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Para Atlético-MG, piada de bebedouro é pior que violência contra a mulher
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Um tuíte do colega Breiller Pires, ontem, acordou uma dor que diariamente tento apagar para habitar o universo do futebol.
A dor da irrelevância das mulheres.
Escreveu Breiller:
- Robinho, condenado por estupro: não vamos comentar.
- Cuca, condenado por violência sexual: não vamos comentar.
- Pavón, denunciado por violência sexual: não vamos comentar.
- Piada sobre novo reforço no perfil do Mineirão: vamos repudiar com uma nota oficial.
A piada em questão está ligada à contratação de Cristian Pavón, pelo Atlético-MG.
Em 2021, ainda no Boca Juniors, o argentino participou de uma briga no estádio mineiro, em que jogadores do Boca acabaram atirando um bebedouro contra os seguranças.
Na sequência do anúncio da chegada do atacante, o Mineirão tuitou: "Ai meus bebedouros", seguido de um emoji de pavão e uma carinha doida.
O Galo soltou, então, uma nota oficial de "indignação": "O perfil do estádio ultrapassou o limite do bom senso e faltou com o respeito ao jogador e à nossa instituição".
Coitado do jogador e da instituição.
Não importa que a violência tenha de fato ocorrido e rendido seis jogos de punição que impedem o atleta de disputar a Libertadores 2022.
E certamente não importam suas atitudes contra Gisela Marisol Doly.
Importam as "postagens ofensivas e desrespeitosas".
Gisela Marisol Doly acusou o atacante de, em novembro de 2019, trancá-la em um banheiro, forçá-la a fazer sexo e depois largá-la jogada no chão. Em março de 2021, ele foi denunciado pela justiça de Córdoba por "abuso sexual com acesso carnal". Ele nega. O caso ainda corre na Argentina.
Los Angeles Galaxy e Cruz Azul, que negociavam uma possível compra de seu passe, desistiram da contratação diante da acusação.
Mas não o Galo. Não o futebol brasileiro. Aqui, Cuca é ídolo. O mesmo Cuca que foi condenado por violência sexual contra uma menina de 13 anos. Aqui, Robinho só é execrado quando condenado em última instância, porque até a penúltima etapa, mesmo diante de provas, de áudios incriminadores e nojentos, até o juiz apitar o final do jogo, de alguma forma, ele ainda podia ser inocente.
Como deve ser Neymar no caso que levou a Nike a romper contrato com ele. Como deve ser Pavón.
Afinal, é sempre preferível duvidar da mulher. Ainda que uma de nós (incluindo bebês e meninas) seja estuprada a cada 7 minutos nesse país. Números oficiais de um crime profundamente subnotificado.
Deve ser tudo invenção da nossa cabeça. Melhor se ocupar de piada ruim no Twitter. Afinal, coitados dos bebedouros.
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