Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A narrativa perigosa - e ofensiva - de comparar Palmeiras e Abel a Jair
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Ontem, Menon usou a coluna vizinha para comparar Abel Ferreira e o Palmeiras a Jair Bolsonaro. Sim. Isso aconteceu.
Costumo guardar para mim as opiniões sobre textos com os quais discordo, afinal opinião cada um tem a sua e a minha ser diferente não torna errada a do colega - uma das grandes vantagens de vivermos sob uma democracia, aliás.
Mas há limites. Menon argumentou que Abel e o Palmeiras não deveriam reclamar somente da arbitragem contra o clube (que tem sido trágica), afinal o problema é generalizado. Que o problema inclui jogadores, versados na escola da simulação. Que o "Contra tudo e contra todos" é um desserviço à causa.
Até aí, tudo bem. Ainda que Abel já tenha falado inúmeras vezes sobre a arbitragem como um todo, ainda que critique até os próprios jogadores (e seja profundamente criticado por isso), ainda que o "Contra tudo e contra todos" seja uma estratégia de motivação da sua equipe, que é, no fim das contas, o que lhe cabe.
Como saímos deste argumento para comparar o português com "aquele candidato que, depois de ser eleito sete vezes pela urna eletrônica, agora, quando tem uma dura eleição pela frente, coloca o sistema em dúvida" é o que não consigo captar.
Igualar a estratégia deste presidente, com tudo que se sabe sobre ele, e o discurso de Abel Ferreira, endossado pelo Palmeiras, sobre a arbitragem. "Narrativa perigosa."
Colocar no mesmo balaio este presidente, com tudo que se sabe sobre ele, uma instituição inteira e um profissional que nunca deu qualquer indicação de ser uma pessoa ruim. Apenas por discordar da maneira como lidam com um sistema que apresenta, sim, problemas. Muitos. Problemas que o próprio Menon admite: árbitros, atletas, treinadores.
Imaginem se eu, aqui, por discordar do discurso de Menon, dissesse: o jornalista, como Jair, emprega uma narrativa perigosa. A narrativa de equiparar qualquer um com o qual ele discorda a este presidente, com tudo que se sabe sobre ele.
Duvido que lhe parecesse justo o paralelo. Porque não seria. Porque paralelos com este presidente, e tudo que se sabe sobre ele, devem ser reservados a poucos. Aos poucos capazes de fazer jus a essa analogia hedionda. Capazes de alcançar os feitos de Jair.
Felizmente, não é o caso de Abel Ferreira. Nem do Palmeiras. Nem de Menon. Nem da vasta maioria de nós, que segue valorizando e lutando pela nossa combalida democracia, apesar de tantas narrativas perigosas.
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