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Alicia Klein

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Alicia Klein - Dois Palmeiras: um dos críticos e outro dos resultados

Abel Ferreira esbraveja orientações durante a partida entre São Paulo e Palmeiras, pelas quartas de final da Libertadores 2021. - Staff Images/Conmebol
Abel Ferreira esbraveja orientações durante a partida entre São Paulo e Palmeiras, pelas quartas de final da Libertadores 2021. Imagem: Staff Images/Conmebol

18/08/2021 16h06

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Contra fatos não há argumentos.

Claramente a máxima que cresci ouvindo em casa já não se aplica, em uma era na qual há argumentos contra a ciência, vacinas e até a forma geométrica da Terra.

Mas ela se aplica ao meu ponto de hoje: o malabarismo de parte da mídia e torcidas de futebol para desmerecer o Palmeiras atual. Lembrou-me da discussão eterna na Fórmula 1 sobre o melhor piloto de todos os tempos.

Na biografia que escrevi sobre Michael Schumacher (A Máquina, com prefácio do querido amigo e colega, Fábio Seixas) defendo que a única maneira de encontrar uma resposta possível é por meio dos números. Quem venceu mais, cravou mais poles, voltas mais rápidas, títulos de construtores etc. À época, era Schumacher. Hoje, Hamilton vai se consolidando no topo.

Claro que sobreviverá sempre o debate Senna, Prost, Fangio, a tecnologia etc. etc. etc. O debate da opinião é maravilhoso em sua infinitude, combustível que move nosso interesse em esporte, política, cultura e tudo que nos rodeia. Seria chatérrimo um mundo sem subjetividade.

O problema é quando a opinião ignora os fatos. E é aí que entra o Palmeiras 2020-2021. O Palmeiras que venceu o Paulista, a Libertadores e a Copa do Brasil, indo bem nos Brasileirões e, agora, novamente classificado à semifinal do torneio continental.

É aí que entra também Abel Ferreira, líder da equipe nestas conquistas. "Reativo, retranqueiro, limitado" são apenas alguns dos adjetivos comumente usados por seus críticos. Ainda que estas mesmas pessoas elogiem o elenco alviverde, optando por ignorar os números do ataque palmeirense. Ou justifiquem as vitórias pelos erros dos adversários ou até pela "relativa facilidade" da chave na Libertadores.

Expliquem-me: se o forte do Palmeiras é o coletivo (não há um Gabigol, um Arrascaeta, um Hulk), como pode o treinador não ter nada com isso? Como pode ser retranqueira a equipe com o melhor ataque da competição? Os caminhos fáceis são os com River e Santos, São Paulo, Galo ou River de novo? Não bate.

Abel não gosta de falar no Palmeiras de Abel, mas o Palmeiras de Abel conquistou a América depois de 21 anos pela segunda vez na história do clube, acabando com uma longa invencibilidade do River em casa, engoliu o Grêmio na final da Copa do Brasil, encerrou um tabu histórico com o São Paulo, entre outras coisas.

Ouvi ontem que o Crespo tinha sido "vítima" do rápido primeiro gol sofrido pelo tricolor, que depois não havia o que ele pudesse fazer com as limitações do banco. Só um segundo: um é vítima depois de uma goleada e o outro não convence nem ganhando quase tudo?

É tudo sorte então? Por que não dizer: não gosto desse Palmeiras. Acho feio. Não vou com a cara do Abel, muito nervosinho, me irrita. Pronto. Aí é opinião e todo mundo tem a sua, que bom. Menos os terraplanistas, porque aí não é opinião é cretinice mesmo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL