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OPINIÃO

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Fora da temporada, lesão de Chet Holmgren preocupa quanto ao seu futuro

Chet Holmgren tenta defender ataque de LeBron James durante o CrawsOveer Pro-Am, na Universidade Seattle Pacific. 20/08/2022 - Cassy Athena/Getty Images
Chet Holmgren tenta defender ataque de LeBron James durante o CrawsOveer Pro-Am, na Universidade Seattle Pacific. 20/08/2022 Imagem: Cassy Athena/Getty Images

30/08/2022 04h00

Em uma das off seasons mais paradas da NBA de que se tem notícia - em grande parte graças à estúpida novela envolvendo Kevin Durant, que parece ter chegado ao fim recentemente sem nada realmente acontecer -, uma das fontes de entretenimento que tivemos foi jogadores da liga atuando em competições secundárias pelos Estados Unidos. Em campeonatos como a Drew League ou a Pro-Am League, nós pudemos matar a saudade de ver alguns craques em quadra e ainda dar risadas de ver grandes talentos, como LeBron ou Jayson Tatum, enfrentando seres humanos normais.

Mas essa história, afinal, não acabou bem. Pouco depois de um jogo da Pro-Am League em Seattle ser cancelado por causa do excesso de umidade na quadra colocar em risco a integridade física dos seus jogadores, foi anunciado que a escolha #2 do Draft, o calouro Chet Holmgren do Oklahoma City Thunder, tinha lesionado o pé em uma colisão com LeBron James durante jogo da Drew League. Pouco depois, a confirmação do que todos temiam: Holmgren tinha sofrido uma lesão de Lisfranc no pé direito, e irá perder toda a temporada 2022-2023.

Não é difícil entender por que essa notícia é tão ruim. Holmgren é um talento único, uma mistura quase inédita de tamanho, proteção de aro e habilidades de perímetro no ataque, e não à toa foi uma escolha tão alta que chegou na NBA com grandes expectativas. Ver um jogador perder um ano da sua carreira, ainda mais em momento tão importante para sua formação e desenvolvimento, é sempre péssimo.

E, em contexto, talvez fique ainda pior: Chet era uma peça central para o jovem e empolgante time que o Thunder vinha montando, e que finalmente parecia pronto para assumir uma identidade e dar os próximos passos. A lesão não apenas atrapalha o desenvolvimento do jogador, mas de todo o processo de reconstrução de OKC.

Mas as preocupações com a notícia vão além apenas do ano perdido de um jovem empolgante. Mesmo antes de entrar na NBA, as preocupações quanto a Holmgren sempre foram sobre seu físico e o risco de lesões envolvido. Infelizmente, é comum que jogadores tão altos assim sofram com lesões nos pés, desde os dias de Bill Walton, passando Yao Ming e até os dias de hoje; o corpo humano desse tamanho simplesmente não é feito para correr e pular com a intensidade que o jogo de basquete - em especial da NBA - exige, e o impacto que isso coloca no pé desses jogadores pode ser problemático.

E, no caso de Holmgren em especial, isso era uma preocupação gigantesca por causa do seu físico: com 2m13 e apenas 88 kg, Chet é um dos jogadores mais magros da história do basquete (em relação ao tamanho), e essa falta de massa em teoria poderia fazer dele mais suscetível a lesões. Claro, correlação não implica causalidade; a lesão pode ser simplesmente uma fatalidade não relacionada ao seu físico e que não indique absolutamente nada sobre seu futuro. Mas, como ela parece confirmar uma opinião previamente formada, a tendência é estabelecer essa conexão entre as duas coisas e ficar preocupado.

Não temos como saber exatamente qual dos casos é o mais correto, mas a lesão de Holmgrem levou muita gente a relembrar jogadores de status semelhante - ou seja, escolhas no alto do Draft - que também perderam seu primeiro ano por lesões graves; seja como comparação, ou então em uma tentativa de ter uma noção melhor do que isso significa para o futuro do jogador. E, na história recente, foram quatro escolhas Top 3 de Drafts que passaram por algo semelhante: Greg Oden, Blake Griffin, Joel Embiid e Ben Simmons.

À primeira vista, essas comparações oferecem boas notícias para Holmgren, já que três desses jogadores (os três últimos) não apenas superaram as lesões iniciais, como se tornaram jogadores de nível All Star. Em outras palavras, são bons exemplos de que uma lesão grave enquanto calouro não significa o fim da sua carreira, ou mesmo que será necessariamente prejudicada pelo acontecido. É um bom sinal, sem dúvida, mas será que essas lesões são bons parâmetros comparativos para Holmgren? Vamos dar uma olhada.

