Pode chamar Robinho de estuprador agora?
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Robinho foi condenado em segunda instância. Estupro coletivo. Nove anos de cadeia.
Cadê o pessoal com o paninho pra passar? Para dizer que talvez ele seja inocente, que a moça quer ficar famosa às suas custas, que a gente não sabe o que aconteceu porque não estava lá. Nos poupem. E aceitem a realidade de que Robinho é um estuprador. Que é como o chamariam rapidamente caso não fosse famoso ou se tivesse violentado alguém conhecido.
Mulheres não fazem carreira ao se lançar conhecidas como vítimas de estupro. O que acontece com elas, perversamente, é se tornarem novamente vítimas: agora, da opinião pública. Têm sua vida devassada, seu comportamento questionado, sua dignidade pisoteada.
Por alguma razão cujo sentido me escapa, para muita gente é mais fácil imaginar que uma mulher inventaria uma situação aviltante para se promover, do que acreditar que um homem rico e privilegiado se aproveitaria de sua posição para forçar sua vontade sobre a dela. As estatísticas estão aí para atropelar essa lógica, mas os fatos parecem importar cada vez menos nesses dias.
Na Itália, os advogados de Robinho lançaram mão de alguns dos recursos mais comuns e impiedosos do manual de defesa do estuprador: questionar a idoneidade da vítima. Apresentaram ao tribunal 42 fotos das redes sociais da mulher, em nove das quais se via um copo, sendo que em uma ela segurava um drinque. Tudo isso para mostrar que ela tinha intimidade com álcool. Ou seja: ela bebe (oh!) e, se bebe, está assumindo o risco de ser estuprada e, portanto, a culpa é dela.
Um acinte. Afronta. Quase um deboche. Em 2020, tentar diluir a responsabilidade daquele que comete a violência ao atacar aquela que a sofre seria patético não fosse deprimente - e usual e, pior, eficaz.
Eu ouvi até de mulheres: ah, mas ela estava lá bebendo, mexendo com homem casado. Parem o mundo, que vou pular sem paraquedas. Então toda mulher que bebe e/ou flerta com um fulano qualquer é responsável pelos atos de violência que ele comete contra ela? Se ele resolver colocar seu pênis na boca dela sem consentimento? Ou chamar os amigos a dividir a caça? Acordem. Só há uma pessoa culpada (ou, neste caso vil, vários homens) e é quem viola.
Fechem os olhos e me digam se vocês questionariam a lisura do sistema jurídico se soubessem que alguém condenado por estupro (em qualquer instância) seria contratado para cuidar de seus filhos, ou ficar sozinho com sua mãe, ou buscar suas sobrinhas na escola? Vocês diriam: deixe que siga trabalhando, vamos aguardar que se esgotem os recursos!
Garantir que pessoas como Robinho respondam por seus crimes é fundamental para nos protegermos como sociedade. Para proteger quem a gente ama.
Não passem pano para estuprador. Amanhã ele pode vir jogar no nosso time. Ou coisa muito pior.
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