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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O debate presidencial sob a lógica do futebol: o risco para os finalistas

Padre Kelmon (PTB) durante debate presidencial realizado pela Globo - Reprodução/TV Globo
Padre Kelmon (PTB) durante debate presidencial realizado pela Globo Imagem: Reprodução/TV Globo

30/09/2022 15h03

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Nunca entendi a lógica do sistema de debates brasileiro. Sobe todo mundo no palco, independentemente de importância e/ou chance de vencer o pleito.

Fez-me pensar no futebol: um campeonato no qual os finalistas fossem obrigados a disputar partidas sem nenhum valor contra o Z4, antes do grande jogo.

O risco de colocar quem não tem nada a perder para enfrentar os líderes é imenso. É o cara que recebe para tirar o craque do time de campo, que entra só para arrancar um cartão amarelo do melhor jogador adversário.

Até porque quem não tem nada a perder, neste caso, também não tem nada a oferecer.

Qual o sentido de dar palanque ao Padre Kelmon/Kelson/Kelvin/Candidato Padre? No máximo, ele vai causar tumulto e tirar ponto de alguém, mas no que ele agrega? Ou o Cabo Daciolo ou o Eymael? A Soraya "geradora de memes" Thronicke eu admito que agrega em conteúdo para as redes.

No limite, nem Ciro ou Tebet agregam muito na medida em que têm, juntos, zero chance de ganhar a eleição.

Usam o debate, a essa altura do campeonato, para falar com suas bases, aumentar o próprio capital político e tentar garantir um cargo no próximo governo.

No domingo tem final e os únicos candidatos com chance de conquistar o título, ou levar a disputa para uma segunda partida, perderam tempo rebatendo o pessoal do meio da tabela ou os rebaixados.

Não faria mais sentido gastar todo o tempo disponível para expor as ideias apenas dos dois postulantes ao cargo de presidente do Brasil?

Ah, mas aí a gente não ficaria sabendo o quanto a Simone Tebet é boa debatedora. Verdade. Posso até viver com a ideia de um quadrangular final, dando alguma exposição aos mais bem colocados. Ainda assim, estamos falando de 5% das intenções de voto. De dar o maior palanque do país para quem não vai implementar seu plano de governo.

Há pouco das eleições americanas que vale apreciar, afinal a maior democracia do mundo não dispõe de um pleito democrático. O sistema de colégios eleitorais significou em 2016, por exemplo, que Hillary Clinton perdesse (legitimamente) para Donald Trump, mesmo com quase três milhões de votos a mais.

Lá, porém, uma coisa funciona melhor: os principais debates só recebem os principais candidatos e candidatas. Na prática, democratas e republicanos. Dedicam o tempo nobre exclusivamente aos finalistas. Sem abrir espaço para quem apenas quer tumultuar. Sem dar palanque para maluco.

Pense no jogador mais desleal que você já viu na vida. E imagine ele entrando em campo contra o seu time titular, em uma partida amistosa, antes da final da Libertadores. Pra quê, né?