Topo

Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Agência lesa torcedores, mas culpada pelo caos da Libertadores é a Conmebol

Torcedores do Flamengo enquadram funcionário da Outsider em aeroporto - Foto: Reprodução
Torcedores do Flamengo enquadram funcionário da Outsider em aeroporto Imagem: Foto: Reprodução

28/10/2022 13h47

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A Outsider Tours, agência parceira do Flamengo na venda de pacotes para a final no Equador, tornou-se o pesadelo de dezenas de torcedores rubro-negros. Depois de apenas quatro dias do anúncio do patrocínio, o clube deve rescindir o contrato com a operadora.

Desde ontem, o caos se instaurou no Galeão e já são inúmeros os tristes relatos de pessoas que não conseguirão embarcar para Guayaquil. Gente que vendeu carro, juntou economias, certamente se organizou para gastar um dinheiro que não deveria. Tudo para realizar um sonho.

Para realizar um sonho apesar da Conmebol. Que não contente em tirar das torcedoras e torcedores sul-americanos a possibilidade de disputar o título em casa, com mais autenticidade e acesso, resolveu tornar a ida à grande final uma corrida de obstáculos.

Primeiro obstáculo: tenha cerca de 15 mil reais para torrar em um final de semana (se for sozinho, claro). Segundo obstáculo: consiga folga do trabalho para viajar. Terceiro obstáculo: tenha a sorte de não ser o seu o voo cancelado. O voo que você achava que seria fretado, mas não era e a agência que te vendeu como se fosse sabia que dificilmente seria. Quarto obstáculo: consiga colocar seu nome na lista dos voos arranjados de última hora. Quinto obstáculo: consiga estar acordado para curtir a experiência, depois de horas de incerteza no aeroporto, voos longos pela madrugada, traslados e acesso ao estádio. Sexto obstáculo: voltar para casa, com ou sem título, com ou sem saúde mental e física.

A única coisa que não está difícil conseguir: ingresso. Mesmo com a distribuição gratuita de bilhetes, a Conmebol trabalha hoje, véspera da partida, com um provável público de 35 mil pessoas, em um estádio com capacidade para cerca de 60 mil.

Ressalto o que disse no início da semana: imagine tudo isso transplantado para a Arena da Baixada e o Maracanã. Ingressos esgotados em horas, milhões de ativações de patrocinadores, cidades tomadas em festas a semana toda.

Como dizem os jovens, flopou. E flopou com toques trágicos. Com cidadãos comuns, apaixonados, que estão nesse momento chorando no aeroporto pelo fim de um sonho.

A Outsider Tours é vilã nessa história, sem dúvida. Mas ela nem teria se tornado personagem da trama se não fosse pela Conmebol e a decisão previsivelmente errada de realizar seu maior evento do ano em um lugar sem grandes atrativos e de acesso dificílimo.

Não conheciam os desafios das distâncias geográficas, da malha aérea, da situação financeira do continente? Pensaram que era só fazer final única que viraríamos Europa?

Parabéns aos envolvidos por matar aquilo que o futebol sul-americano tem de melhor: a pulsão de amor e calor de quem vive por ele. E não vai chegar.