Entre as quatro, a situação de Blake Griffin é a que menos tem a ver com o caso de Chet. Griffin teve uma fratura no joelho - e não no pé - no último jogo da pré-temporada pelo Los Angeles Clippers, uma fratura que não apresentava recorrência ou consequências de longo prazo. De fato, Griffin voltou um ano depois sem perder nada da sua famosa explosão e impulsão, vencendo Calouro do Ano e o campeonato de enterradas com atuações espetaculares; mais para o fim da carreira Griffin teve, de fato, problemas com lesões, mas nenhuma relacionada à fratura como calouro e em geral relacionadas mais a ligamentos. Apesar do caso de sucesso, não é um bom paralelo com Chet.

Ben Simmons, outro a vencer Calouro do Ano após voltar de lesão, teve uma vivência mais próxima de Chet, uma vez que ambos perderam a temporada após uma fratura pequena no pé. No caso de Simmons, foi uma fratura no quinto metatarso do pé direito que manteve o australiano fora da sua temporada de calouro, uma prima da lesão de Lisfranc sofrida por Holmgren. Simmons, naturalmente, também voltou em altíssimo nível após um ano fora e se tornou um All Star sem problemas futuros no pé, com a suposta lesão que o manteve afastado dos Sixers e depois dos Nets em 2022 sendo nas costas - não relacionada à fratura.

Mas onde Simmons e Chet se diferenciam é quanto ao físico; embora Chet não tivesse um histórico de lesões, essa sempre foi a questão envolvendo um jogador com a combinação de tamanho e peso de Holmgren. Simmons, por outro lado, tem um físico completamente diferente, historicamente menos vulnerável a lesões no pé, e é mais fácil acreditar que a fratura do australiano seja apenas uma questão pontual de azar. Pode ser que a lesão de Chet seja igual? Sem dúvida, mas olhando com as informações que temos disponíveis existe uma diferença significativa na situação.

Nesse contexto, Oden e Embiid são as melhores comparações, porque ambos tinham essa mesma grande interrogação vindo do basquete universitário. Embiid teria sido a primeira escolha em 2014 se não fosse uma lesão nas costas que o tirou de parte da temporada universitária, e dos resultados ruins dos seus joelhos e pés nos testes médicos anteriores ao Draft. De fato, Embiid perdeu não apenas um, mas dois anos inteiros após o Draft devido a uma fratura no pé e complicações decorrentes (e jogou apenas 31 partidas no terceiro).

Claro, o camaronês se recuperou e hoje é um dos melhores jogadores da NBA, o que obviamente é um bom sinal. Ainda assim, Embiid nunca realmente se viu livre das lesões; os 68 jogos que disputou em 2022 foram o recorde da carreira, e todo ano o pivô dos Sixers parece perder jogos e lidar com lesões menores nos pés e joelhos. Dado o que foram os dois primeiros anos de Embiid, se estabelecer nesse patamar já foi excelente e uma grande vitória para a questão física - e pode dar uma mostra de um "bom cenário" para Holmgren caso a lesão deste tenha, de fato, relação com seu físico.

Oden, por outro lado, seria o pior cenário possível, uma escolha #1 que jogou 105 jogos totais na sua carreira e apenas uma vez passou de 23 partidas, que jogou em 3 temporadas e perdeu outras 4 antes de finalmente se aposentar. O ex-pivô dos Blazers talvez seja (junto com Yao Ming e Bill Walton) o supremo exemplo de alguém cujo corpo gigantesco simplesmente não era fisicamente capaz de aguentar o desgaste e impacto físico de um jogo com tantos saltos e correria quanto o basquete: Oden não tinha exatamente lesões grandes como amador, mas todos os exames físicos apontavam uma série de problemas (o mais óbvio: pernas de diferentes tamanhos) físicos que alguns times avaliaram valer a pena por causa do seu talento. Holmgren não tem, até onde a gente sabe, esse nível de problemas prévios, mas é um paralelo perigoso dadas as questões teóricas semelhantes.

Mas mesmo Oden não é um paralelo dos melhores porque não foram lesões no pé (como Yao e Walton) que estragaram a carreira de Oden, e sim no joelho - uma série de ligamentos rompidos que não só mantiveram Oden fora de quadra, mas destruíram por completo sua capacidade atlética e mobilidade. Lesões de Lisfranc como as de Holmgren podem ser recorrentes e são difíceis de se curarem por completo, especialmente dadas as possíveis condições para se reagravarem, mas são causas e efeitos diferentes sobre o corpo.

No fim do dia, a verdade é que cada lesão é única, assim como os jogadores que as sofrem; nenhuma lesão passada pode dizer o que essa significa para Chet, e mesmo comparando com casos semelhantes no topo do Draft, é impossível achar um paralelo exato. Embiid provavelmente é o melhor comparativo entre as possibilidades - e uma que da motivos de otimismo - mas sem detalhes médicos (que nunca ficarão disponíveis para o público), é impossível dizer qualquer coisa com certeza sobre o futuro do jovem pivô. Por ora, nos resta torcer para a recuperação de um dos talentos mais únicos e interessantes a entrar na NBA em anos - e que possamos ver Chet em quadra por muitos e muitos anos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL