Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Cuca, de novo, e por que mulheres não importam
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Eu não ia escrever sobre Cuca. Não desta vez.
Por motivos de cansada de gritar ao vento, de ouvir os eternos "ah, mas já faz muito tempo", "ah, mas ele se diz inocente", "ah, mas ele é boa pessoa", "ah, mas é devoto de Nossa Senhora", ou qualquer outra versão que no fundo só significa: "não importa".
Não importa que ele tenha sido condenado (CONDENADO) por violência sexual contra uma criança de 13 anos. Não importa que ele e os outros criminosos nunca tenham voltado à Suíça para cumprir pena. Não importa que a vida dessa garota tenha sido prejudicada para sempre. Não importa.
Não importa porque as mulheres e as meninas pouco importam. Essa é a verdade.
Basta ver o quanto este caso incomoda jornalistas mulheres tão mais do que aos homens (é só ler/ouvir Milly Lacombe, Renata Mendonça, Ana Thaís Matos, entre outras). O quanto os colegas conseguem passar horas infinitas debatendo se Cuca é ou não uma boa contratação sem mencionar uma vez sequer o fato que deveria ter definido sua vida, sua carreira.
Mas não. O que define Cuca são os títulos, as vitórias, a competência profissional. Dane-se o que ele fez, afinal, coitado, era apenas um rapazote.
Da mesma forma que pouco parece incomodar o caso que levou a Nike a romper seu contrato zilionário com Neymar. Como se fosse mais plausível que a funcionária da empresa tivesse inventado que ele tentou forçá-la a fazer sexo oral. Como se fosse mais crível que a Nike gostasse de rasgar dinheiro. Ou, pior, como se tudo isso parecesse, sim, bastante provável, mas não importasse tanto quanto o futebol do menino Ney dentro de campo.
Pois não deveria haver campo para quem comete esse tipo de violência. Não deveria haver lugar de destaque, de idolatria, de fortuna, de mesa redonda, de premiações e fama para quem estupra ou tentar forçar uma mulher a algo que ela não quer. Tenta dominar nossos corpos por nos considerar tão desimportantes, tão pequenas, tão desprezíveis.
Pois não somos. E ficaremos aqui esbravejando até que alguém se importe. Até que nada disso seja admissível. Até que as pessoas expulsas deste espaço sejam eles, e não nós.
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