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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diversidade no governo e na mídia esportiva: incomodar para não acomodar

Lula anunciou novo bloco de ministros de sua futura equipe nesta quinta-feira (22) - Eduardo Militão/UOL
Lula anunciou novo bloco de ministros de sua futura equipe nesta quinta-feira (22) Imagem: Eduardo Militão/UOL

22/12/2022 17h30

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Toda nomeação do governo Lula carrega consigo uma análise que vai para além da competência das pessoas escolhidas. Ela passa, necessariamente, por um crivo de diversidade.

A chamada aqui do UOL relativa ao anúncio de mais 16 nomes ressalta que serão seis as ministras. Saiu a lista. Legal: quantas mulheres e quantas pessoas negras? E indígenas? (PCDs e LGBTs confesso que não vi tanta gente cobrando.)

É o mínimo. Até porque, mesmo com a atenção da imprensa e de parte do público, estamos no momento com seis entre 21. Faltam 13, mas parece remota a possibilidade de alcançarmos paridade logo de cara. Precisamos acessar as raízes desse problema — que sabemos não ser falta de talento ou capacidade — para eliminá-lo o quanto antes.

Mas o que isso tem a ver com esporte, querida? Isso me fez pensar na cobertura da Copa do Mundo, que critiquei durante o próprio evento.

O risco de celebrar as nossas chegadas importantíssimas como um progresso tão grande que represente progresso suficiente. Só porque está melhor do que quando era péssimo, não quer dizer que esteja bom.

Uma meia dúzia de comentaristas e narradoras mulheres, algumas repórteres, quase todas brancas, quase todas sofrendo assédio diário no Qatar: isso não é suficiente.

Ah, mas nada tá bom pra vocês. Comemorem as pequenas vitórias.

Vejam bem, sou grande adepta da celebração de cada pequena conquista -- até por elas serem mais numerosas que as monumentais.

E não me entendam mal: ter Anielle Franco, Margareth Menezes, Nísia Trindade, Luciana Santos, Cida Gonçalves, Esther Dweck, Silvio Almeida é monumental.

Trago apenas a reflexão de que nossa inquietude é a força motriz dessas mudanças. Se a gente para de se indignar com qualquer coisa que não seja a paridade, a gente para antes que ela possa se tornar realidade.

O incômodo não é cômodo. Mas quem não se incomoda se acomoda. E a gente está muito lascada para se permitir estar acomodada.

(Aí, enquanto eu escrevia a coluna, começaram a chegar vídeos de Margareth Menezes cantando "Faraó" em um restaurante baiano aqui de Brasília, a plenos pulmões, em pleno almoço de quinta-feira! Como não acreditar que tudo vai dar certo?)