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OPINIÃO

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Como Russell Westbrook foi de MVP da NBA a jogador que ninguém mais quer

Russel Westbrook durante jogo dos Lakers na NBA  - Patrick Smith/Getty Images/AFP
Russel Westbrook durante jogo dos Lakers na NBA Imagem: Patrick Smith/Getty Images/AFP

07/08/2022 04h00

Em 2020, o Los Angeles foi campeão da NBA após uma troca que levou Anthony Davis a Los Angeles para se juntar a LeBron James. Embora a troca em si tivesse todas as marcas de uma era de empoderamento das estrelas da liga, que escolhem seus destinos para jogar com outros craques em busca de títulos, a montagem desse time diferia dos "supertimes" que estavam na moda: quando Kawhi Leonard recusou os Lakers para ir ao rival Clippers, ao invés de buscar outra terceira estrela os Lakers apostaram em um elenco mais profundo e complementar suas duas estrelas rumo ao título da liga.

Apesar das circunstâncias extremas que cercaram o seu título em 2020 - no caso, uma pandemia global e os playoffs sendo jogados na famosa "bolha" da NBA - Los Angeles era novamente um forte candidato ao título em 2021, até que as lesões interferiram. LeBron e Davis ambos perderam boa parte da temporada regular, derrubando Los Angeles para a sétima colocação no Oeste e um confronto contra o Phoenix Suns, no qual Davis novamente se machucou e os Lakers saíram derrotados. Mas, com o time saudável, era esperado que os Lakers novamente voltassem à conversa de favoritos em 2022... ou pelo menos até eles executarem uma das trocas mais polêmicas dos últimos tempos.

Para adquirir Russell Westbrook, MVP da NBA em 2017 e então jogando pelo Washington Wizards, os Lakers basicamente sacrificaram o resto do seu time. Vários jogadores de rotação além de James e Davis (Harrell, KCP, Kuzma) foram enviados, deixando o time não apenas muito fraco de opções, mas o gigantesco salário do armador também significou que os Lakers precisavam preencher o resto do time com contratos mínimos. Eu escrevi na época sobre como essa troca significava uma mudança radical em relação ao modelo que tinha levado o time ao título de 2020, sacrificando profundidade e versatilidade para adquirir a terceira estrela. Mas isso não seria um problema tão grande, talvez, se o encaixe do recém-chegado Westbrook com LeBron e Davis não fosse tão complicado.

Em um nível mais filosófico, eu sempre achei a reação das pessoas a essa troca um ótimo teste de como as pessoas pensam basquete em geral. Muitas das pessoas que acharam uma boa troca - e foram muitas, os Lakers passaram em grande medida a favoritíssimos ao título - simplesmente olhavam para os nomes, jogadores com números espetaculares, e se impressionavam com o quão bom um time com três estrelas como Westbrook, LeBron e Davis seria. Mas a vida real não é um jogo de NBA 2K; não é questão de qual time tem jogadores com overall maior que define quem é melhor. Como as habilidades e personalidades dos jogadores se complementam, como seu elenco de apoio permite ao time jogar, quais as forças e fraquezas dessa combinação de atletas, tudo isso é de extrema relevância para definir o resultado dentro de quadra.

O trio de estrelas dos Lakers, nesse sentido, já indicava que teria grandes problemas, como eu escrevi na época da troca. LeBron e Westbrook são dois jogadores que precisam muito da bola nas mãos, e West em especial não sabe jogar sem ela. Nenhum dos três espaça bem a quadra. O trio não oferece o suficiente em termos de versatilidade defensiva, arremesso, defesa no ponto de ataque e movimentação sem a bola, mas seus enormes salários limitam demais as possibilidades dos Lakers adquirirem jogadores para cumprir essas funções. O resultado era um grupo que não tirava o melhor um do outro, cujo todo era menor que a soma das suas partes.

E todos os problemas esperados apareceram durante o que foi um ano absolutamente desastroso para os Lakers, culminando com a franquia não apenas ficando de fora dos playoffs, mas fracassando até mesmo em alcançar o play-in. E embora essa tenha sido a narrativa oficial dos jogadores e do time, em 2022 não era possível colocar a culpa nas lesões: ao contrário de 2021 - quando o time saudável era um dos melhores da liga - os Lakers foram apenas 11-10 com os três astros saudáveis, e teve um saldo de pontos de -3,5 por 100 posses de bola nesses minutos.

Como sempre acontece depois de uma temporada catastrófica, todos correram para apontar um culpado, e o escolhido foi o óbvio: Russell Westbrook. Ele não estava no time quando ele foi campeão em 2020, e os Lakers ainda eram fortes em 2021 sem ele. Foi com a chegada que os Lakers desmoronaram, então era fácil somar A e B e concluir que a culpa era de Westbrook. Não ajuda, é claro, que o armador teve uma temporada miserável: seus números despencaram, sua eficiência continuou péssima, sua defesa inexistiu, ninguém marcava ele fora do garrafão, e Westbrook chegou a ir para o banco em momentos chaves do ano. Entre isso e a quantidade de reclamações e confrontos públicos com a mídia, é inegável que foi um ano tóxico para o armador e que contribuiu, de fato, para o fiasco dos Lakers.

