Cobertura esportiva de boteco
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As declarações de Abel Ferreira depois de Palmeiras e River, na terça, deveriam servir de aula na escolinha do futebol. E, de quebra, ensinar algumas lições à imprensa esportiva.
"Foi uma das melhores derrotas que eu e o Palmeiras tivemos na nossa história" é apenas uma das pérolas proferidas pelo português que ninguém conhecia e está a poucas semanas de gravar seu nome para sempre na história do futebol brasileiro. Enquanto os jornalistas tentavam falar sobre o apagão da equipe alviverde - que teve apenas 34% de posse de bola e deu zero chutes ao gol -, Abel explicava conceitos de psicologia ("a intensidade do sentimento da perda é o dobro do lucro"), lembrava que Marcelo Gallardo era melhor treinador que ele e ressaltava insistentemente a vitória por 3 a 0 no jogo de ida, que garantiu a classificação.
Parte da cobertura da semifinal pareceu ignorar um fato simples: o torneio opera em sistema eliminatório com partidas de ida e volta. Ao final dos 180 minutos, o placar agregado marcava 3-2 para o alviverde. Depois de 20 anos, o time volta à final da Libertadores, eliminando o favorito ao título, time campeão em 2015 e 2018. Ponto, parágrafo.
As reclamações sobre o "revisionismo" do VAR são quase amadoras. Podemos, sempre, questionar a introdução e aplicação da tecnologia no futebol. Mas se o VAR existe (e ele existe, por ora), deve ser usado corretamente e nas situações previstas no regulamento. Exatamente o que aconteceu na terça, com todas as decisões acertadas. Era melhor que o Palmeiras tivesse sido eliminado injustamente por se tratarem de lances "difíceis", que os comentaristas não perceberam? E o impedimento milimétrico de Luiz Adriano na Argentina? O gol deveria ter sido validado porque foi por pouco? Em um mundo de hipóteses, que placar fica valendo?
Abel Ferreira chegou ao Brasil há três meses. Comandou 20 jogos, sofreu apenas três derrotas, mantendo mais de 70% de aproveitamento. Contraiu a Covid-19 e lidou com um surto que contaminou praticamente toda a equipe. Precisou alçar jogadores da base e mudar muito a formação do time para seguir brigando sob um calendário insano, sem tempo para treinar ou evitar desgastes físicos. Só agora em janeiro, pelo Brasileiro, serão quatro jogos em nove dias.
Não custa lembrar: além da Libertadores, o Palmeiras é finalista da Copa do Brasil e tem chances matemáticas na disputa pelo Brasileiro. Entendo que a imprensa precise se guiar pela audiência e algumas torcidas sejam maiores, mas o clubismo precisa encontrar limites fora da mesa de boteco.
É importante falar sobre atuações pontuais: a do alviverde, na terça, foi assustadora; e a do Santos, na quarta, brilhante. É igualmente importante olhar o todo e fazer comentários embasados por fatos e regras, sem ignorar questões éticas e morais. A menos que você esteja no boteco. Então desce uma gelada, pelo amor da deusa, e vamos falar desse tal de VAR aí.
Em tempo: o Palmeiras tem compromisso contra o Vasco pelo Brasileirão a três dias da final da Libertadores, que será no Maracanã, que por acaso fica no Rio de Janeiro, lar dos cruz-maltinos. A partida, adiada da primeira rodada, será no Allianz Parque, obrigando o Vasco a se deslocar da cidade para onde o alviverde viajará no minuto seguinte a fim de se preparar e começar a cumprir seus compromissos com a Conmebol. Com a pandemia arrasando o país, qual o sentido de deslocar o time carioca até São Paulo?
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