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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O poder sobrenatural que impede palmeirenses de celebrar o Brasileirão

Dudu, do Palmeiras, comemora com Rony seu gol contra o Avaí pelo Brasileirão - Alexandre Schneider/Getty Images
Dudu, do Palmeiras, comemora com Rony seu gol contra o Avaí pelo Brasileirão Imagem: Alexandre Schneider/Getty Images

24/10/2022 14h56

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É difícil explicar para torcedores em geral porque a torcida palmeirense ainda não está confiante. Ou mesmo comemorando o título. As caras de espanto quando falo sobre o assunto são engraçadíssimas.

Com a vitória sobre o Avaí, a equipe que perdeu apenas duas vezes no torneio abriu 10 pontos de vantagem sobre o Internacional, que ontem empatou com o Coritiba.

A apreensão antes da partida contra o penúltimo colocado do campeonato era palpável. Nas redes sociais, os comentários diziam: tenso, muito tenso, com o c* na mão, não aguento mais, meio a zero tá bom.

Como assim, você se pergunta? O que leva qualquer palmeirense a enxergar risco, com tamanha vantagem, dentro de casa, diante de um adversário tão mais frágil vindo de cinco derrotas seguidas?

Os mais pessimistas já faziam as contas: Palmeiras muito favorito, vai dar ruim. Aí a diferença cai para 5 pontos e o time perde de novo para o Athletico-PR — responsável pelas duas últimas derrotas do Alviverde. E tem confronto direto com o Inter na última rodada. Ainda dá tempo de dar tudo errado.

De onde vem tamanha desconfiança? De onde vem o medo da tragédia iminente, inesperada e vexatória? Sim, ela vem de 2009, dos rebaixamentos, dos momentos que calejaram o coração alviverde.

Mas ela parece vir também de um desejo que eu reconheço em alguns relacionamentos familiares. É aquela pessoa que você ama, mas sabe que vai te decepcionar. Você espera que ela te decepcione e, por alguma razão, sente um prazer quase masoquista quando suas suspeitas se confirmam. Não falei? Não te disse que não dava para contar com o fulano? Você pensa que ele mudou, mas a verdade sempre aparece!

Desde a chegada de Abel Ferreira, há dois anos, o Palmeiras amealhou duas Libertadores, uma Copa do Brasil, um Paulista e uma Recopa Sul-Americana. É líder do atual Brasileirão há mil rodadas (do qual foi campeão em 2016 e 2018) e chegou até a semifinal continental deste ano. É incessantemente citado como a maior força do futebol brasileiro, ao lado do Flamengo.

E, ainda assim, há quem não se renda. Há quem prefira sofrer esperando pela desgraça que não vem, do que curtir o momento de glória.

Um amigo me contava outro dia que já está preparando os filhos pequenos para a realidade. "Avisei que o Abel sairia e o time cairia. Discurso realista." Que as deusas não permitam aos pequenos crescer pensando que a vida é fácil assim.

A inspiração para o título desta coluna vem do Diego Ribeiro, que comentou no meu Twitter: "O medo é de um poder sobrenatural chamado parmerada... Em tese o Abel já aprisionou essa entidade maligna, mas nunca sabemos se ela pode escapar e aparecer um belo dia."

Dois anos do domínio da era Abel ainda não foram suficientes para dominar o medo desse espírito do mal.

Para a sorte da torcida, com ou sem ele, o Palmeiras será campeão brasileiro. Na quarta, talvez até no sábado (com o jogo atrasado entre Goiás x Corinthians), ou na semana que vem. Nem precisa de selo antizica.