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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Trio de arbitragem feminino na Copa é marco histórico e alerta preocupante

Neuza Back (à esquerda) e Stéphanie Frappart (ao centro) foram escaladas para comandar Costa Rica x Alemanha - Wolfgang Rattay/Reuters
Neuza Back (à esquerda) e Stéphanie Frappart (ao centro) foram escaladas para comandar Costa Rica x Alemanha Imagem: Wolfgang Rattay/Reuters

01/12/2022 16h23

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Três mulheres escreveram hoje um capítulo marcante na história da Copa do Mundo.

A francesa Stéphanie Frappart liderou, com a mexicana Karen Diaz Medina e a brasileira Neuza Back, o primeiro trio de arbitragem feminino de uma partida do Mundial masculino, no confronto entre Costa Rica e Alemanha.

A primeira edição do evento aconteceu no longínquo ano de 1930. Levamos quase cem anos para chegar até aqui. Assim como precisamos esperar até 2022 para ouvir mulheres narrando e comentando na TV.

No menos longínquo ano de 2020, em uma das minhas primeiras colunas aqui no UOL, intitulada Cadê as mina?, falei de Frappart, que acabara de se tornar a primeira mulher a apitar um jogo masculino de Champions League. "O evento foi celebrado como um avanço. A minha vontade, porém, é gritar de revolta. Que, em 2020, seja inédito uma mulher ocupar praticamente qualquer posição é simplesmente ridículo. Ultrajante."

Dois anos se passaram e o avanço segue lento. Temos mulheres na narração, nas opiniões, nas reportagens, no apito. Somos, entretanto, a vasta minoria. Uma presença tão real quanto rara. Quanto mais se sobe na escala hierárquica ou de destaque, menos existimos, mais rarefeito e sufocante se torna o ar. Não é aceitável.

O progresso existe e devemos celebrá-lo, claro. Frappart, Diaz Medina e a nossa Back são pioneiras a quem aplaudiremos para sempre. Assim como as Anas Thaís, Renatas, Natálias, Karines, Bárbaras, Déboras, Caróis, Tamires, Cristianes, Domitilas, Janettes, Fernandas, Millys, Amaras, Luanas, Alês e tantas outras que nos representam.

Só não podemos tomar qualquer avanço como avanço suficiente. Não podemos correr o risco de deixar que o discurso do progresso lance uma nuvem de fumaça sobre a realidade. A realidade ainda profundamente branca e masculina desse universo.

Ao mesmo tempo em que saúdo Stéphanie, Karen e Neuza de pé, faço questão de pedir para que notem o quanto é absurdo termos demorado um século para ocupar tais espaços.

Porque a gente nota. A gente sente na pele todos os dias o peso desses ineditismos.