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OPINIÃO

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Warriors acerta em cheio com brasileiro: As notas do Draft da NBA, Parte IV

O ala Gui Santos, 20, comemora a escolha pelo Golden State Warriors no Draft da NBA - Divulgação
O ala Gui Santos, 20, comemora a escolha pelo Golden State Warriors no Draft da NBA Imagem: Divulgação

30/06/2022 04h00

O Draft da NBA - eventual no qual jogadores amadores são selecionados pelos times da liga - foi realizado semana passada, e nós já falamos um pouco a respeito por aqui: tivemos um breve resumo das primeiras escolhas, e depois entramos em detalhes sobre como o brasileiro Gui Santos acabou sendo escolhido pelo atual campeão da NBA, o Golden State Warriors.

Mas agora é hora de fazer uma análise mais completa, então vamos passar por todos os 30 times - sim, todos os 30 - da NBA para palpitar em como cada um se saiu em uma das noites mais importantes do ano. Por questões de espaço, essa coluna vai ser dividida em cinco partes:

Parte I - Segunda, 27/06
Parte II - Terça, 28/06
Parte III - Quarta, 29/06
Parte IV - Quinta, 30/06
Parte V - Sexta, 01/07

Lembrando que essa nota é só uma reação instantânea da minha parte, e não deve ser levado tão a sério. E se você está se perguntando porque um site brasileiro está usando o sistema norte-americano de nota - que vai de F até A+ - bem, esse é um daqueles mistérios da vida.

Milwaukee Bucks: B

MarJon Beauchamp, SF (#24)
Hugo Besson, PG (#58)

A esse ponto do Draft - e para um time como os Bucks - é difícil você ter grandes acertos ou erros bizonhos; é uma questão de preferência, encaixe, e valor. Não vai ter grandes craques disponíveis, é difícil (mas não impossível) achar jogadores que cheguem e contribuam de imediato em um time de nível tão alto, e a equipe pode ser completamente diferente daqui a 3-4 anos quando esses jogadores estejam realmente desenvolvidos. Os acertos e erros (pelo menos na hora do Draft, sem saber no que esses jogadores se tornarão) são relativos, e dificilmente farão ou destruirão uma equipe.

Dito isso, Beauchamp é uma escolha interessante dos Bucks; ele é um jogador mais velho e experiente, que teve um ano muito bom na G-League e oferece um pouco do tamanho, rebote e defesa física e versátil nas alas que o time tanto sentiu falta ano passado com a saída de PJ Tucker. Sua falta de arremesso é um problema no encaixe com Giannis, mas ele oferece muito do que Milwaukee precisa, e sua boa forma e ótimo aproveitamento nos lances livres oferecem otimismo de que ele possa desenvolver um chute razoável na NBA. E por falar em chute, eu também gosto da aposta de Hugo Besson, que projeta como um ótimo chutador no médio prazo e pode ser o novo Bryn Forbes da equipe daqui a uns anos.

Miami Heat: B+

Nikola Jovic, PF (#27)

Eu gosto de Jovic, mas eu gosto muito mais da ideia de Jovic jogando pelo Miami Heat. O sérvio é um jogador divertido por si só, um ala-pivô que joga quase como um armador com ótimo domínio de bola, bons passes, capacidade de puxar contra-ataques e bom arremesso. Mesmo com sua defesa questionável, é o tipo de jogador que teria sido escolhido mais alto se jogasse nos Estados Unidos, e é exatamente o jogador que Miami tende a tirar o máximo com sua cultura e máquina de desenvolvimento: eles vão saber maximizar a capacidade de criação de Jovic com e sem a bola, usar seu arremesso, e esconder sua defesa com Adebayo e Butler. É incerto se ele já faria o salto para a NBA esse ano, mas estou muito interessado em ver como Jovic encaixa nessa equipe.

Golden State Warriors: A

Patrick Baldwin Jr, PF (#28)
Ryan Rollins, SG (#44)
Gi Santos, PF (#55)

Os Warriors são os campeões da NBA; eles tem um time profundo, e um batalhão de jovens jogadores extremamente talentosos - Moses Moody, James Wiseman, Jonathan Kuminga - que precisarão de mais minutos. Não tinha ninguém no #28 e além que iria jogar grandes minutos pela equipe no curto prazo ou mudaria o time de perspectiva. E por isso eu adoro que Golden State simplesmente decidiu pegar três bilhetes de loteria, apostar no potencial e talento bruto dos jogadores, e pensar já em uma próxima versão da sua equipe.

