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Por quantos dias o Guardiola toleraria o futebol brasileiro?
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Vendo o Manchester City perder por 3-2 do Liverpool na semifinal da Copa da Inglaterra, com um mistão em campo, lembrei-me da reclamação do Pep Guardiola esta semana.
"Temos um problemão. Jogamos três dias atrás contra um Liverpool duríssimo, viajamos, chegamos aqui e temos uma série de lesões. Não sei o que vai acontecer nas próximas semanas."
Confesso que dei um leve sorriso ao ver sua declaração. Tá achando ruim, amigão? Jogando a cada três dias, com viagens de poucas horas? Com a maior e mais rica estrutura do mundo?
O City só perdeu uma partida das últimas 24 disputadas. Agora, duas em 25. O Liverpool, uma em 23. Ou seja, estão no topo do mundo. Disputando as maiores ligas do mundo.
E me veio à pergunta: por quantos dias o Guardiola (ou o Klopp, ou o Tuchel ou qualquer um dos grandes europeus) toleraria o futebol brasileiro?
E não falo só do calendário. Aliás, Abel Ferreira, cujo perfil no Instagram é bastante neutro (para não dizer insípido), com posts de horários de jogos e homenagens, não resistiu e postou a tal frase do Guardiola, com um emoji pensativo. Tirou uma ondinha.
Na hipótese mais extrema, o City disputaria uns 60 jogos nesta temporada. Em uma temporada insana, inconcebível, chegaria a quase 70 encontros. Sem diferenças absurdas de altitude, qualidade de gramado, temperatura, dias inteiros de deslocamento.
Apenas a título de exemplo, o Palmeiras disputou 91 partidas em 2021, garantindo a bizarra marca de time que mais atuou no ano. No mundo. Se contarmos os 365 dias entre 26 de novembro de 2020 e 26 de novembro de 2021, chegamos ao incrível número de 97 certames. Hoje mesmo, o alviverde inicia uma maratona de seis jogos, em três países, somando 17 dias fora de casa.
O que Guardiola acharia disso?
Sem contar a eterna pressão de demissão, no país em que treinadores dificilmente ultrapassam a marca de 30 ou 40 jogos pelo mesmo clube. Ou as ameaças de torcidas. A (má) qualidade da arbitragem. As reclamações. O calor. As discussões sobre torcida única. Etc. etc. etc.
Os técnicos que atuam no futebol brasileiro - ou, poderíamos dizer, sobrevivem ao futebol brasileiro - não estão no mesmo nível dos grandes mundiais. Claro. Mas eles também operam sob condições que, na Europa, seriam inaceitáveis. Incitariam motins. Protestos. Greves.
Se não hesitamos em criticar os nossos, que ao menos tenhamos a noção de reconhecer a zona que temos por aqui. E o quanto é difícil vencer por essas bandas.
(Se o Pep quiser vir treinar meu time, ou mesmo a Seleção, por favor, não contem nada disso ao homem. Vai que ele topa.)
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