudo, que inclui não só a análise técnica, mas também passa por uma investigação sobre os hábitos e passado do jogador.
A viagem chama a atenção pelo fato de que, entre os 30 clubes da NBA, os Warriors talvez já fossem aqueles que tivessem mais informações sobre o brasileiro. Afinal, é o clube que hoje emprega o ex-jogador Leandrinho Barbosa —campeão em 2015 pela equipe— como assistente técnico na comissão de Steve Kerr.
Gui Santos e Leandrinho jogaram juntos pelo Minas Tênis em 2019. O então veterano cestinha foi, então, parte fundamental e natural na avaliação do jovem ala — mas os Warriors logicamente não pautaram uma decisão de milhões de dólares apenas na opinião de uma pessoa. Daí a visita do scout ao Brasil e o estudo minucioso do jovem atleta por meio de horas e horas de partidas gravadas.
E o que os Warriors viram? Um jogador que tem o perfil que times procuram hoje em um jogador moderno da posição 4: um ala com boa envergadura e capacidade física que permite a ele acompanhar os jogadores mais atléticos da NBA, com boa versatilidade defensiva capaz de defender diferentes jogadores e em diferentes esquemas, e com um jogo ofensivo diversificado.
Os Warriors se destacam por ser um time onde todos os jogadores precisam fazer um pouco de tudo —defender, criar, arremessar— e viram em Gui esse tipo de atleta; os olheiros da NBA que conversaram com o UOL Esporte destacam a capacidade de criação e passe de Gui como sua característica mais interessante, algo que poucos jogadores com seu tamanho possuem mas que cada vez mais vem sendo fundamental no basquete da maior liga de basquete do mundo. Por outro lado, seu arremesso de três pontos (hoje abaixo da média), é apontado como a variável chave para determinar sua trajetória na NBA.
Claramente, os Warriors gostaram o suficiente do que viram, e apostaram nesse jogador promissor com sua escolha de Draft.
O que vem por aí?
Os próximos passos de Gui com os Warriors ainda são incertos. A diretoria do clube ainda não tem decisão tomada a respeito do brasileiro. Existem quatro caminhos possíveis:
- contratá-lo já para a próxima temporada;
- deixá-lo seguindo carreira NBB, monitorando seu desenvolvimento;
- incentivá-lo a buscar uma liga mais forte, no exterior, também como forma de adaptação à vida longe de casa;
- por fim, usar a filial do Golden State na liga de desenvolvimento da NBA, a G-League, na cidade de Santa Cruz, na Califórnia.
O aproveitamento imediato de Gui Santos pelos Warriors é visto por scouts da liga, em contato com o UOL Esporte, como algo improvável no momento. Um time da NBA pode empregar até 17 jogadores durante a temporada, e o Golden State já tem hoje nove atletas sob contrato. Além disso, além de Gui, o clube selecionou outros dois jogadores na noite do Draft, que hoje estão à frente da fila: o ala Patrick Baldwin (escolha número 28) e o armador Ryan Hollins (44º, cuja escolha custou US$ 2 milhões aos cofres do clube).
Para um time que pensa no bicampeonato, a expectativa da concorrência é de que o restante do elenco seja preenchido com jogadores mais experientes. A leitura, então, é de que os Warriors manteriam os direitos sobre o jogador, mas contando com seu desenvolvimento em outras praça para, quem sabe, chegar à NBA alguns anos depois e mais pronto para contribuir. Mas, reiterando: essa rota ainda não foi definida internamente pelo clube, segundo uma fonte próxima à situação.
Em conversa com jornalistas após o Draft, o GM dos Warriors, Bob Myers, não descartou a possibilidade de Gui se juntar ao elenco dos Warriors ainda nessa temporada.
Monitorado durante a pandemia
O fechamento de aeroportos e fronteiras nos últimos anos deixou a vida dos aspirantes estrangeiros à NBA mais complicada. Ainda assim, o avanço nos números e no rendimento de Gui Santos foram o suficiente para mantê-lo no radar da liga. Um ano atrás, após o Draft de 2021, o especialista Jonathan Givony, da ESPN americana e uma das maiores autoridades do assunto, tinha Gui projetado como possível 33ª terceira no recrutamento. Na mesma época, um olheiro da NBA, em condição de anonimato, disse ao UOL Esporte que acreditava que Gui tinha chances reais de sair na primeira rodada em 2022, e que o interesse nele era bastante genuíno ao redor da liga.
A cotação de Gui Santos, porém, não decolou a esse ponto. Em grande parte por causa de uma classe de recrutas que surpreendeu positivamente no basquete universitário e aumentou a concorrência por poucas vagas.
Para tentar causar maior impacto na avaliação das franquias, então, Gui Santos viajou aos Estados Unidos para fazer treinos particulares com dez equipes diferentes —incluindo o Golden State Warriors— e cresceram novamente as conversas de bastidores de que o brasileiro seria escolhido na segunda rodada do Draft. Na noite de quinta, os Warriors fizeram do sonho realidade.
Quem é Gui Santos
Guilherme Carvalho dos Santos é natural de Brasília, filho de um ex-jogador de basquete - o pivô Deivisson, que teve longa carreira na elite da modalidade no país. Cresceu, por isso, ao redor das quadras e desde muita jovem chamou a atenção de olheiros e técnicos.
Precoce, ele passou a integrar o elenco profissional do Minas Tênis já aos 16 anos, na temporada 2018/19. Mas sua transição para o elenco adulto foi feita com cuidado. Foi apenas em 2020/21, já mais maduro fisicamente, que ele passou a fazer parte da rotação do time de Belo Horizonte, entrando aí de vez no radar dos scouts da NBA.
Em janeiro de 2020, por sinal, ele recebeu a primeira convocação para a seleção brasileira, chamado pelo croata Aleksandar Petrovic, um admirador declarado. Se ainda não virou um protagonista de um clube de orçamento elevado, mostrou nos últimos dois anos evolução constante a ponto de convencer o Golden State Warriors de apostar em seu futuro.
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