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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diário de um vascaíno: Como vai ser o nosso domingo?

Torcedores do Vasco comemoram gol sobre o Ituano em jogo da Série B - Diogo Reis/AGIF
Torcedores do Vasco comemoram gol sobre o Ituano em jogo da Série B Imagem: Diogo Reis/AGIF

06/11/2022 21h38

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POR RAFAEL DE SOUZA RODRIGUES

A pergunta me foi feita pela minha namorada ainda na noite de sábado. Ela, que pouco entende de futebol, tampouco de Vasco da Gama, não teria a perfeita noção do que essa pergunta significava.

Enquanto ela me encarava, os olhos fixos e firmes, esperando ansiosamente uma resposta, eu pensava: "como vai ser minha vida depois de domingo?".

Tentei, ao máximo, explicar para ela que não conseguiria pensar em mais nada que não fosse o futuro do Vasco. Não o jogo, mas sim todo o próximo ano, década, talvez século, do clube para o qual fui moldado a torcer desde o berço.

O sentimento de "tudo ou nada" me manteve acordado durante toda a madrugada. Alguns minutos de sono, vários me revirando na cama. Até que não aguentei mais e fui para a varanda acompanhar o nascer do sol, único afago que me restava naquele surto de ansiedade.

Da sacada, podia ver a casa do meu cunhado. Ele, torcedor fanático do meu maior rival, provavelmente teve uma noite esplêndida. As paredes exalavam calmaria e paz. Sensações que, há alguns dias, desde a derrota para o Sampaio, em pleno São Januário, eu não sonhava experimentar.

Tentei me manter ocupado o máximo possível, buscando distrações em todos os cantos para não pensar no jogo das 18h30. Café da manhã, banho, louça, cortar temperos para o almoço, tirar carne do congelador, botar música...a cada tarefa realizada, vinha o depressivo momento de olhar para o relógio e perceber que não havia passado nem metade do tempo que eu esperava.

Para ser justo, meu cunhado foi, ironicamente, o grande responsável pela distração que mais me acalentou, que foi quando me pediu para ficar algumas horas com seu filho, uma criança elétrica e animada de 2 anos.

Os pouco mais de 90 minutos com o Valentim foram a salvação do meu dia. E, quando me dei conta, já eram, enfim, 18h.

Cerveja posta no freezer, amendoim no pote, todos os símbolos religiosos dispostos ao redor da sala. Tudo em ordem para assistir ao jogo cercado de rivais. Meu cunhado fez questão de ver comigo, sem fazer cerimônias e tentar esconder que estaria torcendo para o, como ele mesmo disse, "amigo vermelho e preto".

Jogo começou, não deu nem tempo de pensar em quantos remédios eu iria tomar. Com 2 minutos, o melhor roteiro que nenhum vascaíno pensou em escrever começou a se desenhar. Um pênalti, jogador adversário expulso, gol. Tudo para trazer a paz aos cruzmaltinos.

Óbvio, o Vasco não ia deixar assim. Ele nunca deixa. E o melhor time do Brasileirão no returno também não ia soltar a peteca tão facilmente.

O restante do primeiro tempo foi basicamente de paradas cardíacas. Ituano aqui, Ituano ali, e quase nada de Vasco. O melhor momento nosso, para coroar o que aconteceu em boa parte da temporada, foi a defesa fantástica do Thiago. Questionado em boa parte do segundo turno, ele mostrou, de novo, por qual razão é o Batman da Colina.

Enfim, veio o intervalo. Reposição de cerveja, amendoim, Valentim. Agora ele também estava com a gente, sem entender nada do que acontecia ao seu redor, apenas brincando com o que aparecesse em sua frente.

Segundo tempo, parece que nada mudou. Pressão, pressão, pressão. Estou falando do Ituano ou da minha subindo? Talvez das duas, você pode interpretar como melhor lhe convir.

E, repetindo o roteiro do primeiro tempo (sendo justo, de todo o primeiro turno do campeonato também), Thiago Rodrigues salvou o Gigante. Duas defesas para lá de inexplicáveis, para nos colocar de volta ao lugar de onde, alerta de clichê, nunca deveríamos ter saído. E, se alguma divindade de qualquer credo quiser, jamais sairemos novamente.

Os 7 minutos de acréscimos nem me assustaram. Já estava agarrado na minha cerveja, fiel companheira de todas as tristezas, comemorações e qualquer outro tipo de momento com relação ao Vasco. E acabou.

O jogo? Não, isso seria pouco. A Série B? Tisc, também risível.

Acabou o desgosto. Acabou o sofrimento. Acabou a felicidade de lotar estádio, ganhar jogos e ser calado pela lembrança de estar num campeonato que não nos pertence. E, quem sabe, acabou a satisfação de terminar campeonatos de primeira divisão apenas sobrevivendo e não sendo rebaixado.

Então, meu amor, minha Aline, se você novamente me perguntar o que vai ser do nosso domingo, te responderei, agora com mais certeza.

Será alegria. Será felicidade. Será esperança. Será amor.

Será Vasco.