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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Atlético-MG ignora caso de violência sexual e alimenta ciclo da impunidade

Cuca em 2013, pelo Atlético-MG - AP
Cuca em 2013, pelo Atlético-MG Imagem: AP

05/03/2021 13h12

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E, conforme esperado, de nada adiantaram movimentos da torcida ou exposição na imprensa do caso de violência sexual contra uma menina de 13 anos: o Atlético-MG confirmou hoje a contratação de Cuca por dois anos. Na nota oficial, o clube ainda fez questão de ressaltar que ele "reúne as qualidades que a nova diretoria procura: é um técnico vencedor, que acredita na base como fator de renovação, valoriza o trabalho em grupo e é profissional íntegro".

O que o Galo entende por "íntegro"? De fato, há pouco que desabone Cuca na sua carreira nos últimos vinte anos, mas vamos sinceramente escolher ignorar um caso de crime hediondo pelo qual ele foi condenado e nunca cumpriu pena, apenas porque aconteceu em 1987? Vamos deixar que ele siga mentindo e ocupando lugar de destaque?

É enorme e complexo o debate sobre reinserção e ressocialização. Não tenho conhecimento nem espaço para aprofundá-lo aqui, mas não acho que devamos tratar da mesma forma pessoas sob os holofotes, ídolos, exemplos, gente que jovens acabarão admirando.

O Cuca deveria, então, passar o resto da vida desempregado, morando embaixo da ponte? Não. Há um longo caminho entre o ostracismo completo e se tornar um dos maiores treinadores no esporte mais popular do país.

Quando permitimos que criminosos, agressores, estupradores e afins tenham carreiras de sucesso, a mensagem passada é: não importa se você sonega impostos, bate em mulher, comete violência sexual ou esquarteja sua namorada, não importa. Desde que você marque gols, leve cinturões, ganhe títulos, seja uma estrela.

Pense nessa lição para uma criança: alcance fama e você não precisará mais seguir as regras como os demais, você estará acima da lei e da sociedade, você será inimputável. Sem falar na mensagem que mal chega a ser subliminar de que é aceitável agredir mulheres, com palavras ou punhos, porque a sociedade se encarregará de passar pano e a mão na sua cabeça.

Está criado aí um ciclo vicioso de violência e impunidade. Parabéns aos envolvidos.

Já falei sobre o assunto aqui e aqui e aqui e aqui, o que me levou a quase desistir da coluna de hoje. Sinto-me repetitiva. Como posso, porém, mudar de assunto ao ver o Galo acolher sob suas asas um homem que a justiça determinou estuprador? Não posso. Aturem-me, por favor. Aturem-me como temos aturado Cucas e Robinhos e Mike Tysons e Jobsons e Brunos e tantos outros.