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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

No dia da Consciência Negra, a excelência negra na abertura da Copa

Seleção do Equador comemora gol de Valencia contra o Qatar, na partida de abertura da Copa do Mundo de 2022 - Hector Vivas/Getty
Seleção do Equador comemora gol de Valencia contra o Qatar, na partida de abertura da Copa do Mundo de 2022 Imagem: Hector Vivas/Getty

20/11/2022 15h31

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A Copa começou. Depois de 4 anos e dois séculos, finalmente chegou o dia da abertura.

Uma festa bonita, até acima do que costumamos ver em eventos de futebol, graças, é claro, a um orçamento praticamente ilimitado.

Mas o que todo mundo quer ver não é bandeirinha, show, música, pirotecnia. É futebol.

Nesse quesito, o sorteio não ajudou tanto: Qatar (o país sede abre o Mundial desde 2006) x Equador. Poderia ter sido contra a Holanda ou Senegal, mas quis a bolinha que fosse contra os nossos vizinhos de continente.

Não consegui evitar pensar no simbolismo de ver duas Seleções negras em campo, abrindo o maior espetáculo do maior esporte do mundo, justamente no nosso tão necessário Dia da Consciência Negra.

Duas Seleções negras comandadas por brancos, afinal a realidade ainda é triste e a luta, árdua.

Ainda assim, duas Seleções negras. Com uma vitória tranquila dos sul-americanos, apesar do VAR. Os dois que valeram e o anulado todos marcados por Enner Valencia, do Fenerbahçe, que se tornou o maior artilheiro de seu país em Copas. Uma superioridade técnica e tática, diga-se. Não física.

O Equador dificilmente irá longe. Assim como parece não ir longe a tão necessária consciência evocada pelo 20 de novembro. Neste dia, porém, fica a celebração da excelência roubada, da excelência contra a qual são colocados todos os obstáculos e, apesar de tudo, segue sendo excelência.

Para quem encontrar tempo entre as próximos 63 partidas, recomendo fortemente o maravilhoso podcast do Projeto Querino, que conta a história do Brasil de um ponto de vista afrocentrado. O único ponto de vista possível, aliás, bem como o dos povos originários. Aquele que chama a chegada dos portugueses de Invasão, não de Descoberta. Que mostra que não há qualquer sucesso no Brasil (e na América) sem a participação de mãos, mentes e - por que não - pés negros.

É muito fácil esquecer de tudo que importa no minuto em que a Copa do Mundo começa. Usá-la como ferramenta de alienação. Uma belíssima e riquíssima cortina de fumaça. Mas não precisa ser assim. Mesmo na nação tão controversa no que diz respeito aos direitos humanos, às mulheres, à população LGBTQIA+, aos imigrantes. Mesmo lá, mesmo no Qatar, ela pode tornar-se, também, instrumento de conscientização, educação e, oremos, mudança. Resta alguma fé.

Boa Copa pra gente!