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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Paulo Sousa vai descobrindo o que é o Brasil

Paulo Sousa durante partida entre Flamengo e Fluminense - Thiago Ribeiro/AGIF
Paulo Sousa durante partida entre Flamengo e Fluminense Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

05/04/2022 13h55

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Não é inferno astral, mas parece. Flamengo foge de crise no Rio e chega a Lima para encontrar um toque de recolher que pode cancelar seu jogo e atrapalhar um calendário já conturbado, em meio a um turbilhão de conturbações.

Os jogadores não estão correndo o suficiente. O departamento médico não faz seu trabalho direito. Paulo Sousa não tem bom relacionamento com o elenco. Elenco não gosta do rodízio de Paulo Sousa. Paulo Sousa é incisivo demais. Paulo Sousa foi uma má contratação. Paulo Sousa não pediu certos jogadores. Problema é o Marcos Braz. Marcos Braz marca encontro com organizadas. Diretoria e comissão técnica não são próximas. Setores do clube divergem. Implementação de mudanças não caminha. Landim não está aparecendo no clube. Conselho está cobrando.

Sem vencer o Carioca, o próximo título possível fica sendo a Copa do Brasil, no longínquo 19 de outubro (a última rodada do Brasileirão acontece em 13 de novembro e a final da Libertadores, em 20 de novembro). Talvez algumas goleadas, resultados expressivos contra rivais fortes e uma campanha robusta na fase de grupos da Libertadores aplaquem os ânimos, mas não tem mais solução de tiro curto.

Não consigo parar de me perguntar o que deve passar pela cabeça de Paulo Sousa ao se ver banhado em crise no Brasil, jogando 8-10 partidas por mês, sofrendo uma pressão absurda, enquanto podia estar na Europa, pensando em como treinar o Lewandowski para enfrentar o Messi, na Copa do Mundo...

E não sei se ele estudou as condições de trabalho no Brasil. O nível de cobrança. A inexistência de paciência. O calendário.

Seus conterrâneos de maior sucesso por aqui, Abel Ferreira e Jorge Jesus, só puderam colecionar um caminhão de títulos porque mostraram resultado cedo. Sua genialidade só pôde vir à tona porque eles rapidamente garantiram crédito para sobreviver à temporada.

Paulo Sousa perdeu essa oportunidade na Supercopa (com direito à polêmica na decisão por pênaltis, com Gabigol) e, agora, no Carioca, sem oferecer resistência ao Fluminense, time teoricamente inferior.

A tal reunião de jogadores com torcidas organizadas, na quinta-feira, logo após o confronto na Libertadores (se ocorrer), é tudo que um time não precisa. Cansado de uma viagem longa, com estreia do Brasileiro no final de semana, em meio ao caos, precisar sentar para ouvir quem os estava xingando no domingo, no embarque para o Peru. Suave.

Parece absurdo o tamanho da crise, se lembrarmos do Flamengo histórico de 2019, também campeão brasileiro em 2020. Um ano sem títulos expressivos, um começo de temporada ruim e vai tudo pelo ralo? Bem-vindo ao Brasil, Paulo Sousa.