Esse plano começa com Baldwin, recruta #5 da sua classe e alguém que era cotado como uma escolha Top10 antes da temporada. Baldwin recusou ofertas de universidades maiores para jogar pelo seu pai na pequena Universidade de Milwaukee, e teve um ano desastroso em meio a diversas lesões, tumultos na questão gerencial da equipe e um elenco de apoio horrendo. Tudo isso levantou questões legítimas (incluindo físicas) sobre Baldwin e a sua queda no Draft é totalmente justificada, mas o talento ainda existe, e faz todo sentido para Golden State apostar em um ala-pivô que, caso consiga atingir seu enorme potencial, projeta como um jogador de garrafão capaz de arremessar de três, finalizar perto do aro, com defesa versátil.

Rollins e nosso querido Gui Santos também encaixam nesses moldes: Rollins era um excelente pontuador na universidade e considerado por muitos um talento de primeira rodada, com um bom arremesso e capacidade de criar o próprio chute bastante dinâmica; seu aproveitamento não foi dos melhores, mas com desenvolvimento e jogando mais sem a bola tende a crescer, e pode ser um novo jogador nos moldes de Jordan Poole para Golden State. Sobre Gui Santos já falamos bastante por aqui, mas ele é o tipo de jogador que encaixa perfeito em Golden State com sua combinação de tamanho, versatilidade dos dois lados da quadra, inteligência de jogo e bom passe, e pode desenvolver fora da NBA por uns anos sem ocupar um espaço no elenco antes de estar pronto a ir para os EUA.

Claro, essas são escolhas tardias de Draft por um motivo, e não existe nenhuma garantia de que as três irão realizar seu potencial; estatisticamente, na verdade, o mais provável é que pelo menos dois deles nunca o façam. Mas Golden State não precisa acertar nas três, só precisa acertar em UMA delas para adicionar uma peça valiosa para sua equipe no futuro, e os Warriors se colocaram em excelente posição para isso.

Toronto Raptors: C

Christian Koloko, C (#33)

A escolha de primeira rodada dos Raptors foi trocada para os Spurs por Thad Young, que foi sólido mas não particularmente impactante durante seus meses no Canadá - e eu me pergunto se Toronto não acaba discretamente se arrependendo de ter feito o negócio.

E, para piorar, eu achei que os Raptors cometeram um grande erro pegando Koloko, que era cotado por muitos como escolha mais para o fim da segunda rodada; o ex-pivô do Arizona é um bom defensor e protetor de aro, mas faz pouco mais em alto nível - Toronto tem cobiçado um pivô desde o ano passado, e essa me parece o tipo de escolha impulsionada pelo um desejo ao invés de um processo inteligente. Claro, Masai Ujiri é muito melhor que eu nesse negócio de basquete, então talvez o errado seja eu, mas admito que não gosto do que Toronto fez.

Los Angeles Lakers: C+

Max Christie, SG (#35)

Los Angeles fez o que times ricos e sem escolhas de Draft devem fazer: usaram seu dinheiro para comprar uma escolha e voltar para o Draft. E eu gosto de Christie, um jogador talentoso vindo de um ano ruim, mas que oferece potencial intrigante especialmente como arremessador, apesar do aproveitamento ruim em Michigan State.

Mas, ao mesmo tempo, é os Lakers, e a gente sabe o buraco que eles estão: Chrstie e nem ninguém no #35 seria capaz de mudar isso, e eu me pergunto se um jogador diferente - talvez com mais potencial, ou com mais pronto para contribuir - fosse mais adequado. Não me agrada o encaixe, embora os Lakers tenham tido sucesso com escolhas nessa faixa ultimamente.

Dallas Mavericks: A-

Jalen Hardy, SG (#37)

Outro time que trocou sua escolha de primeira rodada, no caso por Christian Wood, o que é uma troca e uma aposta que me agradam bastante - então parabéns para Dallas por isso.

Dallas trocando pela escolha #37 para pegar Jalen Hardy, no entanto, não me "agrada bastante"; talvez seja um dos meus movimentos favoritos da noite. Existe obviamente risco envolvido, senão Hardy não teria caído para essa escolha, mas Hardy era o recruta #2 da classe e cotado como uma escolha Top3 do Draft um ano atrás; ele pode ter tido um ano ruim (e extremamente ineficiente) na G-League, mas ainda liderou um time profissional em pontuação. Apesar dos pontos negativos, a grande maioria dos analistas ainda tinha Hardy como uma escolha Top20, então conseguir um jogador assim no #37 já seria excelente; considerando ainda as projeções e espectativas de alguns meses atrás, é um grande certo. Nada garante que Hardy vá de fato realizar seu talento ou fazer valer as expectativas, e é claro que ele está mais distante de estar pronto para a NBA que o antecipado, mas ele ainda oferece uma chance de ouro de adquirir um possível segundo pontuador explosivo de perímetro para jogar com Luka - o que vale essa escolha com sobras.