Presente que eu quero: menos gente babaca na internet
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Natal. Aquela época fofa de falar de coisas bonitas, inspiradoras e cheias de esperança.
Não é dia de falar de gente desocupada que se dá ao trabalho de caçar jornalista no Instagram só para desfilar preconceito e destilar ódio. Gente que, ao discordar de uma opinião sobre a rodada do meio da semana, entre outras pérolas, solta coisas como: "Entendo, você nunca jogou bola".
Ora, como o digníssimo sabe que eu, quer dizer, a jornalista nunca jogou bola? O que o leva a fazer tal inferência? Não que importe, mas a jornalista em questão, por acaso, fez escolinha com o Bellini, atuou em torneios juvenis e como auxiliar técnica nos EUA, passou pela peneira do SPFC e concluiu o curso de treinadores da CBF. Continua sendo absolutamente capaz de falar merda e errar inúmeras previsões, mas isso não deriva do fato de nunca ter chutado uma bola.
Quando do início da triste novela Robinho, o estuprador, diversas jornalistas mulheres foram atacadas por defender punições severas ao jogador. Em maior número e mais violentamente do que seus pares homens. Por quê? Porque a gente incomoda, ainda. Porque tem quem ache que "voz de mulher não combina com futebol" e outras imbecilidades.
Depois de 20 anos no esporte e de já ter ouvido toda sorte de afrontas, eu não deveria me chocar. Não sei se feliz ou infelizmente, porém, segue me impressionando que as décadas passem e nossa presença ainda seja tão escassa e por alguns indesejada.
E oxalá fosse a misoginia o único mal da terra de ninguém que virou a internet. Mauro Cezar Pereira, que já teve seu celular divulgado e sofre ameaças constantes, inspirou até ações do Núcleo de Combate a Crimes Cibernéticos do Ministério Público de São Paulo.
Gente, sério, ameaças. Ameaças por uma opinião sobre fu-tê-bol. Eu acho que seu time jogou mal, seu atacante é um perna-de-pau, o treinador não escalou bem a equipe. Como vamos disso a crimes de ódio?
Mas não é dia de falar disso. É dia de amenidades e pernil com farofa.
2020 desafiou demais nossa fé na humanidade. Um dos meus desejos de Natal é que esta fé se restaure um pouco em 2021. E que essa cambada tóxica vá catar coquinho.
Boas Festas!
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