Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O espaço que o futebol dá para criminosos e imbecis
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Por que é tão difícil se livrar de gente escrota no futebol? Criminosos, inclusive. Aviso de gatilhos para racismo e misoginia na coluna de hoje.
O caso de Cuca já está mais que documentado. Condenado por estupro coletivo de uma menina de 13 anos, seguiu sua bem-sucedida carreira, sem percalços, com a bênção da Nossa Senhora Protetora dos Abusadores.
As novidades ficaram a cargo de outros personagens. Ontem, Haroldo de Souza, da Rádio Grenal, provou mais uma vez que ser racista e ignorante ainda é aceitável na mídia esportiva, especialmente para o homem branco de certa idade. Durante a partida entre Grêmio e Santos, referindo-se a Lucas Braga, o narrador pergunta a um repórter o nome "daquele crioulinho que está lá na ponta esquerda do time do Santos? [...] É um moreno, né? Um cidadão de cor, numa boa".
Provavelmente já prevendo uma possível reação negativa, esse "numa boa" também diz muito. Assim como diz muito o fato de Haroldo de Souza não ter sido sumariamente demitido. A emissora que o emprega declarou publicamente que "não compactua com qualquer tipo de atitude discriminatória a quem quer que seja, pautando sua atuação através de respeito a todos sem exceção". Bela merda.
No outro episódio, um asqueroso sócio e ex-conselheiro do Santos desfila seu ódio às mulheres e ao futebol feminino. Em uma live do blog Soul Santista, Sérgio Ramos vocifera: "Campo de futebol não é lugar de mocinha. Mocinha, no campo de futebol, são aquelas que a gente enche de porrada e tira fora de lá. Porque não é lugar para estar lá. Futebol feminino é um lixo. Eu não assisto uma porcaria dessas de jeito nenhum. [...] Eu sou incorreto. Eu teria um futebol feminino no Santos, porque é obrigado. É obrigado, então eu teria. Eu iria no Bahamas, pegaria um time no Bahamas, colocaria um uniforme bem coladinho. [...] Eu diria para elas o seguinte: não precisa encostar na bola. Vocês podem apanhar de 50 a 0 todo jogo, e eu garanto que os torcedores de todos os clubes iam torcer para o meu time do Bahamas."
Os outros integrantes do elucidativo bate-papo? Após imitar um sinal de silêncio e jocosamente advertir o colega, Ian Rocha dá seu aval: "Não, estou brincando. Pode falar, pode falar". Os outros dois, Fabiano Reis (conselheiro) e Wagner Dias, cúmplices, riem e também não intervêm. A pedido da conselheira Valéria Mendes dos Santos, o clube deve abrir uma sindicância contra Sérgio Ramos, mas isso me dá pouca esperança.
Infelizmente, não me surpreende que tanta gente ainda pense assim. Ou que ainda se sintam à vontade para dizer essas barbaridades publicamente, sem qualquer embaraço. Porque o ambiente em que elas estão inseridas lhes permite fazê-lo, porque seu meio de vida não é afetado.
Racismo é crime. Agredir mulheres é crime. Algumas matérias na imprensa e posts condenando essas atitudes nas redes sociais é pouco, pouquíssimo, quase nada. Essas pessoas precisam ser punidas por infringir a lei, a ética, a decência. No mínimo, sentir no bolso o peso de suas atitudes. Perderem seus empregos, ter de contratar advogados, passar por enormes constrangimentos e - importantíssimo — não encontrar mais espaço para espalhar por aí o lixo que levam na cabeça.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.