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OPINIÃO

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8 ou 80: as reações a vitórias e derrotas da seleção brasileira de basquete

Brasil perde jogo e invencibilidade nas eliminatórias em derrota para a Colômbia - CBB
Brasil perde jogo e invencibilidade nas eliminatórias em derrota para a Colômbia Imagem: CBB

Pedro Rodrigues

05/07/2022 04h00

A expectativa da torcida Brasileira para o jogo entre Brasil e Colômbia disputado pela ultima fase das eliminatórias da Copa do Mundo FIBA, 2023 era de um jogo tranquilo. Afinal, se tratava de uma partida contra um adversário notadamente mais fraco, e que tinha sido derrotado na partida de ida em Franca com facilidade.

Porém, como diz o popular "meme", existe a expectativa e o outro lado a realidade.

Resultado final: uma atuação fraca nos dois primeiros períodos e após duas prorrogações, o Brasil foi derrotado por 104 a 98. A derrota acabou com a invencibilidade do Brasil na competição, que fechou essa fase em primeiro no grupo com 5 vitórias e 1 derrota. Avançaram para o próxima fase, além do Brasil, o Uruguai de Ruben Magnano e essa mesma Colômbia. De acordo com o chaveamento, a Seleção joga na próxima fase contra contra o grupo D, que já tem classificados os perigosos Porto Rico, México e Estados Unidos. A próxima janela será em 25 de agosto deste ano.

Antes de entrarmos no estado atual da Seleção Brasileira, vamos passar um pouco do contexto do jogo de ontem. O Brasil chegou na Colômbia depois de uma boa vitória na sexta-feira sobre o Uruguai; o time chegou com Bruno Caboclo já confirmado na Liga de Verão da NBA, que vai disputar pelo Utah Jazz (o que pode levar o atual MVP do NBB de volta a maior liga de basquete do mundo) e grande parte do elenco vindo do final de temporada, alguns ao fim de uma temporada particularmente longa como Lucas Dias e Georginho de Paula. Este último, vale lembrar, vem de lesão desde os playoffs do NBB. Somando ao natural cansaço de viagens, fim de temporada e calendário esdrúxulo, o time do técnico Gustavo De Conti sabia que iria encontrar uma Colômbia que jogava sua vida na competição. Caso vencesse o Brasil, os colombianos eliminariam os chilenos e passariam de fase.

O técnico Guillermo Moreno fez seu dever de casa, e seu time entrou sufocando os brasileiros. Foram dois quartos intensos para abrir o jogo, com parciais de 27 a 19 no primeiro e 21 a 18 no segundo; o veterano pivô Juan Tello, de 37 anos, infernizou o garrafão brasileiro. Na volta para o segundo tempo, o Brasil equilibrou as ações, e isso passou muito pela defesa. Com uma formação com Rafa Luz, Gabriel Jaú, Marcelinho Huertas, Bruno Caboclo e Rafa Mineiro, o Brasil chegou a entrar no ultimo quarto apenas 4 pontos atras do placar.

Era visível o cansaço da seleção colombiana no quarto período; o time da casa teve apenas 11 pontos neste quarto, e o Brasil teve a chance de fechar o jogo com um arremesso de 3 pontos de Bruno Caboclo, faltando apenas 9 segundos de jogo, quando o placar marcava 76 a 74 para os colombianos. O arremesso não caiu, mas Rafa Luz conseguiu o rebote e Marcelinho Huertas recebeu falta de Tello na sequência. O armador foi bem na linha do lance-livre, converteu os dois arremessos e levou o jogo para a prorrogação, quando o Brasil teve tudo para fechar a partida. Teve.

