Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Aonde nos leva a zoeira (in)ofensiva do futebol
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Hoje, eu pretendia falar das estreias ruins de Corinthians e Santos na Libertadores e na Sul-Americana. Das dificuldades do Flamengo dentro e fora de campo. Da estreia dos favoritos Palmeiras e Galo. Da Seleção Brasileira feminina, que faz um amistoso amanhã e tem 13 das 23 convocadas atuando no Brasil.
Ou até, já que jabá está liberado, falar da minha estreia comentando na Live do Palmeiras, aqui no UOL Esporte, ao lado do Danilo Lavieri. Depois de todos os jogos do alviverde. Hoje, na sequência de de Deportivo Táchira x Palmeiras, lá pelas 23h.
Eu queria falar de um monte de outras coisas, de qualquer coisa. Mas vou falar de ódio.
O ódio que venho conhecendo no Twitter desde que critiquei a fala homofóbica do Danilo, depois do massacre palmeirense sobre o São Paulo. Que, aliás, desculpou-se, mostrando que craque erra, aprende, se redime e pode sair de um episódio como esse maior do que entrou.
E, para esclarecer o que muita gente parece não ter entendido, eu não acho que o Danilo seja homofóbico. Não o conheço para fazer tal acusação. Mas ele é ídolo, exemplo para muitos garotos, craque de um time gigante. Com isso, vem um enorme salário e uma enorme responsabilidade.
Para mim, o assunto Danilo está encerrado. Só que o ódio não para.
Piadas homofóbicas, assim como racistas e misóginas, são a base do iceberg que leva a crimes graves. Se a gente deixa passar porque é "zoação do futebol", deixa também a mensagem de que algumas pessoas não importam, são menores, menos dignas. Usar referências a LGBTs, mulheres e negros como "zoeira" cumpre exatamente esse papel. Aonde isso leva a gente já sabe.
Sobre a chuva de haters que já dura quase dois dias, nem vou me ater às mensagens de baixíssimo calão, xingamentos, ataques pessoais e dezenas de recomendações para que eu arrumasse uma louça para lavar (não falta aqui em casa, aliás).
O que mais me choca é a incapacidade das pessoas de demonstrar qualquer empatia com a dor alheia. É ver coletivos LGBTs explicando por que certos termos machucam e a galera respondendo: dane-se, vou falar mesmo assim. Ou usar o argumento de que o termo é muito difundido, agora vem querer dizer que está errado? Ou: não vi você criticar o erro X, como se atreve a comentar sobre o Y? Ou ainda o: mas o fulano foi racista, por que o outro não pode fazer piada? Como se um erro apagasse o outro.
É impossível comentar tudo que acontece de errado. Nem todos os jornalistas do mundo, trabalhando ao mesmo tempo, conseguiriam essa proeza. Algumas coisas a gente não vê, não tem tempo de postar, ou ferem em tal nível que a gente não consegue falar. Ou, talvez mais frequentemente, porque a gente não quer ser agredido todos os dias. Porque dói. Porque cansa (e mães são seres especialmente cansados). É mais fácil fugir da turba ensandecida e ficar falando amenidades.
O problema é que muitas mulheres, pessoas negras, LGBTs e de grupos historicamente marginalizados pela nossa sociedade não têm a opção de escapar da violência. São atacados apenas por serem.
Então, é responsabilidade de pessoas com plataforma, especialmente as brancas, cis, hétero, de classe média, saírem da toca e tomar porrada de vez em quando mesmo, para não deixar passar batido o que não é aceitável.
É isso. Vou ali tentar me animar para fazer o que realmente gosto: falar de futebol.
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