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OPINIÃO

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Nuggets, Cavaliers, Hawks e mais: As notas do Draft da NBA, Parte III

Ochai Agbaji, escolha #14 do Draft da NBA pelo Cleveland Cavaliers, antes e depois - NBA/Twitter
Ochai Agbaji, escolha #14 do Draft da NBA pelo Cleveland Cavaliers, antes e depois Imagem: NBA/Twitter

29/06/2022 04h00

O Draft da NBA - eventual no qual jogadores amadores são selecionados pelos times da liga - foi realizado semana passada, e nós já falamos um pouco a respeito por aqui: tivemos um breve resumo das primeiras escolhas, e depois entramos em detalhes sobre como o brasileiro Gui Santos acabou sendo escolhido pelo atual campeão da NBA, o Golden State Warriors.

Mas agora é hora de fazer uma análise mais completa, então vamos passar por todos os 30 times - sim, todos os 30 - da NBA para palpitar em como cada um se saiu em uma das noites mais importantes do ano. Por questões de espaço, essa coluna vai ser dividida em cinco partes:

Parte I - Segunda, 27/06
Parte II - Terça, 28/06
Parte III - Quarta, 29/06
Parte IV - Quinta, 30/06
Parte V - Sexta, 01/07

Lembrando que essa nota é só uma reação instantânea da minha parte, e não deve ser levado tão a sério. E se você está se perguntando porque um site brasileiro está usando o sistema norte-americano de nota, bem, esse é um daqueles mistérios da vida.

Cleveland Cavaliers: B+

Ochai Agbaji, SF (#14)
Khalifa Diop, C (#39)
Isaiah Mobley, PF (#49)
Luke Travers, SF (#56)

Antes de mais nada, respondendo à sua primeira pergunta: sim, Isaiah Mobley é irmão do Evan Mobley. Nota bônus para os Cavs por reunirem os irmãos.

Os Cavaliers mostraram ano passado que tinham um dos núcleos jovens mais empolgantes e promissores da NBA, e esse Draft - que, o time espera, seja sua última escolha na loteria em um bom tempo - era uma chance valiosíssima para a equipe conseguir adicionar mais um jovem jogador de alto nível a esse time tão promissor.

E Agbaji encaixa como uma luva: um veterano da NCAA capaz de entrar e contribuir no curto prazo, que preenche as lacunas que a equipe mais precisa. Se você fosse desenhar em laboratório o jogador perfeito para os Cavs nesse Draft, ele provavelmente ofereceria mais capacidade de drible e criação; mas na NBA você precisa lidar com o que é possível, e a combinação de arremesso, defesa de perímetro e inteligência em quadra de Agbaji traz elementos que os Cavaliers precisam com urgência. Agbaji chega para corrigir esse problema, trazer o tipo de peça para conectar todas as outras na posição mais carente do time, e ainda oferecer algum potencial de desenvolvimento.

Atlanta Hawks: B+

AJ Griffin, SF (#16)
Tyrese Martin, SG (#51)

Se estamos falando de talento, Griffin deveria ter sido uma escolha de loteria, provavelmente uma escolha Top10: ele é um arremessador de elite (45% de três pontos em Duke) com envergadura gigantesca e grande potencial defensivo, com boa capacidade atlética e espaço para crescer como criador. Ele era, de fato, um dos meus jogadores favoritos da classe, e em termos de talento, os Hawks saíram ganhando em muito ao ver Griffin cair para o #16.

Mas tem um motivo para Griffin ter caído até aqui - seus joelhos, ambos cirurgicamente reparados e que afetaram bastante sua mobilidade em Duke - e é impossível palpitar sobre o que isso significa para seu futuro sem acesso a informações médicas. Eu acho que os Hawks acertaram em cheio ao apostar em um talento de maior potencial, especialmente dada sua situação de relativa estagnação no momento, mas não da para dizer se vai dar certo ou não a essa altura.

Chicago Bulls: B-

Dalen Terry, SG (#18)

Eu entendo a frustração de alguns torcedores com essa escolha, especialmente considerando que a maioria das projeções tinham Terry como escolha do finzinho da primeira rodada; de fato, talvez não tenha sido o melhor uso do valor da escolha em si. Você também pode argumentar que Chicago já tem jogadores relativamente semelhantes em Ayo, Patrick Williams e Javonte Green, de modo que Terry talvez seja um pouco redundante no elenco.

Mas eu simplesmente gosto de Dalen Terry: a versatilidade e agressividade defensiva que ele oferece são características que Chicago tem em grande falta - só ver como a equipe sofreu quando Lonzo Ball e/ou Caruso estavam fora com lesões - e, para um time que pode ficar excessivamente mecânico e apático em certos momentos, a energia contagiante de Terry pode ser um diferencial. Ele não projeta ser um jogador que vá mudar de patamar um time que talvez precisse justamente desse boost, mas você dificilmente vai encontrar jogadores assim no #18 de qualquer modo, e o que ele traz ajuda nas margens de um jeito difícil de quantificar.

