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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Áudio do VAR assusta e mostra que o atraso é ainda maior do que pensávamos

Imagem do VAR em gol do Inter contra o Fluminense, onde é marcado impedimento de Alemão - Reprodução TV
Imagem do VAR em gol do Inter contra o Fluminense, onde é marcado impedimento de Alemão Imagem: Reprodução TV

16/08/2022 17h57

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O áudio do VAR que analisa um possível impedimento de Alemão, na partida entre Internacional e Fluminense, é algo que deve ficar para a história da arbitragem brasileira.

Já falamos e escrevemos muito sobre o estado calamitoso do apito no país, das mudanças na estrutura que comanda o setor na CBF, nas justificativas e algumas geladeiras aplicadas na esteira de falhas que parecem não ter fim.

Mas como o que é ruim sempre pode piorar (Brasil, 2022), veio a gravação do momento bate-cabeça em que o árbitro de vídeo Adriano Milczvski e o assistente Luciano Roggenbaum discutem o posicionamento dos atletas na tentativa de definir o lance para o colega em campo.

"Ele está com os dois pés para trás, olha - avalia - aí a posição é legal, certo? Agora tem que ver se vai ter a possível... a um pega ele inteiro? Mas ó, ele está para trás. A inclinação do corpo não conta, certo?", pergunta o analista. "Sim... Não, a inclinação do corpo conta, se ele estiver. A inclinação do corpo conta", responde o auxiliar.

A confusão é geral. Sempre me chama atenção a gritaria, a balbúrdia, a dificuldade de entender o que está sendo dito e por quem.

Isso ficou claro no episódio das linhas não-traçadas do impedimento de Calleri, que culminou com a eliminação do Palmeiras da Copa do Brasil, e no lance em que Roger Guedes invade a cabine junto com Raphael Claus, apenas para citar alguns.

É preciso prestar enorme atenção para "pescar" as informações mais importantes. "Ajustado!" "Olha aí o cara aí dentro, Claus! Amarelo nele!"

Quem tem filho pequeno sabe como é: almoço em família, todo mundo falando em cima de todo mundo e a cria gritando mais alto. "Mamãaaae! Papaaaaai! Olha aqui em cima!" Qual a chance de alguma coisa dar errado?

O áudio do último domingo, porém, confirma uma suspeita gravíssima e anunciada: alguns árbitros desconhecem a regra. Alguns árbitros não sabem a diferença entre "protocolo" e "preciosismo".

Não vou nem discutir o fato de que Alemão claramente não leva vantagem no lance, que não estou sequer convencida de que os jogadores ocupavam o campo de ataque, ou o quanto o esforço para encontrar impedimentos milimétricos fere o espírito da regra.

Nem podemos chegar a esse nível, se os profissionais responsáveis não sabem qual é a regra. Sabendo que estão sendo gravados, em um áudio que em breve se tornará público, durante um clássico do campeonato nacional, conversam como se fora uma sessão de treinamento. Como é mesmo aquele item do regulamento? Ombro conta? Putz, esqueci.

Não tem cabimento. É vergonhoso. Urge uma reforma profunda da arbitragem, passando necessariamente por sua profissionalização. Nem que envolva especialistas estrangeiros, profissionais de algum lugar onde os comandantes do apito não sejam motivo de chacota.

Talvez haja outras maneiras de solucionar o problema, que claramente se estende à gestão: o protagonista do supracitado episódio vexaminoso foi escalado para trabalhar na partida entre América-MG e São Paulo, pelas quartas de final da Copa do Brasil.

Fica difícil manter a esperança. Que dirá o respeito.