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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Esperança, amor, orgulho e medo se misturam (e times de futebol também)

Projeto leva crianças cegas e que enxergam para brincar juntas na natureza - Ana Ferriani/Divulgação
Projeto leva crianças cegas e que enxergam para brincar juntas na natureza Imagem: Ana Ferriani/Divulgação

15/09/2022 18h51

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Hoje é aniversário do meu filho. Ele é, talvez não surpreendentemente, minha maior fonte de amor, orgulho e medo.

Amor é só isso mesmo, não dá para explicar. Não precisa. É arrebatador, profundo, gostoso.

Orgulho porque eu pari e estou criando junto com o pai dele uma criança muito feliz. O moleque é o entusiasmo em mini pessoa. Ele literalmente salta de felicidade ao descobrir que tem melancia em casa. Ou bolo. Ou suco de laranja.

Hoje de manhã, abrindo o presente, ele exclamou várias vezes: isso aqui é muito divertido, que legal, incrível! É contagiante. E não consigo nem colocar em palavras o que significou ter essa alegria contagiante dentro de casa todos os dias dos últimos sei lá quantos séculos de pandemia.

Orgulho também de ver a curiosidade e o carinho que ele espalha por onde passa. Adora abraçar, beijar, pergunta tudo. Não deixa passar um movimento. O que você tá fazendo aí, papai? Mamãe! Uma kombi ali na outra pista! Por que precisa cozinhar o macarrão? Por que você vai ver jogo agora? Por que hoje não tem escola? Olha ali, um fuscaaaaaa!

É impossível não sorrir do lado dele, juro para vocês. Mesmo nos piores dias, a gente deixa escapar uma gargalhada.

São infinitos os motivos de orgulho e o amor é tão imenso, que traz consigo aquele outro sentimento, tão inevitável quanto necessário. O medo.

Medo de acontecer alguma coisa com ele. Medo de faltar para ele. Medo de ser injusta. De apresentar a vida somente sob o meu viés. De expô-lo à maldade. De não fazer o suficiente para mudar o que, hoje, é um mundo profundamente desigual. Racista, machista, homofóbico, aporofóbico, onde faltam até termos para tantos preconceitos.

Tudo isso porque branca e classe média e cis e hétero. Um medo terrível e, mesmo assim, um medo privilegiado.

O medo, ah, o medo nunca vai embora. Até porque o Brasil de 2022 não nos ajuda a ter fé. A violência, a misoginia, tudo que há de pior encontra eco nos poderes mais altos, enchendo de coragem quem deveria voltar para o bueiro.

Mas tem dia em que a esperança caminha junto com o medo. Tem dia em que eu lembro de quantas mulheres foda eu tenho ao meu redor. Do quanto elas me ajudam, diariamente. Da força que elas emanam e da sociedade um pouco mais decente que eu sei que elas vão construir comigo.

As Millys, Bárbaras, Camilas, Fátimas, Valeuskas, Isadoras, Déboras, Virginias, Danielas e tantas outras que me inspiram e me dão a mão. Sei que elas vão inspirar o meu garoto também. E que ele vai crescer usando o seu privilégio para melhorar o nosso serviço.

Enfim, além do carro de polícia e dos diversos chocolates que ele pediu de aniversário, desejo poder dar a ele um lugar em que a mãe dele não seja exceção. Em que nenhuma das suas amigas sinta medo de sair de casa. Em que tudo que a gente vive hoje pareça história de ficção científica.

Parabéns, meu amorzão. Sua amorzinha te ama mais que tudo. E não esquece que a mamãe e o papai torcem para times de futebol diferentes, tá? Não importa. Mas importa um pouco.