Memphis Grizzlies: C-

Jake LaRavia, PF (#19)
David Roddy, SG (#23)
Kennedy Chandler, PG (#38)

O Memphis Grizzlies é muito bom - sem dúvida melhor que eu - nisso de Draft, e certamente merecem o benefício da dúvida com suas escolhas. Mas eu realmente não consigo entender a lógica do que fizeram aqui: eles trocaram uma escolha de primeira rodada extra (#29) para subir três míseras posições na primeira rodada, do #22 para o #19, para pegar um jogador que era cotado pela maioria como jogador do fim da primeira rodada; em seguida, Memphis trocou um excelente coadjuvante e candidato a Sexto Homem do Ano em De'Anthony Melton para recuperar essa escolha extra que perderam, e usaram em um jogador cotado como sendo da segunda metade da segunda rodada do Draft. Em uma palavra... que?

Individualmente você até consegue racionalizar os movimentos: uma 1st round pick por um reserva é bom valor de modo geral, e para um time profundo e sem espaço para múltiplos calouros faz sentido tentar juntar as escolhas e tentar subir por um jogador melhor.. mas, colocando os movimentos juntos, eles simplesmente não batem, e isso antes de entrar no mérito do valor dos jogadores que eles escolheram.

Não que eu desgoste dos jogadores; LaRavia em especial me agrada com seu combo de arremesso, defesa e inteligência que deve substituir bem o papel de Kyle Anderson, e Chandler é um jogador subestimado pela altura mas que tem tudo para ser um ótimo armador reserva. Mas todo o processo, e o valor das escolhas, é altamente questionável. Vamos ver se Memphis supera mais uma vez as expectativas.

Minnesota Timberwolves: A-

Walker Kessler, C (#22)
Wendell Moore Jr, SF (#26)

Os Wolves são o oposto dos Grizzlies nesse caso: maximizaram o valor da sua escolha, transformando a #19 em dois jogadores no que era um Draft profundo nessa localização. Para um time que sofreu com sua rotação em momentos, é o tipo de movimento que faz sentido - e os Wolves fizeram valer.

Kessler talvez seja a escolha mais questionável das duas, mas a ideia seja clara: os Wolves tem procurado desesperadamente um pivô protetor de aro para jogar ao lado de Towns no garrafão, indo atrás de nomes como Capela e Gobert no mercado. Kessler é um dos melhores protetores de aro do Draft (4,6 tocos por jogo na NCAA) e preenche essa função mais barato do que seria trocar E pagar um veterano no mercado; eu pessoalmente não gosto muito desse processo de focar demais em algo que você quer e ignorar o contexto, mas se é para ir atrás dessa experiência com dois pivôs, prefiro que apostem no potencial de Kessler em um contrato barato.

Mas a escolha que eu realmente amei foi a de Moore. Sempre fui a favor de usar escolhas de fim de primeira rodada em prospectos de grande expectativa que não corresponderam na universidade, mas Moore mudou a narrativa em 2022 com um excelente ano em Duke que mostrou toda sua habilidade de NBA. O fato de que vem no seu terceiro ano e que ele entra na NBA dois anos mais velho que o normal é o que impediu uma escolha mais alta, mas ele é exatamente o ala complementar que os Wolves precisam: excelente arremessador, muito bom passador e criador secundário, boa e versátil defesa. Minnesota procurava alguém como ele por anos, e encontrou com sua escolha extra de Draft.

Denver Nuggets: B+

Christian Braun, SF (#21)
Peyton Watson, SF (#30)
Ismael Kamagate, C (#49)

Eu simplesmente amo a escolha de Braun aqui, porque ele é o jogador feito em laboratório para jogar nos Nuggets: excelente arremessador, defensor físico e muito atlético, ótimo em transição, com altíssimo QI de basquete e que faz o trabalho sujo. O problema com Braun é que ele não é um pontuador natural, que cria arremessos para si e bate defensores a partir do drible; mas, em Denver, ele não precisa ser. Se Braun é um finalizador e não um criador, não tem lugar melhor para ele cair que em Denver. Sua inteligência em quadra, leitura de jogo e capacidade de jogar sem a bola vão fazer dele um favorito de Nikola Jokic, recebendo vários passes para finalizar vindo de cortes e movimentações, espaçando a quadra e defendendo várias posições.

Watson é uma escolha que eu questiono um pouco, embora a lógica seja clara: um considerado um talento de loteria antes da temporada que caiu após um ano complicado na faculdade, em meio a um contexto desfavorável, mas cujo talento ainda é atrativo e vale a aposta no seu potencial - eu só acho que, a esse ponto do Draft, tinha opções melhores para Denver.

A seguir: Parte IV