Faltando apenas 6 segundos para o encerramento da prorrogação e o placar marcando 87 a 84 para o Brasil, o ala Lucas Dias, visivelmente cansado, fez falta em Juan Tello. O pivo Colombiano acertou o primeiro lance-livre, mas errou o segundo. Era só assegurar o rebote que o Brasil fecharia o jogo em 87 a 85, e garantiria a campanha invicta. Mas não aconteceu; Andrews pegou o rebote e passou para Braian Angola, que arremessou e errou a cesta de 3 da virada. Para azar do Brasil, o ala Michaell Jackson, livre, pegou novo rebote de ataque e converteu uma simples bandeja. Jogo empatado 87 a 87, e mais uma prorrogação

Com os dois times exauridos fisicamente, o técnico Moreno colocou Soren De Luque em quadra. O ala/pivo ainda tinha algum gás no tanque e em duas jogadas, uma assistência após um rebote no ataque e uma bandeja, colocou os colombianos com 4 pontos de vantagem. Com o placar em 99 a 98 para a Colômbia, o lance que fechou a partida foi dramático. Mesmo marcado de perto por Lucas Dias, Braian Angola acertou uma cesta de 3 que fez o ginásio explodir e sacramentar a vitoria colombiana.

Os destaques da partida pelo Brasil foram Marcelinho Huertas com 27 pontos, Bruno Caboclo com 22 pontos e Rafa Luz com 11 pontos, 5 assistências e 4 rebotes. Para variar, o aproveitamento dos lances-livres assombraram o Brasil: os brasileiros arremessaram 33 lances-livres e converteram 22 (66.7%).

Cabe aqui uma reflexão sobre o estado atual da Seleção Brasileira de basquete. Perder para a Colômbia é ruim? Sim, mas temos que levar em conta o contexto que comentamos no inicio. E vale lembrar que o Brasil não venceu por detalhes. Mas a derrota trouxe de volta todos os traumas da torcida Brasileira. Somente nos últimos anos tivemos a eliminação para a Republica Tcheca de Tomas Satoransky em 2019, e a derrota para a Alemanha de Mortiz Wagner no Pré-Olimpico de Split; derrotas que vieram sempre depois de excelentes resultados iniciais. Nem de longe são derrotas comparáveis à derrota para a Colômbia, que pouco muda no grande esquema das coisas, mas para a torcida atualmente toda e qualquer derrota já traz esse "gatilho".

Temos hoje uma seleção composta pela "Geração NBB", com jogadores formados durante os complicados 2010s: atletas como Lucas Dias, Georginho e Lucas Mariano. Junte a eles talentos jovens como Didi, do Portland Trail Blazers, Bruno Caboclo e veteranos do pré olímpico de 2011 como Huertas, Benite e Rafael Hettsheimer, e temos um time competitivo. O que Gustavo De Conti precisa agora é tornar essa mistura em um time mais homogêneo. É um time para vencer medalhas na próxima Olimpíada, ou buscar o lugar mais alto na próxima Copa do Mundo? A principio, não, e é importante ter a expectativa correta em mente, para evitar uma decepção que pouco tem a ver com a realidade. O basquete adulto masculino é hoje um dos esportes mais competitivos do mundo. Além do bicho-papão Estados Unidos, temos França, Espanha, Sérvia, Croácia, nossos vizinhos Argentina, e Austrália como forças estabelecidas. O México evoluiu muito e o Canada, um dia, vai conseguir colocar todos aqueles talentos NBA para fazer uma seleção competitiva - e isso só falando dos nossos vizinhos das Americas.

O fato é que o caminho para a relevância será longo e duro. Em quadra, o ideal seria o técnico Gustavo De Conti ter, pelo menos, dois ciclos Olímpicos para trabalhar e tornar cada vez mais consistente a base atual dos "Geração NBB" e jovens talentos como Didi e Gui Santos, que não está com a seleção para disputar as Ligas de Verão pelo Golden State Warriors. Fora das quadras, a comunicação do grande objetivo deve ser a tentava de ser a segunda força na América Latina. Prometer mais que isso, neste momento é temerário e pode comprometer ainda mais a machucada base de torcedores da Seleção, porque a verdade é que não existe decepção sem expectativa - e criar a expectativa correta é fundamental para dar a De Conti e a essa seleção a tranquilidade e prazo necessários para um trabalho bem feito.