Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Nosso relacionamento tóxico com a arbitragem no futebol brasileiro
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Depois de um encontro entre a direção da arbitragem brasileira e os clubes, oferecido pela CBF, o que se viu ontem em Flamengo e Athletico-PR foi uma tragédia. Uma quarta de final de Copa do Brasil, valendo no mínimo 8 milhões de reais, rivalidade em campo, Maracanã lotado, horário nobre da televisão e? tragédia.
Lembrou-me aquelas últimas DRs de relacionamento em que a gente já não bota fé, mas sente que precisa dar uma chance. A pessoa pede desculpas, fala que vai mudar, fingimos que acreditamos e advinha? Nada muda. Porque não existe mágica. Porque seguimos sendo os mesmos se a única ação envolvida for boa vontade.
No tal encontro, o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Wilson Seneme, admitiu que "ocorreram erros absurdos" no primeiro turno do Campeonato Brasileiro. Sem falar também, e apenas como um exemplo, na falha gravíssima na partida entre Palmeiras e São Paulo, que acabou por eliminar o alviverde da Copa do Brasil. Seneme pediu desculpas a Leila Pereira, reconhecendo mais uma vez o erro no protocolo do VAR e prometendo melhorar a capacitação da arbitragem.
Uhum. Sei.
Não tenho dúvidas de que haja constrangimento na CBF e na Comissão diante de partidas como as de ontem. Listar apenas alguns dos equívocos mais graves da equipe formada pelo árbitro Luiz Flávio de Oliveira, os assistentes Marcelo Carvalho Van Gasse e Alex Ang Ribeiro, e o árbitro de vídeo Wagner Reway. O último, aliás, que já tivera uma atuação questionadíssima na partida entre Red Bull Bragantino e Botafogo, neste mesmo mês de julho.
Dois lances de cartão vermelho para o Flamengo (Gabigol e Arrascaeta) que mereciam, no mínimo, serem checados no VAR. Um pênalti claro de Fernandinho em Léo Pereira. Uma falta claríssima não marcada em Arrascaeta, na jogada que acabou com a justa expulsão de David Luiz.
E aí entra um ponto fundamental: o VAR é justo. Na medida em que erra para todos os lados. Enquanto equipes e torcidas insistirem que apenas o seu time é prejudicado, seguiremos chafurdando na lama do clubismo e da incompetência. Cada um focado no seu, ninguém se movimentando realmente para atacar um dos piores problemas do nosso futebol.
As falhas são tantas e tão graves, que vão além dos prejuízos causados dentro de campo. Elas levantam a suspeita de algo sinistro, mal intencionado, de sacanagem.
Não é possível que a CBF não consiga, com todos os seus recursos financeiros e os recursos técnicos disponíveis no mundo, treinar e, finalmente, profissionalizar aqueles que são os responsáveis por garantir - pasmem - a ordem do futebol brasileiro. Que não consiga mudar de fato, estudando, investindo, trocando gente, trazendo pessoas de fora.
Porque esse papinho de "estou tentando melhorar", "fazendo o meu melhor", "só preciso de mais tempo", isso aí todo mundo já ouviu um dia e sabe no que costuma dar.
Do jeito que está não dá. Já deu.
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