Westbrook, naturalmente, exerceu sua opção contratual de 45 milhões para 2023, porque afinal quem recusa tanto dinheiro assim depois de um ano ruim? Mas a continuidade dele nos Lakers causou, para dizer o mínimo, enorme desconforto. Apesar dos Lakers e seu novo técnico estarem falando as coisas certas - sobre como contam com Westbrook, como usá-lo melhor ano que vem, etc - é evidente que o time não quer ele lá, que sabe que ele atrapalha a dupla Davis/LeBron, e que seu salário seria muito melhor utilizado em outras contratações.

Los Angeles tem tentado desesperadamente trocar o armador desde que começou a offseason, e até agora vem encontrando enorme dificuldade porque, honestamente, ninguém quer Westbrook hoje no seu time - ou pelo menos a esse salário. Os Nets recusaram o armador em uma possível troca por Kyrie Irving, e os relatos hoje são de que os Lakers precisarão pagar duas escolhas de primeira rodada de Draft se querem encontrar alguém que aceite receber West em uma troca. É incrível pensar que esse mesmo Russell Westbrook foi MVP da liga cinco anos atrás, estava colocando triplos-duplos de média dois anos atrás, e mesmo um ano atrás estava liderando os Wizards aos playoffs em uma arrancada que virou xodó da NBA; agora, times querem receber escolhas de Draft para ter o trabalho de receber o armador no seu time. Foi uma das mudanças de percepção mais rápidas e extremas que eu lembro de ter visto na NBA.

A situação levantou também um velho debate sobre Westbrook, e o quanto ele realmente ajuda seu time a vencer jogos. Westbrook passou boa parte dos anos formadores em ótimos times do Thunder que eram fortes candidatos ao título, mas isso era tendo Kevin Durant como astro do time; depois que Durant saiu em 2016, Westbrook colocou números individuais sem paralelos na história do esporte, quatro anos seguidos com triplos duplos de média, eleito MVP em 2017...mas, ao mesmo tempo, o objetivo do jogo não é ter ótimos números individuais, e sim que o time como um todo, certo? Apesar dos números individuais excelentes de Westbrook nos seus três anos liderando OKC sem Durant, o Thunder nunca passou da primeira rodada dos playoffs e, embora seja verdade que West não teve os melhores times do mundo nesses anos, também não é verdade que ele teve times horríveis (em especial o de 2018, que também tinha Paul George). Westbrook foi finalmente trocado em 2019 para os Rockets que, um ano antes, tinham ficado a uma vitória das Finais da NBA; mas o time implodiu em um ano desastroso com Westbrook, o armador logo foi trocado para Washington, onde apesar da ótima reta final de temporada para levar os Wizards aos playoffs, o time ainda foi apenas o oitavo colocado do Leste e eliminado facilmente na primeira rodada mais uma vez. Em Los Angeles, claro, nós sabemos o fiasco que foi. Não que Westbrook prejudique seus times ou que estes sejam melhor sem ele, mas existe bastante evidência apontando que seu impacto coletivamente não é tão forte quanto os números superficiais indicam, e suas enormes limitações - em especial no arremesso - é algo que dificulta muito a montagem de times ao seu redor.

E, de certa forma, isso ficou escancarado nos Lakers, e foi causa gigantesca do ano horrendo da franquia. Mas, apesar disso, apesar de todos os problemas de Westbrook como jogador, é realmente difícil dizer que a culpa foi dele. O encaixe entre Westbrook, Davis e LeBron - e as dificuldades salariais que decorriam dessa junção de contratos - era sabido desde que a troca foi feita, e não foi West que trocou por si mesmo; na verdade, segundo relatos, foram os outros astros dos Lakers (em especial LeBron) que forçaram a troca a acontecer, passando por cima da diretoria que pretendia seguir em outra direção. Westbrook tem limitações que afetaram negativamente seus times ao longo dos anos (e acabaram mascaradas pelos números superficiais), e a forma infantil como ele reagiu aos problemas durante a temporada certamente não ajudou, mas ele foi colocado em uma situação onde ele nunca teve chance de ter sucesso, e que colocou um holofote gigantesco sobre suas deficiências de forma até cruel - escancarando o despreparo da franquia no processo. Westbrook foi o sintoma dos problemas dos Lakers, não a causa.

E, no entanto, ele está pagando o preço quase sozinho conforme o resto dos envolvidos tentam se distanciar da repercussão negativa. Talvez os Lakers consigam afinal trocar Westbrook, o armador tenha um novo começo, o time também, e a percepção negativa de uma aliviada. Mas, considerando as dificuldades de conseguir a negociação, é bem possível que o time seja obrigado a começar o ano com o camisa 0 no seu elenco; e, se for o caso, pode ter certeza que os ataques ao armador não vão terminar tão cedo.