Topo

Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

FPF: não adianta profissionalizar a festa e esquecer da arbitragem

Lance do pênalti assinalado de Marcos Rocha, na partida entre São Paulo e Palmeiras - Reprodução/Youtube
Lance do pênalti assinalado de Marcos Rocha, na partida entre São Paulo e Palmeiras Imagem: Reprodução/Youtube

31/03/2022 11h05

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A noite de ontem começou com uma linda festa promovida pela Federação Paulista de Futebol e protagonizada pela torcida são-paulina. Luzes, cores, efeitos especiais para dar uma cara de importância a um torneio cada vez menos valorizado.

Isso é, em parte, reflexo de uma profissionalização bastante positiva promovida pela entidade. Agora, seguindo os modelos de FIFA e UEFA, todas as partidas contam com dois representantes oficiais, delegado de partida e gerente de operações, que garantem consistência e organização à entrega. Quem já trabalhou em grandes eventos sabe a relevância destas funções e o quanto elas impactam no resultado final do produto futebol.

É ótimo, de verdade.

O problema é que o produto futebol não é nada sem o que acontece dentro de campo. Sua credibilidade está intrinsecamente ligada à qualidade de quem opera dentro das quatro linhas. E a arbitragem brasileira, em geral, tem sido o permanente tiro no pé na edificação do esporte.

Não só porque permanece, literalmente, amadora, mas porque segue mal orientada e mal representada. Falham dentro e fora de campo. Embora o lance do Marcos Rocha não seja uma unanimidade (o que dizia mesmo Nelson Rodrigues sobre a unanimidade?), parece uma interpretação equivocada de uma regra já ruim. O que há de ampliação do braço de forma antinatural em um atleta que claramente está se protegendo de uma bolada no rosto, com ambos os braços colados ao corpo? Deveria remover os membros superiores na próxima oportunidade? E o lance no Gustavo Gómez?

Nada disso, vejam bem, visa sacar o mérito do São Paulo, que executou muitíssimo bem a estratégia de Rogério Ceni, infernizou a poderosa defesa alviverde e anulou os principais criadores adversários. Sustentou um nível de intensidade dificílimo, foco total no sufocamento do rival. Calleri e Igor Gomes sobraram. O tricolor venceu porque foi melhor. Já o Palmeiras teve uma de suas piores atuações da era Abel Ferreira. Não reconhecer isso é quase garantir o vice-campeonato paulista.

Nada disso, porém, muda o fato de que o Palmeiras era prejudicado pela arbitragem, enquanto Ana Paula Oliveira, presidente da comissão de arbitragem da FPF, assistia à partida no Morumbi em meio à torcida do São Paulo (vídeo que ela postou, orgulhosa, em seu Instagram). E que há assistentes se expondo nas mídias sociais, deixando claro para que time torcem. E que o VAR brasileiro segue oferecendo subsídios aos que o detestam e defendem seu fim imediato. Erros atrás de erros.

Nada disso, claro, quer dizer que a arbitragem aja de má-fé. Seria irresponsável questionar a idoneidade de pessoas comuns, que têm família, amigos, outros empregos. Meu ponto não é esse.

Meu ponto é: enquanto nossa arbitragem for ruim - e isso é quase uma unanimidade -, continuaremos estacionados na segunda divisão do futebol mundial. Enquanto não houver profissionalismo, literal e figurativo, festas bonitas como as de ontem seguirão ofuscadas não pela saudosa fumaça dos sinalizadores, mas pela incompetência de quem deveria colocar ordem no jogo. Há dinheiro para tal. Só parece faltar vontade.

PS: Pelas minhas contas (nunca confie totalmente nas contas de pessoas de Humanas), esta é minha coluna de número 100 no UOL. Quero deixar um beijo de agradecimento à equipe da casa, parceira e paciente, e um especial a todas e todos que me leem há quase um ano e meio. Obrigada por tudo e por tanto.