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Autópsia da decepção: Brasil precisa rever seu lugar no panteão das Copas?
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Sempre que o Brasil começa uma campanha em Copas do Mundo, ela é a campanha do título: do tetra, do penta, do hexa.
Não falamos em fazer uma boa campanha. Falamos em título. Em sermos campeões, mais uma vez.
Ontem, um grande amigo que mora nos Estados Unidos assistiu à transmissão da classificação dos hermanos com comentário argentino. Ao final, eles celebravam o fato de que a Albiceleste estava garantida entre as quatro melhores seleções de 2022.
A gente não comemora top 4. A gente não almeja semifinal. A gente só almejava o hexa.
As pessoas na faixa dos 35-40 anos começaram a torcer vendo o Brasil chegar a três finais seguidas. Eu tinha 23 anos quando vi a Amarelinha ser eliminada da Copa pela primeira vez, em 2006.
Não sabia o que fazer. Como assim acabou para a gente e a Copa segue?
Seria arrogância? Falta de noção? De autoconhecimento?
O maior problema da nossa soberba talvez seja justamente o seu grau de espalhamento. Ela está em toda a parte. É alimentada por cidadãs e cidadãos comuns, pela imprensa, a CBF, os jogadores.
Ela vem de todas e todos nós. De todos nós que acreditamos no hexa como se ele nos fosse devido. Como alguns que supuseram antes do apito inicial de ontem que atropelaríamos a Croácia, atual vice-campeã mundial.
Ah, mas nós somos o único país pentacampeão, o único a disputar todas as Copas. Sim, e somos também o país que não vê uma final desde esse pentacampeonato, há 20 anos. Que, à exceção do quarto lugar na nossa própria casa, com toques de humilhação, com a mácula do 7 a 1, não passamos das quartas há 20 anos.
Ah, mas é para começar achando que vai perder? Não. A autoconfiança não é chave para a vitória? Sim.
Mas no esporte, ao contrário dos muitos desafios profissionais que enfrentamos diariamente, há um adversário do outro lado que depende da sua derrota para conquistar o próprio objetivo. Subestimar a capacidade desse opositor é o primeiro passo rumo ao fracasso.
Precisamos, então, rever nosso lugar no panteão do futebol mundial? Ficamos menores? Os outros cresceram enquanto nos lambuzávamos no nosso sucesso? Sim.
Lá em 1994, quando voltamos a vencer e conquistamos o agora longíquo tetra, havia duas nações a menos nesse panteão de quem considerávamos estar à nossa altura: França, hoje bi, e Espanha.
A Croácia nem sequer havia sido reconhecida internacionalmente como país, depois da dissolução da Iugoslávia. Na sua primeira participação em Copas, em 1998, ficou em terceiro lugar. Em 2018, foi finalista.
Somos uma das grandes forças do futebol mundial, claro. Talvez sejamos para sempre. Mas não estamos sós no topo.
Se Drummond fosse escrever sobre ontem, tenho a audácia de imaginar se traçaria:
No meio do caminho tinha uma Croácia.
Tinha uma Croácia no meio do caminho.
Ou?
No meio do caminho tinha uma soberba.
Tinha uma soberba no meio do caminho.
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