Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O que troca de Rudy Gobert significa para o Utah Jazz e Donovan Mitchell
Quando o Utah Jazz trocou Rudy Gobert para o Minnesota Timberwolves por um pacote sem precedentes na história recente da NBA, incluindo essencialmente cinco escolhas de primeira rodada de Draft, muito do foco se voltou para o lado dos Wolves: o preço enorme que foi pago, como ficaria o encaixe entre dois pivôs em Gobert e Karl-Anthony Towns, e o quão bom esse time poderia ser - e se a resposta é bom o suficiente para compensar o preço exorbitante da aquisição.
Mas uma troca é feita de dois lados, e o movimento também teve grande impacto para o presente e futuro do Utah Jazz. Que Gobert seja trocado, em si, não é surpresa: eu escrevi uma coluna um ano atrás falando sobre como o modelo do Utah Jazz tinha atingido seu limite e precisava mudar, e um ano depois essas mesmas questões não só continuavam presentes como estavam maiores do que nunca após mais uma pífia exibição e eliminação em playoffs. Era claro que algo precisava mudar, e Gobert era o principal candidato a ser trocado; a questão era qual seria o retorno, e qual direção Utah seguiria sem o pivô.
O retorno que a equipe conseguiu de Minnesota sem dúvida foi excelente, e dos melhores que o time poderia ter esperado, mas as escolhas de Draft futuras e jovens jogadores indicava uma guinada do Jazz na direção do longo prazo; a equipe inegavelmente se enfraqueceu bastante com a perda do seu pilar dos dois lados da quadra, e sem receber jogadores de alto nível para contribuir de imediato, é evidente que Utah não está mais entre os principais times do Oeste. Isso levou a muitas especulações se Donovan Mitchell, a outra estrela do Jazz, não seria a próxima a ser trocada. A princípio, Utah negou que fosse o caso; logo nos minutos seguintes à troca de Gobert, surgiram relatos de que o plano do Jazz era manter Mitchell e reconstruir ao redor do armador.
Mas muitos ao redor da liga duvidavam da afirmação. Mitchell tem mais três anos de contrato, e vai se tornar agente livre em 2025 - quando apenas uma das quatro escolhas de Draft vindas de Minnesota terá sido usada. Com um elenco velho ao redor de Mitchell, Utah não é mais um time com grandes chances de playoffs em um Oeste reforçado, e a não ser que decida usar todas essas escolhas em trocas por outros veteranos, Utah não tem um caminho rápido nos próximos dois anos de se tornar competitivo. Os ativos que o time acumulou não batem com a linha do tempo de Mitchell; a não ser que o armador esteja disposto a um comprometimento com a franquia de longo prazo (o que não parece ser o caso), será que o Jazz está disposto a empurrar a situação com a barriga até os últimos meses do contrato de Mitchell, onde ele terá o menor valor de troca possível, ou até mesmo arrisca perder o jogador por nada? É um risco grande para se correr, e nem todos achavam realista.
Talvez acumular ativos futuros sempre tenha sido o plano (vale lembrar, Utah também trocou Royce O'Neal por uma escolha de primeira rodada antes de negociar Gobert), ou talvez foi simplesmente o melhor pacote que conseguiram pelo francês, mas os termos específicos da troca de Gobert podem ter tornado a permanência de Mitchell insustentável em Utah. E, após duas semanas, a notícia que tantos esperavam: o Utah Jazz está finalmente disposto a escutar ofertas de trocas pela sua outra estrela.
E se Mitchell está mesmo disponível, você pode esperar um interesse intenso pelo armador, com diversos times de olho em um All Star de apenas 26 anos sob contrato por mais três anos. Mitchell pode estar vindo de uma pós-temporada decepcionante, mas é um jogador que já se provou sob pressão e possui a combinação de explosão, arremesso, pontuação individual e capacidade de criação que fazem dele ideal para os playoffs.
