Topo

Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O Brasil que quero tem bem mais de Anitta e Rony do que desses políticos

Anitta no VMA - Dia Dipasupil/Getty Images
Anitta no VMA Imagem: Dia Dipasupil/Getty Images

29/08/2022 13h42

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Quase sempre me arrependo de misturar política com futebol, mas o que é a vida senão uma sequência de arrependimentos, bons e ruins.

Independentemente do posicionamento político de cada um, é difícil imaginar alguém que tenha saído do debate de ontem entre os candidatos e candidatas à presidência com um sentimento de orgulho. Orgulho do país. Orgulho de quem nos representa.

Ao contrário, esses embates tendem a fazer brotar o que há de pior nas pessoas. É difícil esconder o que se é por muito tempo. Alguns não conseguem conter seus instintos nefastos nem por duas horas.

Enfim, ficou claro como o Brasil trata a pauta de gênero: mal. E como trata a de raça: não trata. Nenhum candidato ou candidata negra no palco, tampouco um ou uma colega jornalista para questionar os brancos, em sua maioria homens e ricos, que tentam assumir a cadeira mais poderosa da nação.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, Anitta se tornava a primeira brasileira a vencer um VMA, relevante prêmio de música oferecido pela MTV. Uma garota de Honório Gurgel, que fala inglês melhor que muito executivo e que conquistou o mundo sem medo do que o mundo pensaria dela. Sem medo de posicionar-se, de liderar. Mantendo sua essência a despeito de um escrutínio impiedoso.

Não precisa gostar dela nem da música. Precisa-se apenas reconhecer o tamanho de seus feitos.

Assim como os de Ronielson da Silva Barbosa. O homem que saiu de Magalhães Barata (PA) para marcar seu nome na história do melhor momento da história de um dos maiores clubes de futebol do país. Maior artilheiro da Libertadores pelo Palmeiras, um dos protagonistas de uma campanha fenomenal, literalmente amado por seu treinador, de um comprometimento que desafia a física.

Rony marcou, no sábado, seu segundo gol de bicicleta na temporada. Uma obra de arte. Alçou-se no ar a 14 metros da meta, em um movimento tão belo quanto difícil, e colocou seu nome na disputa pelo prêmio de gol mais bonito do ano, o Puskas (ou Puskas Que Pariu, como ficou conhecido por aqui).

Anitta e Rony são alguns dos nossos maiores talentos. Mas não recebem, a meu ver, o reconhecimento merecido, conquistado, devido. Podem chamar de militante feminista vitimista, como já fizeram no Twitter quando questionei as pautas de gênero e raça no debate. Mimizenta. Chata. Volta a falar só de futebol.

Podem reclamar. Porque a verdade passa inevitavelmente pelo que praticamente toda mulher e pessoa negra e indígena e LGBTQIA+ sente na pele todos os dias. A métrica é outra. Não basta ser boa, não basta ser o melhor, não basta baixar a cabeça e mostrar dedicação ímpar.

Nunca vai ser o suficiente. Vai ter sempre um homem branco recebendo mais destaque, reconhecimento e proteção. Achando-se preparado, inclusive, para ser presidente do Brasil.