Apesar disso, o mais provável é que uma possível troca ainda demore para se concretizar. Utah não quer que a situação chegue no limite do contrato de Mitchell, mas a equipe não tem urgência para realizar uma troca, especialmente com a situação de Kevin Durant pairando sobre o resto da liga. Alguns times que teriam interesse em Mitchell - como por exemplo o Miami Heat - também estão em busca do ala dos Nets, e não farão um movimento apressado que os tire da perseguição a Durant; outros podem não ter interesse direto em Mitchell ou KD, mas estão esperando para ver como uma possível movimentação do camisa 7 altera o panorama da NBA. E você pode ter certeza que Danny Ainge, novo presidente de operações do Jazz, vai tentar espremer cada grama de valor que puder em uma negociação, o que provavelmente só vai acontecer após Durant ser movido e Mitchell ser a próxima grande peça disponível.
Outro ponto de interesse é qual retorno Mitchell pode comandar para o Jazz. Independente de qual dos dois você achar melhor, Mitchell é um tipo de jogador considerado mais valioso que Gobert com suas habilidades de perímetro, idade e contrato mais barato; ainda assim, é improvável que Utah consiga tantas escolhas de Draft em uma nova troca, e também se vai ser esse o foco do Jazz. Nós vimos com equipes como Thunder e Pelicans que um excesso de escolhas de Draft futuras pode diminuir seu valor relativo, conforme todos os times da liga sabem que você não tem lugar para tantos jogadores no time; não que isso signifique que Utah não vá querer mais escolhas de Draft em uma troca, mas em algum momento essas escolhas precisam virar jogadores, e o Jazz pode (e deve) querer algum pilar em torno do qual reconstruir junto.
O que nos leva ao time mais ligado a uma troca por Mitchell: o New York Knicks. Donovan Mitchell já muito tempo tem sido especulado na franquia de Nova York, cidade na qual ele cresceu e onde já disse abertamente querer voltar a jogar. Além disso, Mitchell é agenciado pela CAA Sports, cujo ex-presidente, Leon Rose, é hoje GM dos Knicks - mais uma ligação que fez o mundo da NBA especular sobre uma ida de Mitchell aos Knicks muito antes do armador estar disponível por troca.
E, para melhorar, os Knicks tem exatamente o pacote que os Jazz procurariam em uma troca. Nós vimos a franquia acumular escolhas de Draft durante o Draft, dando a eles bastante munição além das próprias escolhas para apimentarem um pacote por Mitchell; e, se Utah quer uma jovem estrela para ser o centro da sua reconstrução, os Knicks tem a peça perfeita em RJ Barrett, um jovem promissor que nunca mostrou tudo que podia em um encaixe ruim em Nova York, mas que tem o talento e mostrou flashes suficientes para valer a aposta - além de ser quatro anos mais novo e ter pelo menos dois anos de contrato a mais que Mitchell, colocando ele em uma linha do tempo muito mais adequada ao acúmulo de escolhas de Utah. Os Knicks provavelmente preferirão montar a troca sem enviar Barrett, claro, e terão que enviar outros salários para fazer a matemática da coisa funcionar, mas um pacote de Barrett e escolhas de Draft faz sentido demais para não ser especulado.
E, naturalmente, os Knicks não são os únicos que estarão atrás de Mitchell; Miami também está amplamente conectado ao armador, e podem oferecer um pacote semelhante ao redor de Tyler Herro. Outros times perguntarão a respeito, e uma equipe como Toronto pode acabar entrando na conversa inesperadamente. Mas, considerando o interesse de Mitchell nos Knicks e que quase nenhum outro time na busca pelo armador possivelmente tem a combinação de escolhas de Draft e um jovem talento como Barrett, não é a toa que esse é hoje considerado o destino mais provável para o armador.
Isso quer dizer que necessariamente vai acontecer? Claro que não. A NBA é, acima de tudo, imprevisível; coisas mudam muito rápido, da noite para o dia, e cenários podem alterar em uma fração de segundos. Mas, com o grande dominó que é Kevin Durant esperando para cair, a troca de Gobert pode ter colocado outra peça no tabuleiro, e Mitchell pode ser a próxima estrela da NBA a mudar de times nos últimos meses.
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